Avançar para o conteúdo principal

Paper Towns

Voltei aos livros do John Green após a desmotivação dos dois primeiros, e tenho como nova missão acabá-los todos antes de poder partir para literatura que me aprouver mais.


O John Green tem uma particularidade da qual eu já me havia apercebido, que é escrever basicamente o mesmo livro várias vezes: puto geek com amigos idiotas idolatra rapariga linda, única e problemática, a qual não conhece (pelo que basicamente gosta dela pelo simples facto de ela ser bem parecida - que é sempre) e com a qual nunca falou, mas com a qual consegue sempre, sempre alguma coisa. As personagens principais deste livro, Quentin e Margo, são exactamente as mesmas dos seus dois livros anteriores.

O John Green não se esforçou por esconder ou iniciar o plot de maneira a tentar parecer estar a escrever uma história diferente, quer dizer, o primeiro parágrafo é:

The way I figure it, everyone gets a miracle. Like, I will probably never be struck by lightning, or win a Nobel Prize, or become the dictator of a small nation in the Pacific Islands, or contract terminal ear cancer, or spontaneously combust. But if you consider all the unlikely things together, at least one of them will probably happen to each of us. I could have seen it rain frogs. I could have stepped foot on Mars. I could have been eaten by a whale. I could have married the queen of England or survived months at sea. But my miracle was different. My miracle was this: out of all the houses in all the subdivisions in all of Florida, I ended up living next door to Margo Roth Spiegelman.

Aqui aprendemos que há quem veja como um milagre ser vizinho do lado de alguém.

Mas não quero com isto dizer que os livros do John Green são livros que gosto de odiar, ou algo assim; se me sinto demasiado velha para eles? Sim. Se acho que estou a ler o mesmo livro repetidamente? Sim. Se ler o mesmo livro repetidamente é chato? É, sim. Mas são bons para entreter? Sim, são.

Mas adiante, o livro está dividido em três partes, e na primeira o Quentin começa por contar como era amigo da Margo quando eram crianças, e tinham altos play dates, e ele achava muita piada à roupa dela quando tinham dez anos e coisas assim. Um dia, num desses play dates, encontraram o corpo de um vizinho que se tinha suicidado. Reagem ambos de formas muito diferentes ao evento, que virá a ter relevância em eventos futuros.

Nos praí oito anos que se seguem, Margo dedica-se a não falar com Quentin e a ser demasiado fixe para ele; ele dedica-se a ficar apaixonado pela sua amiga de infância, que basicamente não conhece, mas ela é bonita e popular! Portanto faz sentido, certo?

Numa noite no último ano do secundário, a Margo lembra-se que o Quentin existe e sobre pela janela dele e convida-o para uma noite de vinganças idiotas, rebuscadas e extremamente planeadas para com o namorado que a traía, a amiga com quem ele a traiu, etc, etc. Quentin descobre que Margo escreve com capitalização aleatória, em mais uma prova de que é um floquinho de neve especial. Despedida emocional, Quentin pergunta-se a si mesmo se no dia seguinte ela irá falar com ele na escola.

Assim começa a parte 2, que é o facto de a Margo não só não aparecer na escola, como ter fugido de casa e ninguém saber dela e não ter dito nada ao Quentin! Os pais dela dizem que ela já o fez mais vezes e trocam de fechadura, que ela tem 18 anos e eles têm mais com que se preocupar. Entra aqui um detective pseudo-intelectual com uma teoria sobre balões que comecei por pensar que era uma piada má.

“Listen, kid. This is what happens: somebody - girl usually - got a free spirit, doesn’t get on too good with her parents. These kids, they’re like tied-down helium balloons. They strain against the string and strain against it, and then something happens, and that string gets cut, and they just float away. And maybe you never see the balloon again. It lands in Canada or somethin’, gets work at a restaurant, and before the balloon even notices, it’s been pouring coffee in that same diner to the same sad bastards for thirty years. Or maybe three or four years from now, or three or four days from now, the prevailing winds take the balloon back home, because it needs money, or it sobered up, or it misses its kid brother. But listen, kid, that string gets cut all the time.”
“Yeah, bu-”
“I’m not finished, kid. The thing about these balloons is that there are so goddamned many of them. The sky is choked full of them, rubbing up against one another as they float to here or from there, and every one of those damned balloons ends up on my desk one way or another, and after a while a man can get discouraged. Everywhere the balloons, and each of them with a mother or a father, or God forbid both, and after a while, you can’t even see ’em individually. You look up at all the balloons in the sky and you can see all of the balloons, but you cannot see any one balloon.” He paused then, and inhaled sharply, as if he was realizing something. “But then every now and again you talk to some big-eyed kid with too much hair for his head and you want to lie to him because he seems like a good kid. And you feel bad for this kid, because the only thing worse than the skyful of balloons you see is what he sees: a clear blue day interrupted by just the one balloon. But once that string gets cut, kid, you can’t uncut it. Do you get what I’m saying?”

Heh.

Ao contrário dos Spiegelmans, o Quentin preocupa-se, preocupa-se e continua a preocupar-se. A Margo deixa pistas idiotas sobre o seu possível paradeiro, o Quentin fica obcecado e começa a pensar que ela se terá suicidado. Aqui, ele força os seus amigos, Ben, o idiota sexista que não consegue uma namorada, e Radar, o token black guy  que é obcecado com uma pseudo-wikipedia e consegue ser a melhor personagem do livro, a ajudá-lo na sua procura por uma rapariga que nunca falou com eles, nunca quis saber deles, e de quem eles nunca quiseram saber.

Quentin vai pesquisando coisas sobre "paper towns", "pseudovisions" "copyright traps" e "subdivisions" e vai pesquisando as localizações mais próximas, achando que vai encontrar um cadáver. Quentin pede carros emprestados a toda a gente para ir à procura da pessoa que não falou com ele durante anos, até que ele lhe foi útil uma noite.

Uma das pistas rebuscadas pela Margo foi o Leaves of Grass. Quando o Quentin começa a tentar interpretar Whitman e passa metade do livro a fazê-lo de forma pedante, torna-se incrivelmente irritante. Nunca ouvi a música da Lana del Rey, mas aposto que nem ela foi tão chata.

À medida que o tempo passa, os amigos do Quentin começam a achar que ela simplesmente não quer ser encontrada, mas ele insiste que ela está morta. Ele chateia-se com os amigos, sem sequer se aperceber de que está completamente obcecado e que se calhar os amigos têm razão. Ao longo de toda esta parte do livro, há debates sobre como será Margo capaz de se entreter num sítio sem internet, o que é triste.

Na parte três, o Quentin encontra um comentário na tal pseudo-wikipedia, com capitalização aleatória, pelo que só pode ser dela: Margo decidiu declarar à tal wikipedia que, até uma data específica (era já o dia seguinte), estaria em Agloe, New York. Quentin obriga os amigos todos a não irem à sua graduation para irem atrás de uma tipa que só era relevante para dois deles (porque entretanto o Ben começou a namorar com a Lacey, a amiga da Margo que lhe chamava gorda) numa roadtrip de mais de 20 horas.

Tudo isto por uma rapariga que nunca demonstrou querer saber dele, que não lhe falou durante ANOS. Uma rapariga sobre a qual nenhuma das personagens envolvidas sabe o suficiente, sem ser que é bonita e popular e faz coisas alegadamente grandiosas.

Quando finalmente a encontram, Margo grita com eles porque "não queria ser encontrada". Então e todas as pistas idiotas que ela lhe deixou? Yup, o único motivo que ela teve para o fazer foi ser uma idiota egocêntrica. Ela só fugiu de casa por atenção. Ela só deixou as pistas para se sentir fixe. Ela está a manipular pessoas emocionalmente, por mais que se tente justificar a ler partes do The Bell Jar, num enorme cliché. Isso está explícito no livro. Há uma tentativa de demonstrar que ela teria o mínimo de interesse no Quentin durante todos aqueles anos (tentativa muito pouco credível, na minha opinião). E ainda assim, ainda sendo ela uma miúda parva com a qual é difícil ter o mínimo de empatia, ainda tendo-se apercebendo disso, o Quentin beija-a no fim. UGH.

A questão é, esse era o objectivo dele desde o início. Ele queria encontrá-la porque queria ser o grande herói da vida dela bla bla bla white knight in a shining armor bla bla bla. Também horrivelmente egoísta. Também patético e creepy, acrescente-se.

3/5

Podem comprar esta edição aqui, e em português aqui.

Comentários

  1. A minha pergunta é: porquê insistir? A vida é tão curta e há tantos livros neste mundo que é um desperdício ler por obrigação. (Como sempre, adoro as tuas reviews.)

    ResponderEliminar
  2. Porque os comprei (todos juntos em mega deal na amazon, de quando eles tinham portes grátis para cá, belos tempos)! E porque se lêem em 1-2 dias, é leitura fácil e entretém um bocado - mesmo não gostando particularmente das histórias, não é um processo assim tão penoso, e não gosto de desistir (e já me falta pouco - estou a meio do penúltimo, que está, até agora, a ser um bocado melhor). Não são maus livros, são é muito, muito over-hyped.

    E muito obrigado :D

    ResponderEliminar

Enviar um comentário