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A mostrar mensagens de setembro, 2021

Cider with Rosie

O desafio de Setembro do #lerosclássicos2021 era ler um livro de não-ficção. Tinha este livro há vários anos em mente enquanto leitura desejada, e há já quase quatro anos na estante ( adquirido numa espécie de Cash Converters francesa ). Não sei o quão conhecido Laurie Lee é por cá (embora acredite que praticamente nada); o que sei é que, não obstante se ter definido como poeta, é esta memória da sua infância, extremamente popular no Reino Unido, que é a sua obra mais conhecida. Cider with Rosie  é, portanto, uma memória de infância - uma infância passada na aldeia de Slad, nos Cotswolds, em pleno Gloucestershire rural, para onde Laurie Lee se mudou com a família ainda muito pequeno, com 3-4 anos, ainda antes do fim da Primeira Guerra Mundial. O mundo de Slad é um mundo em vias de extinção, mas Laurie e a sua família não o sabem. The village in fact was like a deep-running cave still linked to its antic past, a cave whose shadows were cluttered with spirits and by laws still vaguely a

Station Eleven

Ler sobre uma espécie de fim do mundo causada por uma pandemia? Não vi o Contágio em Março de 2020 na HBO com o resto das pessoas (tinha visto no cinema) nem li A Peste do Camus no ano passado, quando toda a gente o fez. No entanto, e não sendo (longe disso!) leitora ávida de ficção científica, queria mesmo ler este livro. Station Eleven começa com a morte de Arthur Leander, um actor famoso que queria dar uma volta à sua vida e carreira, em pleno palco, enquanto está a representar King Lear. Ao mesmo tempo, uma epidemia de gripe (a Georgia Flu) está a espalhar-se muito rapidamente ao longo de todo o mundo: contágio é extremamente fácil - bastará passar segundos ao pé de uma pessoa; o período de incubação é quase existente, e os sintomas são letais. Assim, numa questão de dias, semanas, 99,6% da população mundial terá morrido. Não foi a carreira de Arthur Leander que sofreu um reset, foi a humanidade, a ideia de civilização. Os meios de comunicação desapareceram - tudo o que era conside

A Noiva do Tradutor

Este foi o meu segundo encontro com a escrita deste autor, o primeiro em formato livro. Ora, o primeiro encontro foi com este texto de opinião: Autoficção e o assassinato do romance. Sejamos claros: «A Resistência» de Julián Fuks não é um romance. Se tivermos em conta as suas dimensões, seria, no máximo uma novela (210 páginas, das quais quase metade estão em branco, em «cortes» entre os 42 capítulos); no entanto, a diferença entre novela e romance não é relevante para a minha afirmação. O que importa, isso sim, é a destruição do romance. Ora, não falamos de ciências exatas, mas um romance pressupõe - independentemente da sua estrutura, que pode ser elíptica, entrecortada, etc. - um acordo tácito e subconsciente entre o leitor e o autor: o leitor sabe que está perante uma obra ficcional e suspende, num ato muito curioso, a noção de realidade imediata; por outro lado, a responsabilidade está toda do lado do autor, que, ao escrever um romance, deve fazê-lo de modo a que, no contexto daqu

Women & Power

Um manifesto que, na verdade, é um conjunto de duas palestras dadas por Mary Beard: The Public Voice of Women , de 2014, e Women in Power , em 2017. De um ponto de vista académico, Mary Beard faz a ponte da voz dominante dos homens (que oprime a das mulheres) dos tempos de hoje até à literatura clássica grega e romana, a sua especialidade, argumentando que desde a antiguidade clássica, as mulheres têm sido marginalizadas e silenciadas. Sou entusiasta dos clássicos gregos e romanos, mas confesso nunca ter lido a Ilíada, e apenas excertos que me aborreceram muito da Odisseia (em minha talvez defesa, tinha 12 anos), e é fascinante encontrar neles algumas raízes da retirada do poder e do silenciamento das mulheres. You cannot easily fit women into a structure that is already coded as male; you have to change the structure. Como é que os mitos e crenças antigas, ancorados na misoginia, ainda hoje se reflectem no pensamento comum? Como é que as ameaças na internet se tornaram uma resposta co

História da Arte em 21 Gatos

Adoro gatos, adoro arte - que poderia falhar? Tendo tudo isso em conta, este livro foi prenda de aniversário por parte de algumas amigas, e decidi levá-lo de férias, enquanto leitura leve. Não sou a maior apologista de separar "leituras de férias" de "leituras de outros dias", mas este livro cumpriu perfeitamente esse propósito, por não obrigar a grande compromisso e não ocupar espaço em demasia. Através da História da Arte em 21 Gatos , viajamos ao longo do tempo, através de vários estilos artísticos, com a ajuda de gatos. Com apenas 98 páginas e belíssimas ilustrações, cada movimento artístico é-nos mostrado de forma criativa, bonita e colorida, adaptando algumas das obras mais famosas de cada movimento a uma ilustração felina, da autoria de Nia Gould. A ideia em si é, desde logo, bonita. Sò encontrei em inglês A estrutura do livro é bastante simples: uma página dupla com uma ilustração e uma breve história do movimento, seguida de mais duas páginas detalhando os

Feira do Livro 2021

Respiro fundo e lembro-me da força. Irei directa ao assunto: acho que é oficial que perdi o interesse (pelo menos, grande parte) pela Feira do Livro. Poderão ver já no post do ano passado que esta perda de interesse não é, necessariamente, recente; se seguirem a tag aqui do blog dedicada à Feira do Livro de Lisboa , verão que em 2014 só comprei uma sandes de leitão e um pacote de cartas Pokémon e que os anos seguintes (até 2019, inclusive, e progressivamente) é que descarrilaram*. Sofro de um enorme desencanto. Fui à Feira no primeiro dia, por motivos mais sociais/de blog que outra coisa, e vi uma multidão tal que só senti misantropia e muito pouco entusiasmo. A pandemia e o afastamento geral de pessoas a que me tenho, voluntariamente também, sujeitado, pode não ajudar. Fui também no primeiro dia de Hora H e acho que nunca mais ponho os pés na secção da LeYa: não só o Se Isto É Um Homem está constantemente esgotado à Hora H (vou comprar em inglês, tenho dito, esgotou-se-me a paciênci

Afectuosamente (Dearly)

Fui saboreando esta colecção de poesia aos poucos. De Atwood, vergonhosamente, ainda só tinha lido The Handmaid's Tale , há demasiados anos e com demasiados outros títulos a aguardar na estante. O facto de esta ser a sua primeira obra de poesia em cerca de vinte anos, no entanto, acabou por me aguçar particularmente a curiosidade, e fui lendo aos poucos esta edição bilingue - confesso que com particular ênfase às palavras no original (que transcrevo abaixo - mas recordo que o livro está em português, com o original inglês à esquerda, permitindo a comparação e apreciação de ambos). A colecção começa com um poema intitulado Late Poems , relembrando que estes são poemas tardios na vida da autora, de 80 anos: Late Poems These are the late poems. Most poems are late of course: too late, like a letter sent by a sailor that arrives after he’s drowned. Too late to be of help, such letters, and late poems are similar. They arrive as if through water. Whatever it was has happened: the battle

O Castelo dos Animais, Vol. 1: Miss Bengalore

Que difícil é falar de um livro assim, belíssimo! Com ilustrações magníficas de Félix Delep, Xavier Dorison presenteia-nos com esta obra que, de certa forma, revisita Animal Farm , de Orwell, modificando (parece-me!) o seu rumo através da introdução da esperança, dentro de um mundo totalitário, com a resistência pacífica à la  Gandhi, Mandela, Luther King, etc. Num antigo castelo dominado por animais, reina o medo e o trabalho forçado. Quem mantém esta ordem é Silvio, um enorme touro tirano que todos temem, usando uma guarda de cães de caça enquanto polícia quase política. A protagonista é Miss Bengalore, uma pequena gata, viúva e mãe de gatinhos, que tem de fazer pela vida, através de trabalho árduo e claramente desadequado ao seu porte físico. Um dia, um pequeno visitante inesperado vem depositar uma semente de esperança, e é com o seu vizinho, um coelho - ambos animais muito pequenos, ambos potenciais presas de cães - que tenta ganhar uma guerra sem recorrer às armas.   Tornam-se, a

2021 | Agosto

Mês mortinho aqui pelo blog. Comprados & Recebidos Vou deixar o que for relacionado com a Feira do Livro de Lisboa para um post  dedicado, aquando do fim da mesma. De resto, o mês foi algo profícuo: da Polvo, Os Regressos  e O Amor Infinito que te Tenho ; da Quetzal, O Livro dos Seres Imaginários ; de origem e língua estrangeira, The Guest Cat , Fun Home , Les Enfants Terribles , Belle de Jour  e L'Amant . Lidos Mês que começou estranho, mas lá encarrilou: The Queen's Gambit , de Walter Tevis , Passing , de Nella Larsen , O Castelo dos Animais , de Xavier Dorison e Félix Delep,  Os Regressos , de Pedro Moura e Marta Teives,  Mirtilo e Nina  (livro solidário da União Zoófila), Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica , editada por Natália Correia , Station Eleven , de Emily St John Mandel, Afectuosamente/Dearly , de Margaret Atwood, o Manifesto pela Leitura , de Irene Vallejo, e ainda comecei Women & Power: a Manifesto , de Mary Beard. Vou trabalhar nos posts de