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A mostrar mensagens de fevereiro, 2020

Sabrina

Estou a publicar esta opinião já muito após o hype editorial por cá (li a obra em Junho). Sabrina  foi a primeira novela gráfica a ser nomeada para o Man Booker Prize, e diria que é esse o factor que cativa muitos leitores. Conhecemos Sabrina, a personagem que dá título ao livro, a tomar conta dos gatos dos pais, a conversar com a irmã. Um dia, Sabrina sai de casa e não volta. Ou seja: uma mulher desaparece; a irmã dela entra em luto; o ex-namorado dela decide contactar um antigo colega da escola, muda-se subitamente para casa dele, ouve rádio, procura um gato, dorme, vive praticamente num coma emocional; o amigo da escola, um pai divorciado, não sabe se há de lutar pela família, ou pela sua carreira. Muito do livro é cinzento, tem demasiadas palavras, personagens desenhados de forma simplista e demasiado semelhante, tornando-o difícil de ler. É deste modo que acompanhamos um programa de rádio que trata de teorias da conspiração, que vemos personagens parados no cor

TAG | Calhamaços

De vez em quando rola a vontade de responder a uma TAG (daquelas que andavam a circular em 2017). Esta é sobre calhamaços, vulgo, livros com muitas páginas. Aqueles que assustam. Dado não haver uma definição oficial, meti a fasquia pelas 550.     1.      Maior livro da estante que já leu. Sou aborrecida e a minha resposta é básica. War and Peace , de Leo Tolstoy, lido (terminado, vá) em Abril de 2012. A minha edição tem 1392 páginas. 2.       Maior livro da estante que não leu. The New Penguin History of The World , de JM Roberts, com 1232 páginas. 3.       Calhamaço que tem medo de ler. Ora então, o  Vanity Fair , de William Makepeace Thackeray. 946 páginas. É enorme e a letra é tão pequenina... consta que é mega divertido, mas eu tenho escoliose e o livro está incólume na estante desde finais de 2013 .     4.       Calhamaço que tem muita vontade para ler. Les Misérables . Em francês. Ainda não comprei... em Paris só encontrava edições com o

The Threepenny Opera

O que eu adoro teatro. Há aquela eterna questão de as peças terem sido criadas para serem vistas, e não lidas; concordo, em grande parte, mas não consigo deixar de adorar ler peças (até devido à falta de oportunidades de ver muitas obras encenadas). Bertolt Brecht é um nome que há muito figurava do meu imaginário, e que há muito queria ler, vontade essa exacerbada quando vi A Boda  no CCB, em 2019. Assim, adquiri aquela que é a peça mais conhecida do autor - The Threepenny Opera , baseada na obra de John Gay, The Beggar's Opera , que nunca li. Coisas que não sabia (além de desconhecer a peça na qual esta se baseou): esta obra é um musical, tendo sido pela primeira vez encenada em Berlim, em 1928, e foi, à época, mal recebida, tendo-se posteriormente tornado um sucesso. Quando, em 1933, o regime Nazi forçou Brecht a sair da Alemanha, a peça fora já traduzida para várias línguas e encenada mais de 10.000 vezes. Fantástico? The Threepenny Opera  é uma dura sátira à

O Cão e os Caluandas

Livros sobre cães? Mas é claro. (O Lassie  aguarda-me na estante) Li O Cão e os Caluandas  por sugestão do meu respectivo, proprietário da edição em causa, não sendo a minha primeira incursão pela obra de Pepetela (já tinha lido A Parábola do Cágado Velho   e O Quase Fim do Mundo ). O cão em questão é um Pastor Alemão e, através de uma investigação, seguindo o rasto do cão, que deambula por Luanda, obtemos um retrato da sociedade pós-independência. A perspectiva é, sem dúvida, original - a recolha de vários relatos, em vários registos, não sendo possível ao leitor apurar o que será real ou falso, se o cão é sempre o mesmo (há relatos algo contraditórios sobre a localização do mesmo em determinado momento)... Mas será que isso importa? Todos os relatos apresentam um cão de personalidade peculiar, quase capaz de estar em dois sítios ao mesmo tempo - capaz de percorrer centenas de kilómetros em curto espaço de tempo, de viajar à boleia, seja de ferry , seja de carro. Desap

A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore

Raúl Brandão é um autor que tenho vindo a explorar com alguma curiosidade. Tendo já lido o fascinante El-Rei Junot , parti para esta obra, que me tinha sido descrita como aborrecida e, acima de tudo, irritante, pela frequente repetição de determinadas palavras (há uma opinião no Goodreads  que foca precisamente nessa repetição intensa). Estando já alertada, procurei ler a obra sem grande preconceito, por já ter lido o autor, e por ser de dimensão algo diminuta. O tamanho engana - o livro é denso. Primeiro, talvez, algumas considerações sobre a história da publicação da obra (o que explica o título algo bizarro): foi publicada, pela primeira vez, em 1896, intitulada simplesmente "História d'um Palhaço (A Vida e o Diário de K. Maurício)", do qual constam a história do palhaço, contada na terceira pessoa, e um diário, do próprio palhaço (cujo nome é, portanto, K. Maurício), onde lemos as reflexões do mesmo sobre as ocorrências da primeira parte. Trinta a

Como Viaja a Água

Queria ler este livro por ser do Díaz Canales. Ora, este critério é muito vago, porque eu só tinha lido o Blacksad , e nem nunca li a série inteira, mas o quinto volume, isolado, Amarillo (como se poderão lembrar) . Blacksad  pareceu-me sólido, mas não posso avaliar muito; portanto, fui sem ideias pré-concebidas sobre o autor e a sua obra (embora tivessem sido a motivação principal aqui). E não sabia sequer a temática do livro - adquirido às cegas, confiando, também, no selo da editora (há pessoas com quem adoro falar em eventos literários. Uma delas é a Vanda). Como Viaja a Água é um livro com o seu quê de noir , protagonizado por um grupo de idosos, Niceto, de 83 anos, e os seus amigos. Este grupo tinha lutado activamente contra a ditadura, e agora roubam e revendem objectos no mercado negro, para, com os lucros, jogar poker. O filho e o neto de Niceto estão cada vez mais preocupados com as alterações de humor do avô, com novas manias, por sair de casa e acabar perdi

A História de uma Serva (Novela Gráfica)

Continua a ser uma história incrível. Já tendo visto parte da série da Hulu, tinha grande interesse em descobrir o rumo que a adaptação de Renée Nault ia tomar ao adaptar e ilustrar a obra de Margaret Atwood. Ao contrário da série, aqui, segue-se fielmente o original, capturando maravilhosamente o sentimento da narrativa - o horror, a resistência crescente, a rebelião que não desiste. Em Gilead, as mulheres férteis são como objectos, são matéria-prima, recurso natural, utilizadas como receptáculo, como um meio para procriação; e A História de uma Serva é, principalmente, a história de opressão, solidão, tristeza e perda de Defred, que um dia teve um nome, mas agora é conhecida como sendo um pertence de um homem chamado Fred.   Mas esta review  não se deve focar na narrativa, nos personagens ou na construção do mundo, todos eles já conhecidos com a crescente popularidade do livro (os paralelismos possíveis para o nosso mundo actual são evidentes e aterradores); deve-s

21 Dias de Luta

Li esta obra por ocasião do 25 de Abril (vejam há quanto tempo já foi). Acaba por ser o meu segundo encontro com a obra de Urbano Tavares Rodrigues, muito diferente do primeiro, com O Eterno Efémero ; se, na primeira volta, li uma pequena obra de ficção, moderna (das últimas obras do autor), em 21 Dias de Luta  encontramos um conjunto de textos de não-ficção, com temática comum: o 25 de Abril e a Liberdade. Este livro, um documento histórico, dá-nos um retrato do período revolucionário pós-25 de Abril, relatado na primeira pessoa, por alguém que estava politicamente envolvido, tendo participado de forma activa na resistência contra a ditadura. E é um pouco sobre isso que este livro trata. Foi com esses que eu estive, foi por eles que me bati (...) Ao lado dos mais infelizes, dos mais desprezados é que estive. Mais uma vez, teimosamente, ao lado dos fracos e dos explorados. Não há sofisma que volte isto do avesso. Por isso, agora, exausto, reconsidero que estou certo no