Publico esta opinião muitos, largos meses após ter lido o livro.
Publico também, curiosamente, no (já ultrapassado, que já foi há uma semana talvez) rescaldo do anúncio da edição da prosa completa de Sylvia Plath para 2024, que vi na internet mas agora que queria linkar, não encontro (mas se pesquisarem "complete prose of Sylvia Plath" aparece um link da Amazon com a pré-venda do volume da Faber & Faber.
The It Doesn't Matter Suit and Other Stories é um conjunto de dois contos e um poema infantis, escritos por Sylvia para os seus filhos, Frieda (cujo livro George me apela imenso) e Nicholas. Esta obra é um pouco diferente daquilo que conhecia de Sylvia Plath, mas não surpreende a sua versatilidade e amplitude enquanto escritora, nem a forma como conseguia alcançar o mundo imaginativo da infância.
O conto que dá o título à colecção é sobre Max Nix, cujo sonho era ter um fato. Este fato seria a roupa perfeita para toda e qualquer ocasião.
If Max had a suit for doing Everything, the cats in the alleys and the dogs of Winkelburg would follow him uptown and downtown, purring and grrring with admiration.
Enquanto pessoa (cuja cadela) é seguida por gatos de rua, compreendo perfeitamente de onde viria este desejo de Max. Um dia, chega à casa da família (Max é o mais novo de muitos irmãos) um "wonderful, woolly, whiskery, brand-new, mustard-yellow It-Doesn’t-Matter Suit". Os irmãos vão experimentando o fato, um a um, do mais velho ao mais novo - todos o vão rejeitando, a mãe Nix a fazer cortes e costuras a cada um de modo a que lhe sirva, todos com receio que o amarelo mostarda, a lã, a textura do fato seja inadequada para qualquer tipo de actividade, todos com receio que as pessoas de Winkelburg os julgassem. Todos, até que o fato chega a Max.
Quantas coisas não rejeitamos com medo (infundado, desnecessário) do julgamento dos outros?
O segundo conto, Mrs. Cherry's Kitchen, tem alguma magia e muita imaginação e, de certo modo, antropomorfiza electrodomésticos (dos pequenos aos grandes). Mrs Cherry, uma fada do lar, com muito brio na sua cozinha, que agradece à sua torradeira sem saber que existem forças mágicas por trás da mesma (os pixies Salt e Pepper) - e sem saber que o agradecimento não é suficiente, que a torradeira quer fazer mais da sua vida. Talvez um pouco moralista se lido de forma muito literal - a cada um o que é seu, a sua função, ficar limitado ao papel que nos foi atribuído -, mas nem eu estou assim tão mal humorada para ler o conto assim. É divertido.
Por último, The Bed Book não é um livro, mas sim um poema sobre camas. Foi o que menos gostei dos três textos deste pequeno volume, mas percebo o seu encanto. Acho que nunca tinha lido um poema sobre camas...
Ilustrações de David Roberts.
4/5 não é o melhor da Sylvia Plath, nem o melhor livro infantil que já li
Podem comprar esta edição na wook, ou em português com as ilustrações de Rotraut Susanne Berner, na wook.
Comentários
Enviar um comentário