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Assembly

Vi belíssimas opiniões sobre este livro - o que, acrescendo ao facto de ser bastante curto, me aguçou a curiosidade.


Assembly, de Natasha Brown, é um conjunto (encontro, como sugere o título da versão portuguesa) de vinhetas narradas na primeira pessoa, uma mulher negra de origem jamaicana que trabalha na indústria financeira em Londres. Ela e o seu namorado (branco, old money) vão a uma festa no jardim da casa da família dele, uma família que a tolera mas não aceita exactamente; ao mesmo tempo, a narradora fala do seu emprego, do assédio e micro-agressões que sofre, e também da sua saúde e da autonomia que pretende em tomar as suas decisões em termos de tratamentos.

I will be watched, that’s the price of admission. They'll want to see my reactions to their abundance: polite restraint, concealed outrage, and a base, desirous hunger beneath. I must play this part with a veneer of new-millennial-money coolness; serving up savage witticisms alongside the hors d’oeuvres... My thoughts, my ideas - even my identity – can only exist as a response to the partygoers' words and actions. Articulated along the perimeter of their form. Reinforcing both their self-hood, and its centrality to mine. How else can they be certain of who they are, and what they aren't? Delineation requires a sharp, black outline.

À medida que vai juntando as peças que lhe permitiram chegar àquele emprego, àquela relação (um namorado que ela parece não apreciar particularmente), à compra de uma casa, à aparente subida de posição na sociedade, a narradora não sente que encaixa exactamente em nenhum lugar, não tem independência, não tem identidade.

Gostei da forma como Natasha Brown escreve, mas o livro, embora curto (ou talvez precisamente por ser curto) assume um tom algo panfletário. Citações de bell hooks vindas do nada, partes que pareciam forçadamente didáticas, a explicar demasiado da narrativa, quase como se o objectivo da obra fosse ser um ensaio (legítimo, mas não aquilo que é vendido ao leitor).

É interessante, mas... para além da carga panfletária do livro, acho que, talvez pela forma escolhida (as vinhetas), falta uma profundidade emocional que agarre mais à narrativa.

3/5

Podem comprar uma edição física na wook ou na Bertrand; ou em português, na wook ou na Bertrand 


Comentários

  1. «(...) a explicar demasiado da narrativa, quase como se o objectivo da obra fosse ser um ensaio (legítimo, mas não aquilo que é vendido ao leitor)».
    Começo a ficar farta desta moda (mania? subterfúgio?) de não venderem «o que diz na embalagem» -_-

    Este livro interessa-me muito, mas se é assim tão breve e explicativo, já não sei...

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    1. nunca fui particularmente fã de livros onde o autor nos acha burrinhos e explica "a metáfora" e coisas assim, a esfregar na cara o porquê de estar a falar de X ou Y, neste caso, a ir buscar bell hooks e o raio para explicar o porquê de a narradora estar a vivenciar certas coisas.
      achei muito bem escrito, em termos estilísticos. no início prendeu-me, depois começou o... booksplaining?

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  2. Idem idem, aspas aspas, mas com menos generosidade nas estrelas. Já li cartazes mais profundos e originais, capazes de passar a mensagem de modo mais inteligente.
    Que 2023 te traga de volta aqui nesta boa forma de escrita e te dê coisas boas na tua vida pessoal, Bárbara!
    Paula

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    Respostas
    1. Eu acho que a autora escreve bem, daí talvez a generosidade estelar :) apenas não me agradou o formato.
      Muito obrigada, Paula! Quero mesmo voltar aqui com mais assiduidade!

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