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The Water Cure

Tenho reviews em atraso desde Abril.



Por esse motivo, algumas das próximas publicações, que espero que regressem em quantidade, irão agrupar algumas leituras (enquanto fizer sentido, claro está; neste caso não faz sentido, portanto falo de um livro só).

The Water Cure é um livro ao qual cheguei através do Books That Matter, pelo que esperava há algum tempo na estante por ler. A premissa é de que é uma distopia feminista - mas acho que este apodo lhe foi atribuído para chamar mais a atenção sobre o livro.

Três irmãs, Grace, Lia e Sky, vivem numa ilha com a mãe e "King", a figura paterna. É explicado que na ilha, as mulheres estão a salvo de uma toxina vaga que os homens exalam e que causa sofrimento às mulheres (não entendi se isto é uma realidade distópica, ou uma premissa para um culto criado por King). Tudo o que as irmãs sabem, incluindo esta situação das toxinas, é porque lhes foi dito pelos pais. Para sobreviverem, King vai de vez em quando às compras, saindo de barco, usando um fato branco "especial" que o protege. Por algum motivo, King é imune à toxina. As mulheres estão a salvo com ele.

Também vimos a descobrir que, anteriormente, havia mais mulheres a viver na ilha, procurando uma "cura" para a toxina; a casa onde vivem parece ser uma espécie de hotel, ou spa, ou mesmo um sanatório (devido ao isolamento e às ideias de terapias), com livro de visitas incluído no qual foram, ao longo do tempo, deixadas algumas mensagens, que vão aparecendo no livro, e dão algumas pistas sobre "o mundo lá fora".

It's the men who don't even know themselves that wish you harm - those are the most dangerous ones. They will have you cower in the name of love, and feel sentimental about it. They're the ones who hate women the most.

No início do livro, King falha em voltar de uma das suas excursões de barco; em pouco tempo, a mãe e as irmãs presumem-no morto. Neste mundo aparentemente pós-apocalíptico, elas não têm a certeza de como irão sobreviver sem os mantimentos que King ia adquirindo de tempos em tempos, e terão de viver com o que sobra. Mais grave ainda, descobrimos que, não obstante ser mulher, e as toxinas serem supostamente masculinas, a mãe parece verdadeiramente sádica - as raparigas foram criadas num contexto de abuso elaborado sob a forma de "rituais purificantes" para a sua sobrevivência. São infantis e emocionalmente subnutridas.

Quando dois homens e um rapaz pequeno dão à costa na ilha e pedem abrigo, as coisas descambam rapidamente. 

There is a fluidity to his movements, despite his size, that tells me he has never had to justify his existence, has never had to fold himself into a hidden thing, and I wonder what that must be like, to know that your body is irreproachable.

O livro tem uma escrita muito bonita e ideias muito interessantes, e lê-se muito bem; fiquei constantemente curiosa com o que se iria passar, apesar de alguma (não total) previsibilidade e da incógnita em redor da realidade (culto ou distopia?), mas sinto que, não obstante a nomeação para o Booker Prize, no fim, a autora não conseguiu juntar as peças de forma a ter uma narrativa coesa e forte.

Trauma is a toxin that hooks into our hair and organs and blood and becomes part of us, the way heavy metals do, our bodies nothing more than a layering of flesh around everything ingested and experienced.

Isolação, abuso, repressão, irmandade.

3,5/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand; não se encontra traduzido para português.


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