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Three Soviet Plays

Este livro foi-me oferecido pela pessoa mais especial, comprado em segunda mão numa ida a Cascais.


Esta edição tem três peças de três autores diferentes, nenhum dos quais eu conhecia. Mas é a Penguin, são peças, e são soviéticos - toda uma receita de sucesso comigo que, mais uma vez, funcionou. A edição em si é óptima: tem toda uma introdução sobre teatro na União Soviética (na qual é mencionado o Bulgakov), e uma introdução a cada uma das três peças.

The Bedbug, de Vladimir Mayakovsky

Esta é honestamente das melhores peças que já li. Segundo a introdução, Vladimir Mayakovsky planeava, com o dinheiro que fizesse graças à peça, ir a Paris comprar um Renault, algo que conseguiu; o seu sucesso, no entanto, ficou-se pelo Renault. Esta peça tem como protagonista Prisypkin, proletário vulgar e alcoólico aspirante a burguês, cheio de insectos que a wikipedia me diz chamarem-se "percevejos de cama" em português, que tenta afrancesar o seu nome e se vai casar com uma mulher (que não a sua noiva original, Zoya, que se tenta suicidar devido à rejeição). Durante o casamento, o protagonista envolve-se numa luta que culmina num incêndio; apenas um corpo não é encontrado pelos bombeiros, sendo encontrado cinquenta anos mais tarde, congelado.

Daqui resulta uma cena muito Futurama: o protagonista é descongelado. Referência incrível logo no início do descongelamento:

PROFESSOR: Comrade Beryozkina, you have begun to live in the past and you talk an incomprehensible language, Just like a dictionary of obsolete words. What's 'business'? [looks it up in the dictionary] Business... business... bootlegger... Bulgakov... bureaucracy... ah, here we are: 'business: a kind of activity that prevented every other kind of activity'...

Não que eu concorde com o estatuto de obsoleto, mas ainda assim.

Prisypkin é descongelado juntamente com um percevejo de cama, espécie supostamente extinta e portanto vista com alto potencial para o Jardim Zoológico.

DIRECTOR: (...) There are two of them: the famous bedbugus normalis and... er... bourgeoisius vulgaris. They are different in size, but identical in essence. Both of them have their habitat in the mattresses of time.

Sendo que o Partido se tinha dado ao trabalho de, ao longo dos cinquenta anos decorridos, erradicar pessoas tais como Prisypkin, alcoólicos, burgueses, que dissessem asneiras. Quando se vê na jaula, como atracção, Prisypkin reage.

PRISYPKIN: Citizens! Brothers! My own people! Darlings! How did you get here? So many of you! When were you unfrozen? Why am I alone in the cage? Darlings, friends, come and join me! Why am I suffering? Citizens!...


Marya, de Isaac Babel

Marya é uma peça que julgo não ter compreendido tão bem. A família Mukovnin, de origem aristocrática, tenta adaptar-se a uma Rússia cujo sistema de classes se desintegrou, durante a Guerra Civil Russa. O patriarca da família, o General Mukovnin, está a escrever livros sobre a história militar da Rússia; a sua filha mais velha, Marya, é admirada por todos, e tem um cargo político qualquer. Ludmila, a irmã mais nova de Marya, quer-se casar com Isaac Bernstein, judeu que domina o mercado negro da cidade, e acha que sabe muito sobre homens mas acaba confundida com uma prostituta.

Marya é mencionada e citada e desejada ao longo da peça, mas nunca aparece.


The Dragon, de Yevgeny Schwartz

A última peça deste volume é descrita como sendo um conto de fadas. O protagonista, Lancelot, tem conhecimento, através de um gato, que há um dragão que governa a comunidade de forma despótica, sacrificando todos os anos uma rapariga. Nesse ano, a escolhida era Elsa. Elsa e Lancelot apaixonam-se um pelo outro à primeira vista, e Lancelot decide enfrentar o dragão.

No entanto, Elsa e o seu pai, Charlemagne, resignam-se à sua realidade.

CHARLEMAGNE: We're not complaining. Why on earth should we? So long as he's here no other dragon would dare touch us.
LANCELOT: But as far as I know all other dragons were killed off ages ago.
CHARLEMAGNE: But suppose you're wrong? I assure you that the only way to be free of dragons is to have one of your own. (...)

O dragão tenta fugir ao duelo, com a ajuda de Henry (o noivo de Elsa, a quem o dragão dera um cargo de poder para o consolar por ter escolhido a sua noiva) e o pai dele, o Mayor; com a ajuda do gato, Lancelot consegue derrotar o dragão, mas aparentemente morre também na batalha.

No entanto, matar o dragão não libertou as pessoas: um ano depois, o Mayor tinha ido para o seu lugar, alegava ter sido ele a matar o dragão, queria casar-se com a Elsa, e ninguém se estava a opor. Lancelot volta, imprevisivelmente, e mete ordem na coisa.

LANCELOT: (...) We have to kill the dragon in each one of them.

5/5

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