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A mostrar mensagens de 2016

My Cousin Rachel

Deixo desde já claro que considerei muito melhor que o Rebecca , da mesma autora. Peguei neste livro por estar com imensa vontade de ler algo mais de Daphne du Maurier; tendo adquirido uma série de livros da autora pelo Awesome Books, tinha muita escolha, mas optei por este. Enquanto Rebecca  é mais sinistro, gostei mais do My Cousin Rachel . Talvez porque, apesar de o personagem principal ser incrivelmente naïve , não dizia um simples " I'm so glad " a cada três frases. They used to hang men at Four Turnings in the old days. Not any more, though. O primeiro capítulo começa com estas palavras e, aqui, o protagonista, Philip Ashley, enquadra a história com um relato de quando era criança e passeava com o seu primo rico Ambrose, que o tinha adoptado quando Philip, ainda criança, ficou órfão, e viram um homem enforcado por ter assassinado a sua esposa. De forma amarga, Philip coloca misteriosamente a questão sobre a culpa ou inocência de Rachel - respondendo

Secret Santa

Quando a prenda do amigo secreto (neste caso amiga) no trabalho é o seu livro preferido - um livro sobre o qual se tem interesse há anos. Prometo review atrasada para breve.

Let's Bottle Bohemia

Porque livros são souvenirs válidos. Fui à terra do Kafka com a intenção de comprar um livro do Kafka, ou do Kundera (ou ainda o The Good Soldier Švejk ). Saí de lá com um livro do Kafka - o Amerika , comprado na livraria da  Univerzita Karlova . Univerzita Karlova e cara de parva Na The Globe  comprei o  The Notebook of Malte Laurids Brigge , do Rainer Maria Rilke, que não sabia ser checo; estava na prateleira dos autores checos e, descobri, nasceu em Praga. Na verdade, esta viagem realçou um pouco o meu desconhecimento sobre a história de grande parte da Europa. Sabia que a nacionalidade de vários autores é disputada devido a territorialismos históricos, e sabia dos vários conflitos disputados nesta região, mas não sabia que Rainer Maria Rilke, que é considerado austríaco, nasceu em Praga, na Boémia, território do Império Austro-Húngaro. Aliás, é interessante notar que Rilke, apenas sete anos mais velho que Kafka, não é considerado checo, quando este o é -

Ignorance

Ler Kundera antes de ir à República Checa. O terceiro livro que leio do autor, Ignorance  é uma breve reflexão nos seus temas habituais: relações interpessoais e amor, num clima fortemente politizado. Possivelmente a leitura perfeita dias antes de ir a Praga: vemos aqui como o povo checo lidou com a Primavera de Praga , a invasão russa, e como é voltar, 20 anos mais tarde, a um país onde se sente que as suas vidas passadas não existem mais. Temos a ideia base de "nostalgia", e as histórias de dois emigrantes, Irena e Josef, que regressam à sua terra natal quando o regime que os levara a sair 20 anos antes colapsa, entrelaçadas com a Odisseia, de Homero. Também Odisseus (ou Ulisses) regressa a Ítaca, onde supostamente pertence, vinte anos depois; mas, ao regressar, a sua vida passada à deriva será relevante? Como deve ele conciliar as suas duas vivências? For twenty years he had thought about nothing but his return. But once he was back, he was amazed to realize th

Black Beauty

A primeira de duas reviews extremamente atrasadas. Black Beauty  é um clássico infantil no qual se baseiam filmes que nunca vi. Deparamo-nos aqui com a história de um cavalo, relatada na primeira pessoa pelo próprio Black Beauty: a autora, Anna Sewell, escreveu esta obra para ilustrar o abuso sofrido pelos cavalos, e o sofrimento é visível não só em vários momentos da vida "profissional" de Black Beauty, mas também dos cavalos com quem ele se cruza.  Acompanhamos Black Beauty desde os seus tempos de poldro feliz com a sua mãe até à velhice, passando pelo seu crescimento numa sociedade Vitoriana onde os cavalos eram meio de transporte em si só ou, alternativamente, puxavam carroças com humanos ou com mercadoria - uma sociedade onde havia cavalos a passear livremente nas ruas de Londres - tendo total acesso às percepções equinas das várias mudanças na sua vida. O facto de se direccionar para um público mais jovem faz com que a história tenha uma narrativa mais direc

From Pieces to Weight: Once Upon a Time in Southside Queens

Enriquecer, ou morrer a tentar. Esta é possivelmente a review  mais chocante e/ou mais aguardada deste blog . Ou nenhum dos dois, mas adiante. Algumas ideias gerais da minha opinião e conhecimento sobre o 50 Cent antes da leitura deste livro: 1. Em 2006 disse de passagem na escola que ia ao Super Bock Super Rock desse ano. Algumas pessoas expressaram incredulidade com a ideia de eu ir, tal como elas, ver o 50 Cent. No entanto, nunca tive qualquer intenção de ir (nem fui) no dia do 50 Cent. 2. O meu companheiro tentou seduzir-me com a letra desta música: Funcionou. 3. Em... 2012? Fui ao cinema e, na ausência de melhor filme, optei por um cujos protagonistas eram o 50 Cent e o Bruce Willis. 4. Go Shorty, it's your birthday , vais festejar como se fosse o teu aniversário, etc. 5. Aquela vez que ele foi assaltado em pleno concerto em Angola. 6. A sua declaração de falência chapter 11  no ano passado. Portanto, perguntam os meus cerca de dois le

Dubliners

Fazer uma review  de James Joyce é um desafio (embora menor que a aura de desafio em torno da obra do autor). Estando mentalmente preparada para um esforço tremendo para perceber James Joyce, naquela que foi a minha primeira experiência com o autor, fiquei surpreendida pela facilidade de não só ler mas também visualizar os residentes de Dublin circa  1900. Em 15 contos, temos um retrato desolador de uma cidade que se torna estranhamente familiar ao passar de cada página. O primeiro conto retrata a morte, bem como o último - começa e acaba em morte, e tudo no meio retrata vários pontos da vida (porque, algures no meio, há a vida), de forma singular mas discretamente cronológica. Muitos dos contos são poderosos por serem tão realistas. Destaco alguns: Counterparts , sobre o estereótipo alcoólico irlandês; Eveline , a jovem que quer fugir com um marinheiro; A Painful Case , sobre a solidão a que podemos condenar os outros; e a história final, The Dead , cujo protagonista,

Estante #1

Estou a pensar começar a falar das revistas Estante, da FNAC. Aqui fica uma primeira tentativa. De distribuição gratuita, é o segundo número que acompanho.Acho uma excelente iniciativa por parte da FNAC, e gosto da variedade de conteúdos, tendo sempre como base os livros. O número anterior, focado em literatura young adult , não me apelou tanto como este. De destaque, o Especial "Utopias e Distopias" e a lista dos 12 melhores livros portugueses dos últimos 100 anos. Deste último tema, ressalva-se logo no editorial: É uma escolha contestável pelas ausências, inevitáveis, algumas que nos custaram muito (faz-me falta a prosa imprevisível de Pascoaes, A Noite e o Riso , Maria Velho da Costa, Ruben A., Maria Judite de Carvalho , Rodrigues Miguéis, e mais ainda).  Dos 12 eleitos, confesso que nunca li nem possuo nenhum (mas ressalvo que o meu companheiro incrível tem dois na estante): A Casa Grande de Romarigães, de Aquilino Ribeiro A Sibila, de Agustina Bessa-Luí

Suicidios ejemplares

Emprestado pela minha luso-espanhola favorita. Lo que hace soportable la vida es la idea de que podemos elegir cuándo escapar. Suicidos ejemplares  é um livro de contos sobre pessoas que planeiam suicidar-se, em histórias que oscilam entre os limites entre a sanidade e a loucura - entre a vida e a morte. Entre o sarcasmo e a solidão, as personagens revelam a fragilidade humana e a forma como a única coisa que nos separa da morte pode ser a vontade de viver - de dar valor à vida. Sendo histórias sobre suicídios, não implicam a morte dos personagens; por vezes, o suicídio falha, ou é figurativo apenas. São personagens muitas vezes depressivas, mas de distintos pontos de vista, desde um homem perdido pelas ruas de Lisboa (um belo início em Muerte por Saudade , para quem é de cá, com muitos cenários familiares), a senhora despeitada que se atira de janelas demasiado baixas, um futebolista a ajudar uma amiga doente a descobrir as suas origens, um pintor vítima da inveja de

Cold Comfort Farm

I saw something nasty in the woodshed. Quando Flora Poste, de 20 anos, fica orfã e com poucos meios financeiros, decide apelar aos seus familiares e viver como um parasita à custa destes (em vez de arranjar emprego), enquanto reúne material para o livro que irá escrever um dia. "Well, when I am fifty-three or so I would like to write a novel as good as Persuasion but with a modern setting, of course. For the next thirty years or so I shall be collecting material for it. If anyone asks me what I work at, I shall say, 'Collecting material'. No one can object to that." Após algumas respostas com propostas menos que aceitáveis (partilhar quartos com papagaios, por exemplo), Flora decide ir para Cold Comfort Farm, perto de Sussex, onde vive a sua prima afastada Judith Starkadder, cujo marido alegadamente fez uma afronta ao pai de Flora. Flora é recebida entre suspeitas e hostilidade, e é tratada não pelo nome mas como "Robert Poste's child".

A amiga de Madame Maigret

Que é como quem diz, o livro que me foi oferecido na Feira do Livro. Não sou pessoa de ler policiais. Simplesmente não é o meu género: não me apela e não sou boa a resolver mistérios. Madame Maigret vai ao dentista e, tendo chegado demasiado cedo, senta-se num banco de jardim e faz amizade com uma senhora acompanhada de uma criança. Do nada, a senhora diz que tem um compromisso e larga a criança com Mme. Maigret, que se vê abandonada com a criança e incapaz de ir à sua consulta no dentista. A senhora volta, chama a criança, e desaparece sem explicação. Entretanto, o seu marido, o conhecido inspector Maigret criado por Simenon, vê-se deparado com um misterioso caso de uma denúncia anónima de um homicídio, que leva à descoberta de dois dentes humanos numa fornalha e um fato azul manchado de sangue. Muita coisa é confusa nesta narrativa, desde as muitas personagens (muitas delas alcoólicas) ao facto de ambos os casos estarem relacionados. O final pareceu também apress

Agnes Grey

Mais uma Brontë, mais uma narrativa de governanta. Anne Brontë, a mais nova e possivelmente menos conhecida das três irmãs, passou grande parte da sua curta vida adulta a trabalhar enquanto governanta. A sua primeira de duas obras, Agnes Grey , é um relato ficcionado dos seus anos de trabalho. Uma mulher rica decide casar com um pároco pobre, perdendo toda a sua riqueza e dote; o clérigo não pára de se atormentar e envolve-se em dívidas várias através de investimentos pouco pensados. O casamento é, no entanto, feliz, e têm duas filhas: Mary e Agnes. Para ajudar a família, Mary começa a vender pequenos quadros, e Agnes decide ser governanta, posição essa já vista em Jane Eyre e que em Emma , de Jane Austen, é descrita como um último recurso, algo que, graças ao tom realista deste livro, se percebe bem porquê.  Agnes, como Anne Brontë, é filha de um clérigo, e vê-se na posição de governanta (algo relutante) para ajudar financeiramente a família, e há vários aspectos da