Avançar para o conteúdo principal

Sonnets from the Portuguese

O primeiro livro que li para o #MarçoFeminino - um livro que não tinha, de todo, planeado.


Era segunda-feira e, entre trocas de malas para o fim de semana, tinha-me esquecido do Moby Dick. Pior: ia ao médico depois do trabalho. O meu amor, enquanto pessoa incrível que é, emprestou-me este pequeno livro, do qual tinha gostado muito.

Comecemos, talvez, pelo título, que fez com que um colega de trabalho me questionasse por que motivo lia coisas sobre portugueses em inglês: Elizabeth Barrett Browning estava inicialmente hesitante quanto à publicação destes poemas, dado o seu cariz bastante pessoal; mas o seu marido, Robert Browning (também ele poeta), insistindo no seu valor literário, sugeriu-lhe que os publicasse na mesma, mas sob algum subterfúgio. Assim, Elizabeth publicou-os como se fossem traduções de sonetos estrangeiros. A razão por trás da escolha de "Portuguese" não é clara, mas estará algo entre a sua admiração por Camões, a alcunha carinhosa que o marido tinha para ela ("my little Portuguese"), e as Cartas Portuguesas da Soror Mariana Alcoforado (próxima review, já agora!).

E qual o cariz pessoal destes sonetos? Sonnets from the Portuguese é um conjunto de sonetos sobre a história de amor do casal - o espanto de Elizabeth em ter encontrado o amor, algo que sente que a salvou da morte; e a forma como o pai da autora se opôs a este casamento.

If I leave all for thee, wilt thou exchange
And be all to me? Shall I never miss
Home-talk and blessing and the common kiss
That comes to each in turn, nor count it strange
When I look up, to drop on a new range
Of walls and floors, another home than this?

Elizabeth Barrett Browning escreve em adoração do seu marido, que faz com que a sua vida valesse a pena, apesar de algum arrependimento: ela viveu toda a sua vida com saúde fraca, com um pai controlador que nunca mais lhe falou, e Robert traz à sua vida felicidade, cor e gratidão. E, acrescente-se: Robert não a desiludiu. Ficaram juntos até à morte de Elizabeth, em 1861, quando tinha 55 anos e, como deu para entender acima, incentivou-a a escrever, a publicar, e mais que isso, a publicar sob o seu próprio nome.

Se já me é difícil criticar poesia, torna-se pior fazê-lo quando expressa sentimentos tão pessoais; aqui, não lemos sobre paixões, não há qualquer exploração de erotismo (como na poesia de Neruda, por exemplo); Elizabeth descreve um outro conceito de amor, mais filosófico, mas captura perfeitamente o sentimento nas suas palavras. E sente-se que amava o marido to the depth and breadth and height my sould can reach.

O Soneto 43 é sem dúvida o mais conhecido da obra; How I Love Thee, Let me Count the Ways; deixo aqui, por isso, em seu lugar, o 21:

Say over again, and yet once again,
That thou dost love me. Though the word repeated
Should seem 'a cuckoo-song,' as thou dost treat it,
Remember, never to the hill or plain, 
Valley and wood, without her cuckoo-strain
Comes the fresh Spring in all her green completed.
Belove, I, amid the darkness greeted
By a doubtful spirit-voice, in that doubt's pain
Cry, Speak once more - thou lovest! Who can fear
Too many stars, though each in heaven shall roll,
Too many flowers, though each shall crown the year?
Say thou dost love me, love me, love me - toll
The silver iterance! - only minding, Dear,
To love me also in silence with thy soul.

É o retrato, em poema, de uma vida que era triste antes do amor, e se tornou vívida, brilhante. É uma pequena colecção de poemas, cuja leitura vale a pena.

5/5

Podem comprar uma outra edição em inglês aqui.

Comentários

  1. Fiquei surpreendida com a pontuação confesso!!

    Novo post: http://abpmartinsdreamwithme.blogspot.pt/2018/04/ootd-75-classic-look.html

    Beijinhos ♥

    ResponderEliminar
  2. Por norma não compro livros de poesia, mas tenho alguns, gosto de muitos poemas mas não costume abrir um livro de poesia e lê-lo de seguida. Contudo confesso, com um título destes até eu fiquei curiosos, mas em inglês também praticamente só leio prosa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Confesso que leio pouca poesia em geral, e tenho poucos livros no género - talvez pelo "hábito" de os ler de seguida, que pode fazer das obras menos interessantes. Este, infelizmente, do que percebo não existe em português, mas não senti que fosse uma leitura demasiado complicada no original.

      Eliminar
  3. 'Comecemos, talvez, pelo título, que fez com que um colega de trabalho me questionasse por que motivo lia coisas sobre portugueses em inglês' ahah teria de haver alguém a pensar assim

    "my little Portuguese" bastante carinhosa sim :p

    'E sente-se que amava o marido to the depth and breadth and height my sould can reach.' também senti isso

    'cuja leitura vale a pena' sem dúvida
    Gostei do post, obrigado também pela menção :p fico feliz por teres gostado do livro :p

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Haha acho que ele estava a brincar e não a falar a sério! Acho :$

      Sim :ppp

      Claro que menciono, obrigada eu por todo o esforço para me emprestares o livro :$ és incrível, gostei do livro sim, e da dedicação, e de te ter visto nesse dia :p

      Eliminar
  4. uau!! Que livro tão interessante! E que bom aspecto esse croissant :) mas quanto ao livro parece mesmo muito giro. Não sou muito dada a poesia, mas gostei deste :)
    Um beijinho e boas leituras

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Croissant red velvet no Choupana nas avenidas novas :D recomendo! E recomendo o livro também :) também não sou a maior fã de poesia, mas deste gostei bastante!

      Eliminar

Enviar um comentário