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The Two Towers

Após um início meio tremido com o The Fellowship of the Ring, que sofreu por muita conversa, muita cantoria, e muito pouca acção que não fosse comer ou cantar, vem uma segunda parte cheia de acção e menos musical.


Não sou fã de fantasia. Já escrevi isso neste blog quantas vezes mesmo? Mas isto está a ser incrível. Este livro em particular foi incrível. É sobre o bem e o mal e a natureza de ambos, é acima de tudo sobre o mundo que Tolkien construiu, é sobre como os vários indivíduos, de várias raças e origens, reagem quando se vêem no meio de uma guerra enorme e apocalíptica, que os assusta mas é inevitável, que os poderá mudar para sempre. Valores são mais importantes que a própria vida.

"Don't the great tales never end?"
"No, they never end as tales," said Frodo. "But the people in them come, and go when their part's ended. Our part will end later - or sooner."

E nunca acabam como histórias, porque da forma como Tolkien escreveu, parece-me que é o tipo de livro que vai ficar para sempre.

Este livro começa imediatamente onde o outro ficou, o que faz sentido porque a intenção original era este ser um livro só, não uma trilogia. Por isso mesmo, este livro começa um bocado "do nada" e acaba num cliffhanger incrível. 

Começa por se focar em Aragorn, que ouve o pedido de ajuda de Boromir mas chega demasiado tarde, assistindo à morte deste, e ouvindo dele que os hobbits foram levados pelos orcs. Legolas e Gimli chegam pouco depois e, incertos de quais os hobbits que foram levados (embora deduzam posteriormente que o Frodo terá partido na sua missão e levado o Sam com ele), decidem não desistir e ir atrás dos seus improváveis amigos. Vários capítulos seguem a sua jornada atrás do rasto dos orcs, até que passamos ao ponto de vista de Merry e Pippin, primeiro com os orcs e, depois de se conseguirem ver livre deles e escaparem, com Treebeard e os ents.

Aragorn, Gimli e Legolas encontram os Riders of Rohan, e reencontram o Gandalf, que agora é branco em vez de cinzento e que renasceu após a sua luta contra o Ifrit Balrog. Após despertar o rei de Rohan do feitiço de Wormtongue, Gandalf leva os seus três companheiros até Isengard, onde tem uma conversa incrível com Saruman na torre de Orthanc, e onde se reencontram com os hobbits, que contam da sua aventura até então.

"We were just wondering where it would be safe to lie and get some sleep, when the most amazing thing of all happened. There was the sound of a rider coming swiftly up the road. Merry and I lay quiet, and Treebeard hid himself in the shadows under the arch. Suddenly a great horse came striding up, like a flash of silver. It was already dark, but I could see the rider’s face clearly: it seemed to shine, and all his clothes were white. I just sat up, staring, with my mouth open. I tried to call out, and couldn’t.
There was no need. He halted just by us and looked down at us. 'Gandalf!' I said at last, but my voice was only a whisper. Did he say: 'Hullo, Pippin! This is a pleasant surprise!'? No, indeed! He said: 'Get up, you tom-fool of a Took! Where, in the name of wonder, in all this ruin is Treebeard? I want him. Quick!'"

Não há palavras para o quanto me ri com este reencontro.

Há também a batalha de Helm's Deep, em que Aragorn e os Riders of Rohan, liderados pelo seu recentemente recuperado rei, têm pouca esperança de ganhar, mas em que há este momento incrível:

"Why do you look out? Do you wish to see the greatness of our army? We are the fighting Uruk-hai." 
"I looked out to see the dawn," said Aragorn.
"What of the dawn...? We are the Uruk-hai: we do not stop the fight for night or day, for fair weather or for storm. We come to kill, by sun or moon. What of the dawn?"
"None knows what the new day shall bring him... ...Get you gone, ere it turn to your evil."

Gostei muito da primeira parte deste livro, que termina com a vitória em ambas as batalhas (Helm's Deep e os ents contra Saruman e os seus orcs) e o respectivo rescaldo, e onde Pippin e Merry revelam os heróis que podem ser.

Na segunda parte voltamos a acompanhar Frodo e Sam, sozinhos e a caminho de Mordor. Se bem que não estão tão sozinhos assim, pois o Gollum rapidamente os ataca - mas apelando ao lado bom que ele em tempos tivera, e ao mesmo tempo coagindo-o, Sam e Frodo conseguem dominá-lo, e Frodo pede o seu auxílio para chegar até Mordor, algo que Sam não aprecia por aí além. Sam desconfia constantemente do Gollum, e trata-o mal. A certa altura na sua viagem, Frodo e Sam adormecem juntos enquanto Gollum se afastara. Gollum regressa.

Gollum looked at them. A strange expression passed over his lean hungry face. The gleam faded from his eyes, and they went dim and grey, old and tired. A spasm of pain seemed to twist him, and he turned away, peering back up towards the pass, shaking his head, as if engaged in some interior debate. Then he came back, and slowly putting out a trembling hand, very cautiously he touched Frodo’s knee – but almost the touch was a caress. For a fleeting moment, could one of the sleepers have seen him, they would have thought that they beheld an old weary hobbit, shrunken by the years that had carried him far beyond his time, beyond friends and kin, and the fields and streams of youth, an old starved pitiable thing.

O que será que teria acontecido se Sam não tivesse acordado e sido agressivo com ele?

Grande parte da narrativa aqui é o atravessar de terras inóspitas e hostis, e a tensão entre Sam e Gollum (e do Gollum com o Sméagol, a sua suposta personalidade mais simpática), sendo de destacar o encontro com Faramir, o irmão de Boromir, que leva o Frodo a trair o Gollum - o que o leva a entregar Frodo e Sam a Shelob, uma aranha gigante que reside no meio do território dos orcs em Cirith Ungol.

Sabem como na review do Hobbit me queixei que há zero personagens femininas? Neste livro há duas. Éowyn, que neste livro não é muito relevante, mas de quem gostei nos filmes (e de quem espero mais no terceiro livro) e... a aranha. Acho que não tenho de explicar o quão problemático isso é. Também não julgo ter de explicar o problema em Éowyn ser descrita assim:

Thus Aragorn for the first time in the full light of day beheld Éowyn, Lady of Rohan, and thought her fair, fair and cold, like a morning of pale spring that is not yet come to womanhood. And she was now suddenly aware of him: tall heir of kings, wise with many winters, greycloaked, hiding a power that yet she felt. For a moment still as stone she stood, then turning swiftly she was gone.

Que é como quem diz, "olá objecto romântico pouco relevante pelo menos de momento mas desde já extremamente bem parecido, tal como as duas outras únicas mulheres a terem aparecido na saga até agora".

Mas estou-me a dispersar. A missão do Frodo torna-se muito mais entusiasmante à medida que se aproxima do final, e é interessante como neste livro se desenvolvem as guerras, a própria guerra do anel, sem a necessidade de localização e exposição do cenário que houve no primeiro livro. Também se desenvolvem amizades e do lado heróico das personagens, e das suas próprias personalidades, vendo a saga desenrolar-se através de várias perspectivas, e não só a de Frodo. A amizade e a ligação entre o Sam e o Frodo é incrível - e claro que se destaca a dinâmica entre o Legolas e o Gimli. O Sam torna-se muito mais relevante enquanto a janela através da qual acompanhamos a viagem de Frodo. O Pippin não é tão totó como parecia no primeiro livro mas ainda assim deu-lhe para ir brincar com o Palantír. E o Gollum é uma personagem fascinante.

Sam e Frodo seguem o seu caminho até Mordor com o Gollum, Pippin e Merry ajudam árvores gigantes a acabar com o Saruman, e Aragorn começa a juntar e liderar os povos da Middle Earth contra as forças do mal. Óptimo livro, portanto.

5/5

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