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Novelas do Minho

Enveredando pela colecção do Expresso com as capas bonitas.


Novelas do Minho é, originalmente, um conjunto de oito novelas; esta edição, porém, tem apenas duas: O degredado e Maria Moisés. É na segunda que me irei focar.

Josefa da Lage, filha de um lavrador, é encontrada a morrer beira-rio, num aparente suicídio que ninguém percebe (mas que alguns desconfiam). Filha de pais extremamente conservadores, julgava-se que ela estava doente havia meses, fechada em casa por doença misteriosa. Na verdade, tinha um caso com António, fidalgo, que planeia casar com ela mas é contrariado pelo pai.

 - Assim que meu pai morrer - disse ele à filha do lavrador - caso contigo. Vou sentar praça, quer meu pai queira quer não. Sou o morgado, porque meu irmão mais velho morreu.

Ela, para ser feliz até às lágrimas, não precisava destas esperanças. Preferia tê-lo e amá-lo nas matas chilreadas, nos desfiladeiros dos montes, no sinceiral da Ínsua, nas alcovas de ramagem que só eles e os rouxinóis conheciam nas margens do Tâmega.

Filha de pais extremamente conservadores, Josefa sabia que também eles não aceitariam o seu envolvimento. Há descrições várias dos seus encontros às escondidas - e tudo poderia dar certo, não fosse Josefa descobrir que estava grávida. A sua única solução é fingir estar doente para esconder isto dos pais, enquanto António aguarda que o pai morra - o que acaba por não acontecer. Trágico amor proibido: o pai de António manda prendê-lo, mas ele consegue enviar um recado à sua amada com um plano de fuga.

É nesse dia que tudo acontece: com a emoção do reencontro, Josefa dá à luz, prematuramente; a mãe apercebe-se da gravidez; Josefa foge com a criança num cesto que, entre dores, deixa cair para o rio. Ao tentar recuperar a criança, morre - e com ela, o segredo da existência da criança.

António foge do pai e vai para o Brasil, onde prossegue carreira militar.

Nessa mesma noite, é encontrada uma criança num cesto à beira-rio. Uma família de ricos solteiros locais acolhe a criança, apadrinhando-a e chamando-lhe "Maria Moisés", devido à semelhança bíblica de como a criança fora encontrada. Na morte destes, Maria Moisés herda a propriedade e decide tomar conta de outros enjeitados como ela, devolvendo ao mundo o bem que lhe fora dado. Começando apenas com duas crianças a cargo, o número rapidamente aumentou, e muito, e Maria Moisés encontra-se numa situação financeiramente instável, precisando de vender a quinta para pagar as dívidas.

É nesta altura que volta do Brasil António, que começa a vaguear pela aldeia e acaba por inquirir sobre o destino de Josefa, que nunca esquecera, não compreendendo a ideia do suicídio - e ao descobrir que na mesma noite foi encontrada uma criança, Maria Moisés, apercebe-se rapidamente que esta só pode ser sua filha. Assim, compra a quinta, dando-lhe dinheiro para pagar as suas dívidas, e revela que é o seu pai. Num abraço cheio de lágrimas, termina a obra.

Tal como em Amor de Perdição, temos o amor contrariado e a luta dos dois jovens pela sua relação, mas aqui temos um final feliz: quando António regressa, 40 anos depois da morte da sua amada, reúne-se com a filha.

Tenho-me surpreendido muito pela positiva com um autor que tantos consideram seco e aborrecido. Dramático, sim, sem dúvida, mas tem o toque suficiente de telenovela para eu apreciar sem descambar no patético.

5/5

Podem comprar uma outra edição aqui.

Comentários

  1. Bem do Camilo até agora só li o Maria Moisés mas gostei muito mesmo, já estava curioso com outras obras dele e esta review só veio animar esse meu desejo :p

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  2. Não que fales de outras obras dele mas porque ao falares desta em particular, de tão boa que é (a obra e a review) faz-me querer ler mais Camilo!

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    Respostas
    1. obrigado :$ havemos de ler a queda de um anjo em conjunto :p

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