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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2020

The Boys from Brazil

Nunca fui fã de thrillers, mas nunca serei capaz de resistir aos livros de Ira Levin. Descobri o autor por acaso. Já tinha Rosemary's Baby como um dos meus filmes preferidos (ainda não tinha percebido a questão do realizador) quando, aos 16 anos, li Non-Fiction  de Chuck Palahniuk, onde uma das peças é uma ode à obra de Ira Levin, e como o autor consegue sempre tocar nos medos mais escondidos da humanidade. Ser substituído por robots , não no trabalho mas na nossa vida pessoal, mais íntima? Ira Levin escreveu sobre isso . Mudar para um apartamento de sonho e ver a vizinhança apoderar-se das nossas vidas e estragar os nossos sonhos? Aqui . Ser observado por um senhorio louco? Ira Levin já cobriu esse assunto (num livro que ainda não li). Mesmo quando a sua obra entra num domínio mais  sci-fi , mais absurdo, paranormal, funciona. Porque são medos demasiado reais. São livros baseados numa premissa de " E se...? ", e são brilhantes. Ver Hitler regressar e subi

O Azul é uma Cor Quente

Será o azul a cor mais quente? Para Clémentine, a adolescente que se apaixona por Emma, a estudante de arte, activista, de cabelo e olhos azuis, decerto é. Em O Azul é uma Cor Quente , Julie Maroh narra a história de Clementine, uma adolescente de olhos grandes e sonhadores, cuja vida, sem cor, seguimos numa série de painéis cinzentos. Clementine vive o seu dia-a-dia sem qualquer paixão em particular, sem compreender por que é que tem receio de intimidade com o namorado, sem se conseguir relacionar totalmente com os seus pais e os seus colegas. E tudo muda quando vê, na rua, uma rapariga de olhos e cabelo azuis, Emma. A expressão de Clementine quando vê Emma pela primeira vez, numa rua de Lille, é reveladora: demonstra atracção, inveja e, acima de tudo, a confusão completa acerca daquilo que Emma a faz sentir. É o momento em que percebe que se sente atraída por alguém do mesmo sexo, e dá para ver a confusão que Clementine sente. A partir daqui, o mundo de Clementine c

Vathek

Desafio de Janeiro : um clássico anterior a 1800. Estava dividida entre Vathek  e Phédre , de Racine; o meu respectivo acabou por desempatar, a pedido, escolhendo este sem sequer ler a sinopse da alternativa. Há mais de uma década que tinha este livro na mira: é um clássico do gótico, escrito por William Beckford em 1782, originalmente em francês. Foi o seu amigo, Rev. Samuel Henley, que o traduziu para inglês, e consequentemente o publicou em 1786. A história das alterações do texto é interessante, as traduções e alterações várias, a falta de um texto definitio. Fora isso, não tenho particular interesse pela literatura gótica "original" - aquela com que Jane Austen goza em Northanger Abbey . Mas Beckford viveu em Portugal, tendo escrito extensamente sobre Sintra, Batalha e Alcobaça (há um marco com o seu nome nos jardins de Monserrate), e era sobrinho do Lord Hamilton . A obra retrata o Califa Vathek, um homem dedicado aos prazeres sensoriais, que constrói

O Livro dos Gatos

Um livro que se lê maravilhosamente em companhia felina. Já tinha este na estante desde a Feira do Livro de 2018, mas o destino quis que eu tivesse um gato antes de efectivamente lhe pegar e o ler. Tenho maravilhas a dizer sobre esta edição: embora não tenha as ilustrações mais clássicas de Edward Gorey, é belissimamente ilustrado por Axel Scheffler. É também uma edição bilingue, o que permite ao leitor (que, como eu, assim o pretenda) comparar o poema original e o traduzido. (fica aqui a nota que saiu, recentemente, uma edição da Assírio & Alvim, igualmente bilingue, com as ilustrações de Edward Gorey. Podem verificar aqui ) TS Eliot é conhecido por obras primas da poesia, como sendo The Waste Land  mas é também o autor desta colecção de 15 poemas sobre gatos, a maioria dos quais a falar de um gato com personalidade distinta (o ladrão, o velho sábio, o que nunca está satisfeito)... cada gato tem um nome, e esta obra é a base do musical de Andrew Lloyd Webber, que nu

Feminismo de A a Ser

Das pouquíssimas vezes que adquiro novos lançamentos. Motivo: a apresentação/sessão de lançamento do livro foi na UMAR , pelo que não só não podia faltar (já faço parte da casa há meia dúzia de anos), como comprei o livro. A apresentação contou com a autora, Lúcia Vicente, que achei de uma simpatia enorme, com Rita Marrafa de Carvalho, Miguel Somsen e a editora, Eurídice Gomes. Isto já foi há uma quantidade considerável de meses, confesso. O livro é curto e, como tal, não esperava uma vasta enciclopédia do mesmo. No entanto, a abordagem da autora foi muito interessante: há vários infographics  sobre disparidades entre os géneros, alguma cronologia sobre factos e pessoas da história e, a minha parte favorita, uma abordagem sociológica simples sobre a forma como a linguagem nos condiciona, muitas vezes, sem compreendermos, como há ideias pré-concebidas, como há dizeres entranhados que, sem nos apercebermos, moldam a visão do mundo. Coisas como "o meu marido ajuda l

O Homem Revoltado

O que é um Homem revoltado?, questiona, logo no início, Camus. O Homem que decide que chegou o limite, que tem de haver mudança. Esta é, no fundo, a minha terceira obra de Camus: li O Estrangeiro  em inglês, português e em adaptação a novela gráfica. Algures no meio, li L'Été , que é, tal como O Homem Revoltado , um ensaio. A premissa do livro é extremamente relevante: odiamos injustiça, logo, intuitivamente, parece correcto revoltarmo-nos contra a autoridade indevida, injusta. Então por que motivo corre sempre tão mal quando nos revoltamos, e nos deparamos então com uma injustiça ainda maior? (exemplos fáceis: Revolução Francesa, Revolução Russa) Camus guia o leitor através de pensamentos de vários filósofos, bem como através de causas e efeitos de revoluções históricas, religiosas, políticas ou mesmo artísticas (o que me levou aos tempos de faculdade e a aplicação do marxismo para as correntes artísticas dominantes). Explica como as iniciativas revolucionária

Clássicos para quem tem medo de ler clássicos

Um post  com uma lista de recomendações, obviamente relacionada com o desafio para 2020 que lancei há dias . Há toda uma ideia pré-concebida (no literal sentido de preconceito, diria mesmo) que os clássicos são aborrecidos, longos, maçudos, entediantes, difíceis... Mas, tal como na literatura contemporânea, há livros e livros - de todo o tipo de dimensões, temáticas e até mesmo géneros. Assim, decidi compilar alguns dos meus clássicos favoritos - livros que não considero aborrecidos (um julgamento pessoal, é certo), e que não são calhamaços à la Guerra e Paz (que também já li - e as partes da "paz" são uma quase telenovela sobre os amores e desamores de uma rapariga de 15 anos, imagine-se). CLÁSSICOS QUE NÃO SÃO ABORRECIDOS Adoraria, já agora, ter links para opiniões sobre todos os livros que irei aqui elencar; mas a maioria foi lida antes da incepção deste tasco virtual... The Bell Jar, Sylvia Plath Pensava que ia ler um livro sobre doença mental,

2019 | Dezembro

Dezembro é um mês demasiado curto. Comprados & Recebidos Temos aqui duas categorias diferentes: os comprados e recebidos ditos "normais", e os das prendas de Natal (parte das quais "de mim para mim"). Esta última categoria é a da foto acima: Putas Assassinas , de Roberto Bolaño, Medusa no Palácio da Justiça , de Isabel Ventura e Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer , de Carlos Vaz Marques. Na primeira categoria, os abaixo fotografados, da G. Floy: Fatale , colecção completa (vols. 1-5), de Brubaker & Phillips, Criminal, vol. 2 , da mesma dupla, o segundo volume de Gideon Falls , de Jeff Lemire, e a novela gráfica brasileira Dois Irmãos , uma adaptação de Fábio Moon e Gabriel Bá do romance de Milton Hatoum. Lidos Dezembro foi mais animado que Novembro em termos de leituras (e não seria difícil): arranquei o mês a ler O Livro dos Gatos , de TS Eliot , com a gata Mimi ao lado e ao colo. Li uma das obras adquiridas no Amadora BD