Review muito longa de um livro muito chato.
Há coisas que consomem imenso tempo na vida de uma pessoa. Exemplos:
- levar cerca de 100 livros para outra casa;
- trabalhar na outra ponta de uma cidade não particularmente pequena embora não particularmente grande;
- fazer provas para segundos trabalhos enquanto freelancer;
- lançar e moderar o book club de um emprego no qual estou há nem três meses;
- lançar e moderar o book club de um emprego no qual estou há nem três meses;
- ler este livro.
Deixo já aqui claro que eu tentei gostar deste livro. Eu levei-o para a passadeira no ginásio (que é a coisa mais aborrecida no ginásio) e li ao longo de quase 6 km. Eu li-o diariamente no comboio às 7:20 da manhã. Eu fiquei entusiasmada com o facto de a série estar prestes a começar e eu ainda não ter sequer começado o A Dance with Dragons (spoiler alert: ainda não comecei, mas tinha esperança).
O problema deste livro é que não acontece rigorosamente nada. Há talvez uma storyline do livro que se encontra reflectida na série. Ora, eu gosto da série e percebo que esta esteja a divergir completamente dos livros por motivos vários - entre os quais o facto de a série estar agora cronologicamente à frente do livro -, como por exemplo o facto de termos aqui quase 800 páginas em que não acontece nada sem ser, e apenas parcialmente, a história da Arya.
Os capítulos continuam a ser narrados numa espécie de ponto de vista na terceira pessoa, e a grande maioria das personagens dos capítulos têm a sua estreia neste livro: enquanto que a Sansa, a Arya, o Sam e o Jaime regressam, temos personagens várias das Iron Islands e de Dorne, as quais não só não nos diziam absolutamente nada até agora como parecem acrescentar pouco à restante narrativa. Dão alguma introdução e contexto, suponho, e quiçá em livros futuros a coisa evolua, mas algumas mal tinham sido mencionadas até este ponto e há uma coisa um bocado confusa que é o facto de se chamarem Areo, Aeron, Aerys, Arya; novamente, calma com os nomes, George RR Martin.
Acho que muitos dos problemas deste livro vêm do facto da decisão do autor em dividir geograficamente a narrativa. Isto significa que não acompanhamos muitas das personagens que honestamente devem ser as preferidas gerais, ou seja, Jon Snow, Tyrion, Daenerys (e o Davos, mas esse se calhar sou só eu). Sendo estas personagens tão centrais, quase parece que se está a ler um b-side da obra. Um b-side enorme e que arrasta.
Por que é que o título do livro se refere a crows sequer quando não há Wall no livro? Pronto, temos o Sam.
She narrowed her eyes. "What is our heart’s desire?"
"Vengeance." His voice was soft, as if he were afraid that someone might be listening. "Justice." Prince Doran pressed the onyx dragon into her palm with his swollen, gouty fingers, and whispered, "Fire and blood."
No entanto há algo de destaque, algo absolutamente fabuloso: uma das novas personagens a quem é dada uma certa voz através de capítulos é a Cersei.
Uma boa parte do livro pertence à Cersei, uma Cersei paranóica, megalómana, assustadora não por ser cruel e inteligente como outrora parecia mas por estar completamente paralizada de medo e criar esquemas e mais esquemas não muito pensados, claramente louca e a auto-sabotar-se sem se aperceber. Cersei dá poder a uma seita religiosa iminente, entra em esquemas que devem ser parecidos a eventos no American Horror Story: Asylum, tem momentos sexuais com outra mulher, desdenha o irmão. As coisas acabam por não correr bem para ela e estou francamente à espera que a Cersei fique no trono e destrua aquilo tudo.
His sister liked to think of herself as Lord Tywin with teats, but she was wrong. Their father had been as relentless and implacable as a glacier, where Cercei was all wildfire, especially when thwarted.
Também adoro a Arya, como sempre, Arya em Braavos a tentar livrar-se da sua identidade e juntar-se ao culto do Many-Faced God. A história dela é a que mais fiel se manteve na série, e percebo porquê, dado que é a única história aqui que avança algo e avança alguma coisa.
Needle was Robb and Bran and Rickon, her mother and her father, even Sansa. Needle was Winterfell's grey walls, and the laughter of its people. Needle was the summer snows, Old Nan's stories, the heart tree with its red leaves and scary face, the warm earthy smell of the glass gardens, the sound of the north wind rattling the shutters of her room. Needle was Jon Snow's smile. He used to mess my hair and call me "little sister," she remembered, and suddenly there were tears in her eyes.
A Brienne tem demasiados capítulos e são, em geral, uma seca e um bocado pointless. Já todos percebemos que ela está à procura da Sansa pelo continente inteiro, mas será que isso avança muito para além do ambiente que cria, do retrato da destruição causada pela guerra? É interessante porém comparar e contrastar a ideia que ela tem de Jaime com a ideia que a Cersei tem. Entretanto, Jaime procura a sua honra perdida e o Sam é aborrecido como tudo.
Momento emocional: a morte do Maester Aemon, que era das minhas personagens preferidas e merecia ter tido capítulos só dele.
Aemon’s blind white eyes came open. "Egg?" he said, as the rain streamed down his cheeks. "Egg, I dreamed that I was old."
Personagens começam a chamar nuncle aos tios quando nunca usaram essa palavra antes. Palavras e frases feitas são repetidas ad nauseum. Um dia da minha vida tem mais actividade que três capítulos da vida das personagens deste livro. Nem todos os livros precisam de ser bem escritos, mas quando o nível de interesse do livro é tão limitado sinto que alguma coisa precisa de o compensar, e isso aqui não acontece porque os outros livros disfarçavam o facto de o autor escrever mal.
Vá, não digo que aconteça pouco no livro: assumo que a história avança e os enredos tornam-se mais intrincados. O problema é que não acontece nada de particularmente interessante, e isto é bastante visível se pensarmos que acontece MUITA coisa no livro anterior. Há também muitos, muitos cliffhangers. Enquanto isto é giro na série porque vemos tudo a ficar pendurado ao longo de cinquenta minutos, aqui isso acontece ao longo de duzentas páginas e alguns são completamente enfadonhos e haja paciência. O problema que isto traz também é que é suposto isto acontecer exactamente ao mesmo tempo que outro livro completamente separado, e isso é tão complexo e tanta informação que não me admira que o livro a seguir ao A Dance with Dragons demore mais cinco anos a sair.
2/5 NOT SORRY
Podem comprar esta edição aqui, ou em português aqui.
Deixo já aqui claro que eu tentei gostar deste livro. Eu levei-o para a passadeira no ginásio (que é a coisa mais aborrecida no ginásio) e li ao longo de quase 6 km. Eu li-o diariamente no comboio às 7:20 da manhã. Eu fiquei entusiasmada com o facto de a série estar prestes a começar e eu ainda não ter sequer começado o A Dance with Dragons (spoiler alert: ainda não comecei, mas tinha esperança).
O problema deste livro é que não acontece rigorosamente nada. Há talvez uma storyline do livro que se encontra reflectida na série. Ora, eu gosto da série e percebo que esta esteja a divergir completamente dos livros por motivos vários - entre os quais o facto de a série estar agora cronologicamente à frente do livro -, como por exemplo o facto de termos aqui quase 800 páginas em que não acontece nada sem ser, e apenas parcialmente, a história da Arya.
Os capítulos continuam a ser narrados numa espécie de ponto de vista na terceira pessoa, e a grande maioria das personagens dos capítulos têm a sua estreia neste livro: enquanto que a Sansa, a Arya, o Sam e o Jaime regressam, temos personagens várias das Iron Islands e de Dorne, as quais não só não nos diziam absolutamente nada até agora como parecem acrescentar pouco à restante narrativa. Dão alguma introdução e contexto, suponho, e quiçá em livros futuros a coisa evolua, mas algumas mal tinham sido mencionadas até este ponto e há uma coisa um bocado confusa que é o facto de se chamarem Areo, Aeron, Aerys, Arya; novamente, calma com os nomes, George RR Martin.
Acho que muitos dos problemas deste livro vêm do facto da decisão do autor em dividir geograficamente a narrativa. Isto significa que não acompanhamos muitas das personagens que honestamente devem ser as preferidas gerais, ou seja, Jon Snow, Tyrion, Daenerys (e o Davos, mas esse se calhar sou só eu). Sendo estas personagens tão centrais, quase parece que se está a ler um b-side da obra. Um b-side enorme e que arrasta.
Por que é que o título do livro se refere a crows sequer quando não há Wall no livro? Pronto, temos o Sam.
She narrowed her eyes. "What is our heart’s desire?"
"Vengeance." His voice was soft, as if he were afraid that someone might be listening. "Justice." Prince Doran pressed the onyx dragon into her palm with his swollen, gouty fingers, and whispered, "Fire and blood."
No entanto há algo de destaque, algo absolutamente fabuloso: uma das novas personagens a quem é dada uma certa voz através de capítulos é a Cersei.
Uma boa parte do livro pertence à Cersei, uma Cersei paranóica, megalómana, assustadora não por ser cruel e inteligente como outrora parecia mas por estar completamente paralizada de medo e criar esquemas e mais esquemas não muito pensados, claramente louca e a auto-sabotar-se sem se aperceber. Cersei dá poder a uma seita religiosa iminente, entra em esquemas que devem ser parecidos a eventos no American Horror Story: Asylum, tem momentos sexuais com outra mulher, desdenha o irmão. As coisas acabam por não correr bem para ela e estou francamente à espera que a Cersei fique no trono e destrua aquilo tudo.
His sister liked to think of herself as Lord Tywin with teats, but she was wrong. Their father had been as relentless and implacable as a glacier, where Cercei was all wildfire, especially when thwarted.
Também adoro a Arya, como sempre, Arya em Braavos a tentar livrar-se da sua identidade e juntar-se ao culto do Many-Faced God. A história dela é a que mais fiel se manteve na série, e percebo porquê, dado que é a única história aqui que avança algo e avança alguma coisa.
Needle was Robb and Bran and Rickon, her mother and her father, even Sansa. Needle was Winterfell's grey walls, and the laughter of its people. Needle was the summer snows, Old Nan's stories, the heart tree with its red leaves and scary face, the warm earthy smell of the glass gardens, the sound of the north wind rattling the shutters of her room. Needle was Jon Snow's smile. He used to mess my hair and call me "little sister," she remembered, and suddenly there were tears in her eyes.
A Brienne tem demasiados capítulos e são, em geral, uma seca e um bocado pointless. Já todos percebemos que ela está à procura da Sansa pelo continente inteiro, mas será que isso avança muito para além do ambiente que cria, do retrato da destruição causada pela guerra? É interessante porém comparar e contrastar a ideia que ela tem de Jaime com a ideia que a Cersei tem. Entretanto, Jaime procura a sua honra perdida e o Sam é aborrecido como tudo.
Momento emocional: a morte do Maester Aemon, que era das minhas personagens preferidas e merecia ter tido capítulos só dele.
Aemon’s blind white eyes came open. "Egg?" he said, as the rain streamed down his cheeks. "Egg, I dreamed that I was old."
Personagens começam a chamar nuncle aos tios quando nunca usaram essa palavra antes. Palavras e frases feitas são repetidas ad nauseum. Um dia da minha vida tem mais actividade que três capítulos da vida das personagens deste livro. Nem todos os livros precisam de ser bem escritos, mas quando o nível de interesse do livro é tão limitado sinto que alguma coisa precisa de o compensar, e isso aqui não acontece porque os outros livros disfarçavam o facto de o autor escrever mal.
Vá, não digo que aconteça pouco no livro: assumo que a história avança e os enredos tornam-se mais intrincados. O problema é que não acontece nada de particularmente interessante, e isto é bastante visível se pensarmos que acontece MUITA coisa no livro anterior. Há também muitos, muitos cliffhangers. Enquanto isto é giro na série porque vemos tudo a ficar pendurado ao longo de cinquenta minutos, aqui isso acontece ao longo de duzentas páginas e alguns são completamente enfadonhos e haja paciência. O problema que isto traz também é que é suposto isto acontecer exactamente ao mesmo tempo que outro livro completamente separado, e isso é tão complexo e tanta informação que não me admira que o livro a seguir ao A Dance with Dragons demore mais cinco anos a sair.
2/5 NOT SORRY
Podem comprar esta edição aqui, ou em português aqui.
Comentários
Enviar um comentário