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The Fellowship of the Ring

Decorria o ano de 2002 quando o filme deste livro estreou num dos canais que na altura se chamavam TeleCine ou algo assim (tiveram esse nome nalgum ponto, certo? Não estou a delirar?) e que eu na altura tinha. Na altura, tinha também uma infecção de streptococcus complicada e febres altíssimas. Daí que adormeci a ver o filme e desde então não vi os filmes da saga.


O facto de nunca ter visto os filmes levou a que todo o meu conhecimento da saga até recentemente fosse:

Sempre gostei desta música

Até que finalmente vi os filmes, com aquele que é a pessoa mais importante da minha vida, e fiquei curiosa com a história e com a construção deste mundo, algo que me levou a comprar os livros.

Esta é a história de Frodo Baggins, sobrinho de Bilbo e adoptado e escolhido por este para ser o seu herdeiro. Após o 111º aniversário de Bilbo, este decide partir em busca de mais aventuras longe do Shire, e encontrar um lugar calmo onde possa acabar de escrever o seu livro sobre as suas aventuras.

Bilbo deixa a Frodo quase todas as suas posses, fazendo algumas ofertas irónicas a outros hobbits, mas o mais importante é que lhe deixa o anel que encontrara anos antes, aquando das suas aventuras com os anões:

Three Rings for the Elven-kings under the sky,
Seven for the Dwarf-lords in their halls of stone,
Nine for Mortal Men doomed to die,
One for the Dark Lord on his dark throne
In the Land of Mordor where the Shadows lie.
One Ring to rule them all, One Ring to find them,
One Ring to bring them all and in the darkness bind them
In the Land of Mordor where the Shadows lie.

Frodo não faz ideia do que o espera - e fica uns trinta anos à espera do momento em que tem de fazer alguma coisa. Frodo parte do Shire, acompanhado de Sam, Merry e Pippin, e leva o anel até Rivendell, terra de Elfos, onde chega após várias aventuras, numa missão que começa inocentemente mas que se torna rapidamente em algo muito maior e muito mais sombrio do que os seus protagonistas poderiam imaginar, vindos de um lugar calmo e pacífico como o Shire. A inocência deles quanto àquilo que têm em sua posse é quase enternecedora.

“I wish it need not have happened in my time," said Frodo.
"So do I," said Gandalf, "and so do all who live to see such times. But that is not for them to decide. All we have to decide is what to do with the time that is given us.” 

Uma primeira crítica: tal como no Hobbit, há demasiada cantoria neste livro. Muitas vezes dei por mim a saltar as músicas, embora fossem reveladoras das características das raças que as cantavam, ou da história da Middle Earth, e muitas vezes dei por mim a pensar para mim mesma "parem de cantar e façam alguma coisa!". Estou na esperança de que haja menos música nos próximos livros, mas tendo em conta que existe todo um musical baseado na obra, talvez seja uma esperança vã. Talvez dê com o Sam e o Frodo a cantar alegremente em Mordor. Irei descobrir.

Posto isto, gostei desta espécie de música:

All that is gold does not glitter,
Not all those who wander are lost;
The old that is strong does not wither,
Deep roots are not reached by the frost.
From the ashes a fire shall be woken,
A light from the shadows shall spring;
Renewed shall be blade that was broken,
The crownless again shall be king.

Mas isso é capaz de ser porque gosto do Aragorn.

A prosa do Tolkien é muito bonita, e dá para ver como é obcecado com a linguagem que usa. O Tolkien desenvolveu várias línguas ao longo da sua obra, e consta que todas elas podem ser aprendidas e utilizadas. Criou mitos e lendas e histórias e relações e amizades e inimizades para várias raças, num detalhe incrível tendo em conta a dimensão da obra. E no meio disto a viagem de Frodo parece quase secundária quando comparada com a criação da Middle Earth, com a sua história recheada de raças e eventos e batalhas.

E as paisagens, o mundo físico, são também ricamente descritos. O livro é quase um sítio que se pode visitar.

Mas voltando à história do livro em si: tal como o The Hobbit, a viagem de um herói de fracas ou medianas capacidades, com uma missão que lhe é de certa forma imposta por Gandalf, forçado a sair de casa, do seu conforto, e entrar num mundo muito maior do que aquele que conhecia e imaginava, passando por vários testes e lições.

Após alguns encontros com os nove Nazgûl e com o Tom Bombadil (que é a personagem mais bizarra que alguma vez li, mas usa botas amarelas, portanto há isso) e uma série de desencontros com o Gandalf, os quatro hobbits conhecem o Strider, Aragorn, que os leva efectivamente a Rivendell, onde vive a sua amada Arwen, filha de Elrond. Elrond convoca um conselho, onde é decidido o destino que Frodo deve dar ao anel: e que a fellowship of the ring deve ser composta por nove, tantos como os Nazgûl.

Imaginem um grupo de quatro baixinhos cinquentões, um octagenário, um anão de uns 150 anos, dois tipos cuja idade é totalmente desconhecida mas centenária ou mesmo milenar, e um quarentão, É essa a companhia do anel.

Certo?

São esses os heróis do livro, muitos deles, tal como Bilbo, heróis improváveis.

Gosto do conflito do Boromir, que desde o início (ou vá, desde que aparece, que é no tal conselho convocado pelo Elrond) demonstra interesse em usar o anel "para o bem", em não o destruir. Gosto da descrição da história do Gollum, a outra personagem em conflito, logo no início do livro. E gosto do que o Gandalf teve a dizer sobre a opinião do Frodo acerca do Gollum:

Many that live deserve death. And some that die deserve life. Can you give it to them? Then do not be too eager to deal out death in judgment. For even the very wise cannot see all ends.

Na verdade, a maioria das personagens é de alguma forma interessante. São explorados temas universais da condição humana, como a amizade, a lealdade, a coragem, a ganância, entre outros. Mas não é um livro sem falhas; este livro em particular não tem muita acção, sendo maioritariamente composto por pessoas a andar descritivamente quilómetros e mais quilómetros pela Middle Earth fora, com pressa na sua missão mas sempre com tempo para comer. Há batalhas de cerca de duas páginas. Há muito preto-e-branco moral. Há várias personagens passageiras e com nomes quase idênticos.

Mas há o final em que o Sam quase se afoga para ir com o Frodo, e o facto de que todos temos, eventualmente, de sair da zona de conforto.

"But it does not seem that I can trust anyone," said Frodo.
Sam looked at him unhappily. "It all depends on what you want," put in Merry. "You can trust us to stick with you through thick and thin - to the bitter end. And you can trust us to keep any secret of yours - closer than you keep it yourself. But you cannot trust us to let you face trouble alone, and go off without a word. We are your friends, Frodo."

4/5

Podem comprar esta edição aqui, a boxset que eu tenho com Hobbit + LOTR aqui, ou em português aqui.

Comentários

  1. Cantorias a mais, sim. Cada vez que passava por uma lembrava-me de ti!
    Eu sempre adorei os filmes, já os vi inúmeras vezes mas só agora com o Hobbit é que me deu curiosidade de ir ler os livros. Sempre me pareceu que os filmes aguentam-se maraviljosamente sozinhos, e que não havia necessidade ir para a leitura. Por isso mesmo estou assomnrada com a quantidade de detalhe e de peripécias, terras e personagens que o livro tem a mais do que o filme...
    Em relação às batalhas que duram duas páginas, eu vejo isso como um ponto forte em vez de uma desvantagem: as batalhas entediam-me, até nos filmes. E gosto mesmo muito que as personagens como o Gimli, o Legolas ou os hobbits tenham mais desenvolvimento do que nos filmes. Faz-me apreciar muito mais a história.
    Por fim, a única crítica que tenho a fazer é as personagens femininas: mas será que cada mulher que aparece nos livros tem que ser incrivelmente distante e majestosa e inalcançável, quase deusa? Irrita-me um bocado essa unidimensionalidade.

    PS: E é impressão minha ou a Arwen é filha da Galadriel? Temo ter entendido mal mas não quero ir googlar enquanto leio os livros, é batota.

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    Respostas
    1. Sim, gosto muito do desenvolvimento das personagens no livro!
      A Arwen é neta da Galadriel, segundo percebi na parte em que a Galadriel dá a jóia ao Aragorn... mas também fiquei um bocado confusa :x
      Também me irrita isso das personagens femininas, mas estou no segundo livro e já apareceu a Éowyn e gostei dela no filme e tenho esperança que seja uma boa personagem nos livros também!
      (e até agora o segundo livro tem muito menos de musical, vá lá!)

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