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A mostrar mensagens de outubro, 2018

Mortina

Livro perfeito para o Halloween. Mortina é uma menina absolutamente normal, que por acaso é um zombie. Vive com a Tia Falecida, o seu cão Tristonho e o gato Sombra na Mansão Decadente. Adora a sua casa, o seu cão e a sua família (há vários mementos de outros familiares ao longo da obra), mas o seu maior desejo é ter amigos. Isto porque a Tia Falecida lhe impõe uma regra: não pode dar-se com as pessoas da vila, antes que descubram o segredo da família. Sabemos, por outras obras, que isso realmente não costuma correr bem. Há vários filmes que mostram os aldeões enfurecidos, de archote em punho, motivados pelo medo e ignorância do desconhecido. Mortina muitas vezes ouve crianças brincar, e anseia poder juntar-se a elas. Quando, num desses momentos, descobre o Halloween, e que as outras crianças se disfarçam de monstros, ela resolve fazer um plano para se poder misturar e fazer amigos durante uma noite, indo vestida normalmente. Aceitam-na prontamente, elogiando o seu disf

Dois Corpos Tombando na Água

Fã incondicional de Alice Vieira em pequena, decidi dar uma chance à sua poesia. Em parte, esta chance deve-se também a este post  da Alexandra ; por outro lado, estava sentada numa poltrona na Biblioteca Municipal de Belém e vislumbrei este livro na estante ao lado, pelo que o retirei imediatamente. Primeiro, a edição: trata-se de uma colecção da Caminho chamada "Frente e Verso", que combina a prosa e poesia de autores que escrevem ambos os géneros. Do lado da prosa, encontra-se Às Dez a Porta Fecha , livro que li na minha infância e que por esse motivo não reli nesta ocasião; mas posso fazê-lo, se vos aprouver, repescando a minha edição da estante. tínhamos então a idade de tudo o que nos acontecia pela primeira vez protegidos pela sobra dos castanheiros de maio e     ainda que por breve tempo     chegámos a acreditar que um dia nos iríamos de novo amar ali exactamente ali entre o rio     as pontes     as estátuas a praia que roubávamos ao asfalto ond

Historias de adormecer para raparigas rebeldes

Andava há que tempos num vai-não-vai para comprar este livro (bem como o segundo volume). No meio de tamanha indecisão (indecisão essa que se prendeu muito com o preço, confesso), e com o advento da biblioteca municipal na minha vida, decidi trazê-lo comigo desde a Biblioteca Municipal de Belém. O livro consiste em 100 mini biografias de mulheres fortes, inspiradoras, algumas das quais mudaram o mundo, e cada biografia é de certo modo escrita como um conto de fadas - um pouco como "era uma vez". É um livro um pouco Estados-Unidos-cêntrico, como eu esperava, mas traz exemplos do resto do mundo, muitos dos quais eu desconhecia, como desportistas contemporâneas, rainhas tribais e imperatrizes asiáticas, e isso impressionou-me bastante. Frida Kahlo por Helena Morais Soares, Eufrosina Cruz por Paola Rollo A estrutura do livro é, portanto, "biografia" numa página, ilustração na outra. Mais que biografias, são histórias; as datas de nascimento e de

A Biblioteca

Bárbara Ferreira vai à biblioteca / requisita um livro intitulado A Biblioteca . Muita da minha curiosidade prendia-se também com a minha vontade de escapar ao cânone literário mais "comum", em termos de nacionalidades. Ex-Jugoslávia é sem dúvida uma lacuna enorme nas minhas leituras... Peguei, portanto, neste pequeno volume, sem saber ao que ia. Apenas sabia que seriam contos, por o ter tirado dessa prateleira (estou a adorar simplesmente olhar para as prateleiras da biblioteca e tentar perceber onde raio poderá estar o livro que procuro). Vi este livro frequentemente descrito como "fantasia", mas diria que é um mundo mais de Kafka que  de JK Rowling (das 72 páginas que li em 2001). Zoran Živkovic presenteia-nos com seis contos absurdos sobre bibliotecas e livros, nos quais é constante o questionar sobre o que se está a passar - seja por parte das personagens, seja por parte do leitor. Abre-se o desafio ao leitor para tentar compreender as histórias, m

Essa Dama Bate Bué!

Este livro chamou imenso a minha atenção pela capa, pelo título e pela premissa. A protagonista é Vitória que, tal como Yara Monteiro, nasceu no Huambo, em Angola, e veio com a família materna viver para Portugal muito, muito cedo. Filha da revolucionária Rosa Chitula, que fora afastada da família por se envolver na guerra civil, com ideias muito diferentes das do pai, assimilado, Vitória cresce sem mãe, sob a austeridade dos avós, que a criam para ser uma boa esposa. Tinha, aliás, um noivo, mais por conveniência que por qualquer outra coisa. E, semanas antes do seu casamento, no ano de 2003, Vitória vai para Luanda quase sem pré-aviso. «Tudo o que hoje preciso é de um casamento. Com certeza não tenho de ir. Nem conheço os noivos. O meu, daqui a três semanas. Um erro, o Dinis. (...)» Isto porque Vitória decide procurar a sua mãe, e parte para Angola apenas com dois nomes como pistas: Zacarias Vindu e Juliana Tijamba. Em Luanda, é prontamente recebida por Romana, antiga am

Os Livros Que Devoraram O Meu Pai

Comecei a ler Afonso Cruz por um dos seus livros juvenis. Há anos que ouço falar/me recomendam que leia este autor, e, sem ser o conto do Expresso , nunca tinha lido mais nada. O conto do Expresso deixou-me reticente, e confesso que este livro ainda deixou mais. Vi, no entanto, pela opinião da Rita , que este está muito aquém de outros, mais recentes... a ver se lhe darei uma nova oportunidade. Este livro tem como protagonista Elias Bonfim, um rapaz que nunca conheceu o seu pai, Vivaldo, porque este se perdeu num livro. Quando faz 12 anos, a sua avó apresenta-o ao sótão onde o seu pai guardava todos os seus livros. A partir daí, Elias começa a ler avidamente, na esperança de encontrar o seu pai, começando pel'A Ilha do Doutor Moreau, onde o seu pai se perdera, mas lendo também a obra de RL Stevenson (menos O Clube dos Suicidas, que é mencionado com algum pretensiosismo), Inferno, Crime e Castigo e Fahrenheit 451. Esta parte, em que ficção e "realidade" (a

A Misteriosa Chama da Rainha Loana

Fiz-me sócia da biblioteca. O que (finalmente) me motivou, além de uma mudança de emprego que favorece a boa relação com as bibliotecas municipais de Lisboa (para trabalhar quase a paredes-meias com uma), foi o facto de querer ler  A Misteriosa Chama da Rainha Loana , livro que me fora imensamente recomendado e que estava, vira eu, esgotado (foi recentemente reeditado pela Gradiva). Tinha aqui a oportunidade de iniciar relações com as bibliotecas, portanto... Há anos que queria ler Umberto Eco; tenho ali O Nome da Rosa  na estante, mas tenho medo de o ler, porque consta que Eco é denso e porque me lembro de achar o filme denso quando tinha 15 anos. E sim, sei que isto não é justo. Este foi, portanto, o meu primeiro encontro com o autor. Yambo (alcunha de Giambattista Bodoni), de 59 anos, é um alfarrabista especializado em incunábulos e outras raridades, que acorda de um "acidente" (ataque cardíaco ou algo semelhante) sem memória. Isto não é, aliás, totalmente v

Tanta Gente, Mariana + As Palavras Poupadas

Alguém se lembra da primeira vez que li Maria Judite de Carvalho ? Tendo, na altura, começado precisamente pela colecção de contos Tanta Gente, Mariana , comecei esta obra por As Palavras Poupadas , pensando que talvez lesse apenas essa parte. Tudo morre à noite, dizia Claude. Mas não, a vida é longa, desliza e escorre sem uma quebra. Uma sucessão de acontecimentos, uma corrente sem fim de palavras ditas e de palavras poupadas. Dessas principalmente. Tinha catorze anos nesse inverno e hoje tem trinta e quatro. Vinte anos em que nada morreu, nada, nem mesmo Claude, e em que pela manhã, ao acordar, tudo foi sempre dolorosamente igual ao que era ao adormecer. E ela ali está no mesmo sítio. Claro que quando acabei o último conto da segunda colecção de contos, tornei à página 1 e reli aquela que é uma das minhas obras favoritas. A review que linkei acima, a minha, de 2015, e que versa apenas sobre o conto que dá título ao conjunto, não faz grande jus à obra; ainda assim, por es

Um Útero é do Tamanho de um Punho

Livro para o qual estava super entusiasmada. Lembram-se? Já aqui referi várias vezes a minha enorme dificuldade a ler e comentar poesia. Este post  não será a excepção. Angélica Freitas escreve, para este volume, 35 poemas sobre mulheres, tentando definir mulheres, por vezes tentando-se definir a ela própria, no meio de uma visão cultural e identitária, crítica e humorística. Ou seja, não é mais um livro sobre ser mulher, ou condição feminina; é um livro que pega na perspectiva. Pega nos assuntos mais banais, nos maiores clichés, de um novo ponto de vista, sem autodepreciação ou pena de si mesma por ser mulher. queridos pai e mãe tô escrevendo da tailândia é um país fascinante tem até elefante e umas praias bem bacanas mas tô aqui por outras coisas embora adore fazer turismo pai, lembra quando você dizia que eu parecia uma guria e a mãe pedia: deixem disso? pois agora eu virei mulher me operei e virei mulher não precisa me aceitar não precisa

Uma Aventura no Palácio das Janelas Verdes

Aquele guilty pleasure  maravilhoso de ler o último lançamento de uma série favorita de infância. Confesso que este livro me estava debaixo de olho desde que saiu, ainda no início do ano. O motivo é simples: mais do que por ser da colecção Uma Aventura , que acompanhei até talvez o nº40, por se passar naquele que é o meu museu favorito de Lisboa: o Museu Nacional de Arte Antiga . Fui resistindo ao livro, no entanto - até que, como já sabem, se deu a Festa do Livro de Belém. Decidi aliar a leitura deste livro a uma nova visita ao MNAA, tendo-se tornado, assim, no museu que mais vezes visitei (antes estava empatado com o Louvre e com o d'Orsay, aos quais fui três vezes).  Aproveitei, assim, para rever algumas das peças que são mencionadas nesta obra. Lembro-me da primeira vez que visitei este museu, com 13 anos, na companhia da escola, e de aqui reconhecer a Custódia de Belém que, tal como as autoras referem no postfácio do livro, figura numa das aventuras anteriores, qu