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The History of Love

Peguei neste livro por sugestão da Rita, cujo blog adoro, e que por sua vez adorou o livro.


Nicole Krauss, a autora de The History of Love, foi casada com Jonathan Safran Foer, cujas obras Everything is Illuminated e Incredibly Loud and Extremely Close li há já uns anos e das quais gostei muito. Esta obra é estilisticamente, e em termos de temas, bastante semelhante às do seu ex-marido, tendo portanto tudo para eu também gostar.

Once upon a time there was a boy who loved a girl, and her laughter was a question he wanted to spend his whole life answering.

Este é um livro sobre solidão, sobre esperança e sobre perda - diria mais que sobre perda do que sobre amor. Há o amor por um amor perdido, por uma mãe, por um filho, por um pai - mas todo este amor vem acompanhado de perdas. 

Várias personagens encontram-se devido a um livro chamado The History of Love, editado apenas em espanhol, com uma história misteriosa em torno da sua publicação e do seu autor, Zvi Litvinoff, um refugiado polaco na América do Sul, de quem se sabe apenas o pouco que a sua esposa, Rosa, escreveu no prefácio da única edição do livro. Leopold Gursky escapou à Polónia e ao Holocausto. Com cerca de 80 anos, ainda sonha com o seu amor de adolescência perdido, Alma Mereminski, e tenta todos os dias que alguém repare nele. Tem apenas um amigo na vida, Bruno, que conhecia da Polónia e que, por uma qualquer coincidência do destino, mora no andar de cima. Já Alma Singer, de 14 anos, é órfã de pai, quer aprender a sobreviver em situações extremas e tenta todos os dias que a sua mãe, Charlotte, seja feliz e regresse ao mundo real. O seu irmão mais novo, Bird, acha que é um lamed vovnik, que é um conceito judaico para 36 pessoas com um papel fundamental para a humanidade.

São estas quatro personagens cujas perspectivas nos são apresentadas ao longo da narrativa: novamente, tudo ligado pelo tal livro misterioso, The History of Love

Krauss descreve magnificamente o amor de dois adolescentes judeus antes da chegada dos Nazis, antes da fuga de Alma para a América, seguida cinco anos depois por um Leo com quem tinha perdido o contacto, mas que nunca a tinha esquecido - mas que já a tinha perdido. As memórias de Leo são recriadas com uma beleza enorme, as recordações de infância de um idoso, que vê essa como a melhor altura da sua vida.

Once upon a time there was a boy. He lived in a village that no longer exists, in a house that no longer exists, on the edge of a field that no longer exists, where everything was discovered and everything was possible.

Era uma vez um homem chamado Leo, que estava apaixonado por uma mulher chamada Alma e lhe escreveu um livro chamado The History of Love, que crê ter sido destruído por uma inundação sem nunca ter visto a luz do dia. Era uma vez uma mulher chamada Alma, que fugiu grávida para os Estados Unidos e se casou com o filho do patrão. Era uma vez uma rapariga chamada Alma, porque The History of Love era o livro preferido dos seus pais, o livro pelo qual a sua mãe aprendeu espanhol. Era uma vez Zvi Litvinoff, o homem que guardou o manuscrito de Leo Gursky e acabou por o publicar numa língua diferente em seu nome, culpa que o seguiu até ao fim da sua vida.

At times I believed that the last page of my book and the last page of my life were one and the same, that when my book ended I’d end, a great wind would sweep through my rooms carrying the pages away, and when the air cleared of all those fluttering white sheets the room would be silent, the chair where I sat would be empty.

Estas personagens dispersas acabam por se juntar no livro, através dos esforços de Alma para descobrir quem é o homem misterioso que pediu à sua mãe que traduzisse para inglês The History of Love, livro praticamente esquecido. E é esta junção que reafirma o poder do amor, e o seu papel na sobrevivência e a juntar pessoas de circunstâncias completamente díspares.

Porque o amor é, neste livro, um mecanismo de sobrevivência: Leo nunca deixou de amar Alma Mereminski, e Charlotte nunca deixou de amar o seu marido. E, mesmo que Isaac Moritz fosse um autor de best-sellers, ninguém gostava mais dos seus livros do que Leo, cuja existência acabou por se focar no filho que nunca soube quem era o seu verdadeiro pai.

The air felt different in my lungs. The world no longer looked the same. You change and then you change again. You become a dog, a bird, a plant that leans always to the left. Only now that my son was gone did I realize how much I’d been living for him. When I woke up in the morning it was because he existed, and when I ordered food it was because he existed, and when I wrote my book it was because he existed to read it.

E é muito difícil uma pessoa não se identificar com Leo Gursky, com uma vida completamente vazia e sem propósito, que escreve e junta palavras no papel, sabendo que nunca ninguém quererá ler os seus livros e ninguém se vai lembrar dele. A cidade onde nasceu já não existe, os seus amigos de infância, a sua família, o amor da sua vida: morreram todos. O seu melhor amigo morreu em 1941. O mundo que ele conhece já não existe.

Crossing the street, I was hit head-on by a brutal loneliness. I felt dark and hollow. Abandoned, unnoticed, forgotten, I stood on the sidewalk, a nothing, a gatherer of dust. People hurried past me. And everyone who walked by was happier than I. 

The History of Love não é um romance. É um livro sobre um livro, sobre histórias, sobre palavras (When will you learn that there isn't a word for everything?), sobre pessoas que já morreram e como elas vivem através das palavras, ficam vivas no papel e atravessam o tempo e os continentes porque outras pessoas o vão ler e vão guardar consigo a história, como a história de amor de Leo e Alma Mereminski inspirou os pais de Alma Singer; a forma como as palavras e as histórias influenciam vidas, como o facto de alguém ouvir a nossa história tem um poder imenso.

I remember the time I first realised I could make myself see something that wasn’t there… And then I turned the corner and saw it. A huge elephant, standing alone in the square. I knew I was imagining it. And yet. I wanted to believe… So I tried… And I found I could.

4,5/5 o único motivo pelo qual não dou 5 é a repetição constante de "And yet." e "But."

Podem comprar esta edição aqui, ou em português aqui.

Comentários

  1. Pela maneira como escreveste a review, de forma tão apaixonada pelo livro em si pensei mesmo que terias dado 5 :p parece bastante interessante mesmo, kudos pela review

    Não sabia o que era lamed vovnik so there's that

    E esta passagem é incrível:
    At times I believed that the last page of my book and the last page of my life were one and the same, that when my book ended I’d end, a great wind would sweep through my rooms carrying the pages away, and when the air cleared of all those fluttering white sheets the room would be silent, the chair where I sat would be empty.

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    1. Sou parva porque tinha-te dito que estava entre o 4 e o 5, logo é um 4,5 e não um 4, mas já corrigi :p

      Também não sabia - aprendi no livro!

      O livro tem passagens lindíssimas sim!

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  2. Devastador:
    Crossing the street, I was hit head-on by a brutal loneliness. I felt dark and hollow. Abandoned, unnoticed, forgotten, I stood on the sidewalk, a nothing, a gatherer of dust. People hurried past me. And everyone who walked by was happier than I.

    Gostava de ler o livro Ba

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  3. Bárbara, parabéns pela review! Fico muito feliz por teres gostado e por teres conseguido encontrar as palavras "certas" para transmitir a tua paixão pelo livro (embora uma review destas peça as 5* :D).
    Até me deixaste com vontade de voltar a lê-lo :)

    Não sei como interpretaste a expressão "and yet" utilizada constantemente pelo Leo, mas para mim foi a forma (inteligente, diria) que a autora encontrou para transmitir a mágoa e dor da personagem. A certa altura, deixei de associar essa expressão apenas à dor, passei também a associá-la a um sentimento que não consigo descrever mas que assemelho à ternura. É estranho, ainda mais estranho é tentar descrevê-lo.

    Como moeda de troca, para "pagar" a confiança que depositaste em mim ao acreditares que este livro valia a pena, comecei ontem à noite a ler o "Dom Casmurro". Ainda só vou na página 50 mas estou completamente rendida ao autor, não só à escrita mas também à sua ironia e sentido de humor, está a ser uma boa surpresa. Vou dando notícias.

    Beijinhos e boas leituras!

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    1. Obrigado por teres lido Rita :)

      Mudei para 4,5 porque sou tonta porque eu originalmente estava entre o 4 e o 5 e se não dou 5 então tem de ser 4,5 mesmo!

      O "and yet" e o "but" deram-me além da mágoa e dor uma sensação de insegurança, um bocado "o que poderia ter sido", tipo "as coisas são assim. and yet.", por tudo o que ele já perdeu e a vida que ficou para trás. O meu problema é que houve uma parte, um dos últimos capítulos do Leo, em que estava a acontecer tanto que se tornou muito consciente na minha cabeça, sabes?

      Confio pois :) do que eu vejo do que tu lês não tenho nada para não confiar - além de que tinha o livro na pilha por algum motivo:) e fico muito feliz por estares a gostar! Já o li há imensos anos, mas é um livro que guardo com muitas boas recordações, de ter gostado mesmo muito!

      Beijinhos :)

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  4. Também tenho este livro para ler, mas foi ficando! Tenho mesmo que pegar nele!
    beijinhos e boas leituras

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