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A mostrar mensagens de fevereiro, 2016

The Starlight Barking

Porque a verdadeira sequela não se chama "102 Dálmatas", apresento  The Starlight Barking . Deixo logo na mesa o facto de este livro não ser, de perto nem de longe, tão bom quanto o primeiro, que considero maravilhoso, embora mantenha as mesmas adoráveis personagens. Este livro é uma espécie de science fiction  canina, onde acompanhamos, ao longo de um período de 24 horas, Pongo, Missis e, com destaque, a sua filha mais pequena, Cadpig, num regresso a Londres cerca de um ano após o final da aventura original. Os cães acordam num mundo silencioso em que tudo e todos dormem - a não ser que sejam cães, ou cães honorários (dois gatos e uma criança). Surgem poderes "metafísicos", como a capacidade de ouvir os pensamentos uns dos outros a uma enorme distância, praticamente "voar" ( swoosh ) e abrir portas e portões trancados. O que se passa? Será mais um plano da Cruella? Será um cão extraterrestre chamado Sirius que vive numa estrela? Será um dia d

The Hundred and One Dalmatians

Like many other much-loved humans, they believed that they owned their dogs, instead of realizing that their dogs owned them. Pongo and Missis found this touching and amusing and let their pets think it was true. Há todo um conceito que é comfort books . Tal como comida e filmes, livros que nos fazem sentir confortáveis e bem. Vejo frequentemente classificados nessa categoria o Pride and Prejudice  ou o Harry Potter . Nunca encontrei nada que preenchesse esse buraco na minha estante emocional, mas acho que este livro é um óptimo candidato. Este livro é adorável, absolutamente adorável. Dei-lhe prioridade por a minha box ameaçar apagar o 101 Dálmatas da Disney que tenho por ver, e desde logo encontrei algumas diferenças na história da qual ainda me recordo: a primeira é a personagem da dálmata Perdita; a segunda, a vilã Cruella, que no livro é descrita como jovem, excêntrica e elegante. Já li alguns clássicos para crianças, incluindo alguns que a Disney posteriormente

O Quase Fim do Mundo

E se um dia eu desse por mim sozinha, a única forma de vida animal no mundo? Chamo-me Simba Ukolo, sou africano, e sobrevivi ao fim do mundo. O livro começa com Simba, médico de 35 anos, o principal protagonista deste livro, a voltar para casa no seu carro e a ver um relâmpago - e a dar por si sozinho numa cidade com dois milhões de habitantes. Nada que seja telecomunicação funciona, roupas e carros abandonados na rua, estará louco? Atravessa a cidade procurando um psiquiatra para a sua condição, já que não pode ser a realidade. O banco, a estação da polícia, tudo vazio; na Noruega ninguém atende o telefone. Que se passa? Ao tentar assaltar o terceiro banco, encontra uma senhora de meia idade, Geny, que revela acreditar ser o fim do mundo anunciado na sua dura religião, os Paladinos da Coroa Sagrada. Começam a dar-se bem e a encontrar alguns outros sobreviventes, cada um a lidar com o choque à sua maneira, mas todos em choque. Jude, rapariga precoce de 16 anos (que é da

Misoginia e Anti-Feminismo em Fernando Pessoa

Enquanto que o meu novo emprego me retira tempo tradicionalmente ligado à leitura, o meu novo emprego oferece-me uma longuíssima viagem pendular que me fornece tempo suficiente para ter lido esta obra num dia. Nunca fui particularmente fã de Fernando Pessoa e das suas várias personalidades, perdão, heterónimos, acho-o maçudo. Um enorme símbolo cultural do país, a sua figura presente em canecas e t-shirts de lojas de aeroporto e não só, n'A Brasileira no Chiado. É engraçado pensar nas figuras proeminentes de Portugal dos últimos cerca de cem anos. Dos dois prémios Nobel, um renegou praticamente a sua nacionalidade e o outro ficou conhecido por lobotomias. Fernando Pessoa era um indivíduo que, do pouco que se aprende na escola, percebemos ser monárquico, fã do Sidónio Pais, quiçá perturbado, e a sua Ofélia. É pouco. Pessoa era "elitista, classista, muito politically incorrect , mesmo segundo os padrões da sua época". Esta frase coloca logo uma nova persp

Reading Women

Disclaimer : este blog deverá sofrer com o facto de eu ter arranjado um emprego que envolve algo mais do que picar o ponto, fazer todo o pouco trabalho que aparece e tirar fotocópias para terceiros. Enquanto não chega a próxima review , ficam algumas considerações. Todos sabemos que eu preciso de parar de comprar livros, eu acima de todos sei perfeitamente, mas não consigo resistir a bundles da Amazon embora me tenha de questionar sempre se o Marketplace apoia directamente a Amazon, que gostaria de boicotar por razões várias (desde o bullying  sobre o Goodreads ao facto de no dia do meu 24º aniversário me terem enviado um e-mail a dizer que os portes grátis para Portugal tinham acabado). Um dos meus objectivos, de anos e anos e anos, é ler mais livros escritos por mulheres. Mulheres foram excluídas da arte, da literatura, e tiveram um acesso muito mais difícil, escrevendo frequentemente sob pseudónimos masculinos. Em 2014 houve uma espécie de movimento que tal como t

Budapeste

Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira. Um ode à escrita, ao estrangeiro, às línguas, ao amor, a todas as suas complexidades, prazeres e dores, Budapeste  segue José Costa, ou Zsoze Kósta, talentoso ghostwriter entre Budapeste e o Rio de Janeiro, de um lado para o outro: a cidade na qual passara uma noite por acidente após um congresso de escritores anónimos torna-se numa segunda casa, numa vida entre as suas duas mulheres, Kriska e Vanda, e o seu entusiasmo com a língua húngara, a única que o Diabo respeita. O Danúbio, pensei, era o Danúbio mas não era azul, era amarelo, a cidade toda era amarela, os telhados, o asfalto, os parques, engraçado isso, uma cidade amarela, eu pensava que Budapeste fosse cinzenta, mas Budapeste era amarela. Duas línguas, duas cidades, dois romances tanto literais como literários. A identidade de José Costa dilui-se nos parágrafos, nas viagens, entre os livros, especialmente autobiografias, de que é verdade