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Romance da Raposa

O meu segundo encontro com a obra de Aquilino Ribeiro, num tom muito distinto do primeiro.


Antes de mais, note-se a diferença entre o mero Romance da Raposa e a minha edição, que é uma adaptação da obra a novela gráfica, com ilustrações de Artur Correia. Esta foi uma compra deliberada, pela curiosidade acerca desta adaptação. Só mais tarde descobri que Artur Correia tinha já sido responsável, no final dos anos 80, por uma adaptação da obra a desenhos animados, que se encontra (pelo menos parcialmente, que ainda não explorei totalmente) no Youtube. Os desenhos animados foram também populares na Eslovénia.

Acredito, de qualquer modo, na fidelidade desta adaptação ao original - até porque li várias opiniões neste sentido.

Tendo lido, como linkei acima, Lápides Partidas, trata-se de um registo completamente diferente, mas a linguagem algo densa do autor mantém-se, não obstante o público infantil; este livro, aliás, foi escrito pelo autor para o seu filho, Aníbal, pelo Natal de 1924.

A protagonista desta obra é Salta-Pocinhas, uma raposa "raposeta, matreira, fagueira, lambisqueira", "raposeta pintalegreta, senhora de muita treta". Esta tinha uma vida confortável, a comer às custas dos pais, até ao dia em que estes a forçam a emancipar-se, a sair de casa e a fazer pela vida. Esta raposa é, como outros personagens da obra de Aquilino Ribeiro (e como eu, no fundo), beirã - e leva-nos através de cenários e animais das serras de Portugal, com lobos, raposas e coelhos, cenários aqui enriquecidos pela ilustração.


Seguimos Salta-Pocinhas a arranjar uma toca quando leva D. Brutamontes a matar um texugo narigudo e barrigudo, e a ter de criar esquemas para fugir à ira de D. Brutamontes, lobo e regente da Beira-Alta, que a sentenciara à morte quando se soube enganado; Salta-Pocinhas sobrevive à seca de dois anos, finta D. Brutamontes entre outros esquemas e manhas, acaba por casar, sustentar três filhos e chegar à velhice. Por fim, após tantas aventuras, consegue uma ambicionada velhice descansada.

Mas o que surpreende mais nesta raposa é como consegue tudo quase sempre sozinha, lutando pela vida, enganando todos (há momentos com coelhos que me deixaram um pouco triste, confesso, mas é o ciclo da vida, a cadeia alimentar, etc - é mórbido, mas é de realçar como a morte não é disfarçada tendo em conta o público alvo). Há muitos contos e fábulas com raposas manhosas (veja-se La Fontaine), mas aqui as aventuras da raposa são divertidas, são honestas, têm emoções várias e não infantilizam quem as lê.

E não esconde que Salta-Pocinhas não era uma boa raposa.

5/5 talvez um dia pegue na versão original.

Podem comprar esta edição aqui ou o original aqui.

Comentários

  1. Opa acabei de ler o teu post com um enorme sorriso no rosto, quantas memórias de infância me trazem essa história :) Beijinhos*

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  2. Nunca li nada do Aquilino, a não ser um excertos desta obra em livros escolares, que curiosamente trazem sempre um glossário. Não tenho medo de palavras difíceis, mas estar com o dicionário ao lado faz-me lembrar mais o trabalho que o ócio! :-)
    Também já me custa ver os animais a comerem-se uns aos outros, por mais real que isso seja. Ainda ontem estava a ver um documentário em que uma cobra ia atacar um ninho de colibris e eu já estava: "Os colibris, não! Eu vou mudar de canal!!!"
    Paula

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    1. Eu li "Lápides Partidas" no início do ano; este é sem dúvida mais acessível. Percebo a questão do dicionário, mas confesso que me dá gozo descobrir vocabulário "novo" (praticamente esquecido, vá)! :)
      Ai, compreendo! Não costumo ver esse tipo de programas, mas acredito que, se a ver um desenho de uma raposa a cobiçar um coelho já me custa, um cenário assim real iria ser pior!

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  3. Temos de ver os desenhos animados! Que foram também populares na Eslovénia ahah, a vida é tão random

    O facto do livro ter sido escrito pelo autor para o seu filho é bem fixe

    Porque será que dizes que a Salta-Pocinhas não era uma boa raposa? Por matar coelhinhos? Por certos esquemas que tinha para sobreviver? Por tudo um pouco? Estou muito curioso com o livro! Talvez um dia to peça emprestado :p

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    1. Temos de ver siiiim :o talvez esteja tudo no youtube :p

      Há vários livros escritos para filhos :p tipo o Hobbit ou o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá!

      Oh ela era muito matreira, enganou e prejudicou muita gente e procurava sempre o caminho mais fácil :$ só lendo :o

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    2. Acredito que haja mas não deixa de ser especial :p

      Um dia irei ler então!

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  4. Obrigado pela mensagem sobre o trabalho de meu pai.
    Pode até ver mais aqui:
    https://artooncorreia.blogspot.com/p/o-romance-da-raposa.html

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    1. muito obrigada! muito me honra esta mensagem. irei ver :)

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