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Much Ado About Nothing

Hey remember that time when I would only read Shakespeare?


Vá, reconheço sem vergonha o quão atrasado este post está.

Primeira comédia de Shakespeare que leio, e sinto que ficou um bocado aquém das outras peças que já li dele. Claudio apaixona-se por Hero (que sim, é um nome feminino) e o seu... chefe? Don Pedro, seduz a rapariga num baile de máscaras para Claudio, de modo a que este não tenha esse trabalho (começando logo com morais duvidosas). Claudio acha que Don Pedro quer ficar com Hero para ele, o que não se verifica; e marcam imediatamente casamento. Entretanto, Don John, irmão bastardo de Don Pedro, decide, sem motivo aparente algum, destruir o casamento de ambos e inventa rumores acerca de Hero ser promíscua. Claudio acredita prontamente e decide acabar com ela durante a cerimónia de casamento.

Hero desmaia; Claudio vai embora; o pai dela, Leonato, procura saber como defender a sua honra; o padre acha por bem que Hero finja a sua morte enquanto limpam o seu nome e, pela primeira vez numa peça de Shakespeare, esta ideia corre bem em vez de dar para o torto.

Entretanto a prima de Hero, Beatrice, odeia Benedick, pelo que toda a gente da peça decide convencê-los a apaixonar-se um pelo outro.

BENEDICK
(...) And, I pray thee now, tell me for
which of my bad parts didst thou first fall in love with me?
BEATRICE
For them all together; which maintained so politic
a state of evil that they will not admit any good
part to intermingle with them. But for which of my
good parts did you first suffer love for me?
BENEDICK
Suffer love! a good epithet! I do suffer love
indeed, for I love thee against my will.
BEATRICE
In spite of your heart, I think; alas, poor heart!
If you spite it for my sake, I will spite it for
yours; for I will never love that which my friend hates.
BENEDICK
Thou and I are too wise to woo peaceably.

Beatrice e Benedick não parecem personagens tão secundárias assim, sendo mesmo, conforme percebo, as mais populares da peça. Beatrice é também das poucas personagens femininas de Shakespeare que se destaca pela positiva, em vez de ser uma rapariga parva, uma mulher vitimada ou uma vilã como a eterna Lady MacBeth. No entanto, esta dualidade de casais fez com que a peça fosse um pouco estranha: é uma espécie de amálgama de duas peças diferentes e não sei se funciona muito bem. Não para mim, pelo menos.

Como boa comédia, após todos os desentendimentos e dramas, acaba tudo bem e com casamentos.

Há também uma personagem chamada Dogberry cujas únicas falas revelam a sua obsessão por um dos lacaios de Don John lhe ter chamado ass. Don John é um péssimo vilão: sem motivos, sem conflito suficientemente desenvolvido ou complexo, aproveita-se um bocado da estupidez e ingenuidade dos outros personagens. É um pouco reminiscente de Iago, em Othello, que planta a discórdia entre um casal através do ciúme e desconfiança.

A minha grande questão é: por que raio Hero aceitou casar com Claudio depois de tudo? A rapariga deixa-se seduzir por outro em nome de Claudio (algo que ela não descobre), é falsamente acusada de infidelidade pelo seu noivo no altar, desmaia, obrigam-na a fingir a morte - e ela aceita? Não sei se tenha pena ou se a ache simplesmente parva (mas não mais que Jane Eyre, cujos motivos questiono cada vez mais).

Ainda sobre Hero, esta explicação sobre o título da peça, que se perde nos leitores de hoje:

In Shakespeare's time, "thing" being a euphemism for a man's primary naughty bit, "nothing" or "no-thing" was also a euphemism for a woman's naughty bits. This gave the title three different yet equally appropriate meanings, as the main conflict over the play revolves around the false implication of Hero losing her virginity to another man while engaged to Claudio. Therefore it is "Much Ado about Nothing" as nothing was really going on, "Much Ado about Noting" as it's concerned with the views the characters have of each others' moral fiber (how they "note" each other), and "Much Ado about Nothing" as it was concerned with Hero's own naughty bits/her virginity. 

4/5

Podem comprar uma outra edição aqui, ou em português aqui.

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