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A mostrar mensagens de julho, 2018

A Hora da Estrela

A dose anual de Clarice. Este é o último livro da autora, uma novela na qual é relatado um tema ainda actual: a pobreza no Brasil. Rodrigo SM, o misterioso narrador do livro, diz que vai falar de uma outra pessoa, cuja identidade, a início, não é clara, no meio do monólogo errático do narrador - mas finalmente conhecemos Macabéa, a nordestina que procura uma vida melhor na cidade grande. – E, se me permite, qual é mesmo a sua graça? – Macabéa. – Maca - o quê? – Bea, foi ela obrigada a completar. – Me desculpe mas até parece doença, doença de pele. Rodrigo confessa a sua dificuldade em escrever sobre Macabéa, e é fácil compreender porquê. Macabéa é uma pessoa... diferente. Rejeitada desde a infância, em Alagoas, onde nascera, órfã desde muito cedo, maltratada pela tia que a criou. Mal Macabéa se tornou maior de idade, a tia procurou ver-se livre dela, e arranjou-lhe um emprego, ainda antes de morrer, no Rio de Janeiro, como dactilógrafa. Macabéa vive num cubí

A Casa de Bernarda Alba

Um dos livros para os quais eu tinha maiores expectativas. Tive a oportunidade de ver esta peça em cena pela byFurcação, no ano passado, e achei sublime. Estava à espera que o meu amor me emprestasse a sua edição (em espanhol), que ele lera em segredo antes de irmos ver a peça, mas por motivos vários isso não aconteceu até agora. Assim, quando a minha irmã recebeu esta edição de prenda, e após a ter lido e apreciado, pedi-lha. A Casa de Bernarda Alba  é uma peça singular por um motivo: não tem qualquer personagem masculina. Bernarda tem cinco filhas (Angustias, Magdalena, Amelia, Martirio e Adela), uma mãe louca, Maria Josefa, algumas empregadas, destacando-se Poncia. A visita que recebe é de uma mulher. No entanto, acabam por ser os homens o tema central, nomeadamente Pepe Romano. Foi a última peça que Federico García Lorca escreveu, pouco antes de ser assassinado, possivelmente pelas forças nacionalistas da Guerra Civil Espanhola. Esta peça, porém, tem pouco de político

El-Rei Junot

Quis ler este livro por um pequeno excerto que li num artigo da Sábado  descoberto por acaso. O príncipe regente bota a cabeça de fora e, ao avistar a carruagem de Carlota Joaquina, berra num desespero: – Parem! Parem! Voltem para trás que aí vem a p...! Estava D. João VI fugindo das invasões francesas, em direcção ao Brasil e, parece-nos, fugindo também da sua esposa. El-Rei Junot  é um livro único: de Raul Brandão, à data, conhecia apenas o nome (muito ligado a Húmus ), e esta obra tem uma estrutura extremamente atípica. Se pensarmos no Guerra e Paz , de Tolstoy, temos um romance histórico, que nos relata a guerra e lá entrelaça, nos tempos de paz, os dramas de algumas famílias russas; aqui, temos os relatos de guerra, da família real, da população portuguesa - a forma como o domínio francês sobre o território português afectou a história, a cultura e a sociedade do país. Portanto, para quem esperava um romance histórico: não é um romance histórico, embora envolv

Meninas

Finalmente colmatando a lacuna "Maria Teresa Horta" da minha lista de autores lidos. Optei por Meninas para começar por se tratar de um livro de contos, em prosa, sendo Maria Teresa Horta mais conhecida pela sua poesia; sendo eu conhecida por não saber apreciar poesia, pareceu-me uma escolha mais acertada. Conhecer um pouco da vida de Maria Teresa Horta ajuda a compreender a sua obra, que muito tem de autobiográfico. Em muitas entrevistas é possível ler sobre a relação da autora com a mãe, e em muitos contos é possível reviver um pouco desta relação. Beatriz, Laura, Maria do Resgate, Lucinha. Quando acordou já ninguém falava de outra coisa, a começar pelo príncipe D. João, radiante e sorridente. Mas a primeira pessoa a ser informada fora a Rainha. (...) Afeiçoara-se àquela menina arredia, como se ela de algum modo tivesse vindo substituir-lhe a filha que, no mesmo dia em que a infanta chegara vinda de Madrid, tinha partido para casar em Espanha. E se algu

Blacksad #5 Amarillo

Comecei a ler uma série de banda desenhada pelo volume 5. Comprei este livro no ano passado, maioritariamente pela capa, como poderão ter tido oportunidade de ler neste meu post sobre a Feira do Livro . É um gato a conduzir um carro amarelo, ou seja, basicamente tudo o que eu podia pedir da capa de um livro. Para quem segue este blog há pelo menos um ano, sabe que estou ainda a recuperar um certo atraso nos posts  - emigração laboral de dois meses, uma cirurgia e uma pós-graduação complicaram-me um pouco a vida. Assim, já sabem que eu comprei os volumes #2 e #4 na Feira do Livro de Lisboa , e, dada a sua indisponibilidade por terras lusas, irei encomendar os restantes na Amazon espanhola. Isto deve-se ao facto de, não obstante ter gostado deste livro, achar que o perceberia melhor tendo lido todos os anteriores. Ora, um carro amarelo, Amarillo, Texas, muito amarelo em geral. As cores neste livro são lindíssimas, o calor do sul dos Estados Unidos traz-nos mais amarelo e

O Baile

Mais uma para a onda de novelas gráficas que este blog atravessa. O meu companheiro comprou este livro no Contacto, em Abril, tendo-nos sido recomendado não só pelos senhores da Legendary Books, como pelos prémios que terá recebido. A ideia por trás é também bastante interessante: zombies e Estado Novo. E como combinar os dois? 1967, o Papa vem a Portugal. Assim, torna-se necessário " tomar medidas para que a visita seja exemplar e sem incidentes. Parte dessa iniciativa passa por calar e desmistificar rumores de actividades pagãs e sobrenaturais em vários pontos do país... ". Assim, Rui Brás, inspector da PIDE, é enviado a uma vila costeira para investigar "histórias de gaiatos" que reportam a existência de zombies no local. Nesta aldeia, nada é o que parece - o povo da aldeia é frequentemente atacado por um exército de zombies vindos do mar, que levam outros com eles. A culpa é atribuída a uma mulher (claro!), que canta à lua pelo seu amor perdido

A Sucessora

O livro que se desconfia que Daphne du Maurier plagiou. Começo por dizer que li Rebecca  há uma boa meia dúzia de anos e achei um muito bom livro (não como adorei  My Cousin Rachel ), não obstante a narradora tontinha que só sabia dizer coisas como "I'm so glad" e afins. Nunca vi o filme do Hitchcock, porque sei ser diferente numa parte essencial da história e fui adiando, mas lá chegarei. Ora, há uma enorme polémica porque consta que Daphne du Maurier se baseou nesta obra para escrever Rebecca .  A Sucessora  passa-se no Brasil, nos anos 30, e a sua publicação antecede a de Rebecca  por alguns anos, confere. Se formos pegar naquela outra polémica de Max e os felinos  vs Life of Pi , o Brasil parece ser um bom lugar para ir buscar inspiração literária. Se formos pegar nos clássicos gregos, percebemos que eles  iam todos buscar inspiração ao mesmo sítio, porque há umas cinco Medeias  e Electras diferentes e já Aristóteles dizia que há praí cinco histórias dife

Pássaro que Voa

Os pássaros migram - e as pessoas também. Pássaro que Voa , de Claudio Hochman, é um conjunto de contos que conta com ilustrações de Carlota Madeira Lopes, de 11 anos. Estes contos reflectem vidas migrantes, nas suas várias vertentes e dificuldades. Algumas das personagens são pessoas "comuns" - outras são pessoas de renome, como Einstein, Hemingway e Cortázar, que no decorrer das suas vidas, e por motivos diversos, migraram. Einstein! Entre histórias mais felizes e menos felizes, vamos acompanhando este grupo de pessoas, que saíram do seu país em busca de melhores condições de vida, a perseguir um sonho ou, simplesmente, em trabalho. Várias das histórias acabam por se interligar, na segunda parte do livro, e às vezes é necessário voltar atrás umas páginas para voltar a ligar as personagens. Encontros, desencontros e ligações. O destino destes migrantes raramente é revelado, bem como a época em que a sua mudança se deu; apenas sabemos que são pessoas que sa

2018 | Junho

E já lá vai metade do ano. Recebidos Recebi o mais recente livro de Ondjaki, Há gente em casa . Do autor, li apenas Os da minha rua , que adorei; o meu namorado tem mais livros dele, leu vários, e gosta muito. É desta que me estreio na sua poesia! Comprados Podem ver o absurdamente longo post acerca da Feira do Livro aqui ; estão lá as minhas compras e as do meu amor, e algumas estão fotografadas ali em cima, mas deixo aqui a lista (alguns destes foram comprados em Maio, ainda, mas ainda assim): O Imperador de Portugal, de Selma Lagerlöf AGAMEMNON: Fui ao supermercado e dei porrada ao meu filho e outras peças, de Rodrigo García Blacksad, volumes #2 e #4, de Díaz Canales e Juan Guarnido As Areias do Imperador, de Mia Couto O Outro Pé da Sereia, de Mia Couto O País do Carnaval, de Jorge Amado A Costa dos Murmúrios, de Lídia Jorge Perguntem a Sarah Gross, de João Pinto Coelho Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector Antologia Poética, de Bocage