Annie Ernaux é um nome que eu já tinha debaixo de olho há algum tempo, e o lançamento em Portugal deste seu livro que é, no fundo, uma memória colectiva de um país e de uma geração ao longo de décadas não me passou ao lado; já o tinha, aliás, na estante, desde então, mas a ansiedade pandémica afastou-me um pouco desta leitura durante algum tempo. Foi este Agosto, com o #womenintranslation, que decidi finalmente que chegara a hora. Os Anos é uma narrativa/colagem do período entre 1941, quando a autora nasce, e 2006. Não é necessariamente uma autobiografia ou um livro de memórias - é, aliás, um livro de memórias, mas mais que pessoais, colectivas: impressões, eventos, hábitos, músicas, filmes, moda, política, electrodomésticos. Estes são narrados de forma cronológica, na pessoa colectiva do "nós", com algumas memórias pessoais e referências a fotos antigas pelo meio, mas a autora acaba por se desligar de si mesma narrando estes detalhes particulares na terceira pessoa (a sua f