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The Time Traveler's Wife

Este foi-me oferecido há uns Natais atrás. É também um dos livros mais populares do Goodreads (o 20º mais lido nos demasiados que tenho adicionados neste momento).


Apesar de ter demorado um bocado a chegar a este livro (a dimensão do mesmo assustava-me um pouco - li-o em dois dias), estava entusiasmada por o ler finalmente. Porém, este livro é daqueles que não percebo muito bem se gostei se não - ao mesmo tempo que gosto da premissa, e da história em si, tenho vários problemas com a mesma.

Henry é o time traveler do título. Trabalha numa biblioteca e tem uma deficiência cromossomática chamada "chrono-displacement disorder" (conforme eventualmente descobre) e, desde os seus cinco anos que, em tempos mais conturbados ou simplesmente do nada, viaja no tempo. Sem máquina do tempo, sem sequer por vontade própria - apenas aparece nu em sítios e tempos que muitas vezes desconhece. Como se isto não bastasse, Henry tem uma vida por si só conturbada, com a morte da mãe, a depressão do pai, o seu envolvimento com mulheres e hábitos destrutivos.

Aqui entra a parte da história de amor, que é simultaneamente a parte confusa: Henry conhece Clare quando tem 28 anos, na biblioteca onde trabalha. Clare conhecia-o desde os seus seis anos (tem agora vinte), e passara os últimos anos à procura dele. Nos seus 30s-40s, Henry tinha acidentalmente visitado continuadamente a pequena Clare - enquanto, ironicamente, abandona a Clare do presente. O passado, o presente e o futuro confundem-se, e algumas cenas indiciam o que se passará posteriormente. E nada pode ser mudado, porque de certa maneira tudo já aconteceu.

"I won't ever leave you, even though you're always leaving me."

A narrativa é contada em monólogos das duas personagens principais, dos seus dois pontos de vista e várias idades. Desta maneira, sabemos que algo vai acontecer, ou que aconteceu, mas nunca totalmente até ambas as personagens o terem vivenciado: para Clare, está tudo no passado, entre os seus seis e os seus dezoito anos; a parte um bocado creepy é que para Henry acontece muito mais tarde - a Clare com vinte anos idealiza um Henry que só existirá mais tarde. A falta de sintonia cronológica entre ambos é bastante interessante.

"But you make me happy. It's living up to being happy that's the difficult part."

É uma abordagem interessante a viagens no tempo, e é uma abordagem interessante a questões de destino, de não poder mudar o futuro. Pessoalmente, tenho uma visão um bocado determinista do mundo: gosto de acreditar que as coisas acontecem por um motivo, parcialmente porque isso torna as coisas um bocado mais fáceis. É mais duro, porque o sofrimento não pode nem poderia ser evitado - mas, ao mesmo tempo, dá-lhe um significado. E tudo é justificado. Posso ter ido a umas vinte entrevistas de emprego e não ter conseguido nada - mas quando consegui, foi lá que conheci o meu grande amor. Tudo faz sentido no fim, tudo tem significado.

Mas estou a dispersar imenso, e vou falar das coisas más deste livro.

Por que é que o Henry tinha de acabar nu sempre que viajava no tempo? Por que é que ele tinha sempre de querer roubar Doc Martens para mostrar o quão badass é?

Por que é que havia tantas listas e name dropping de comida da moda, bandas punk para reforçar o quão badass e fixes as personagens principais são? Listas de compras do supermercado, a sério?

As personagens são pouco desenvolvidas, acho. A Clare principalmente é muito unidimensional. Não temos muita ideia do que ela sente quanto ao seu marido a abandonar tantas vezes. Não sabemos os sentimentos do Henry quanto a saber coisas desastrosas acerca do seu futuro. Os problemas de drogas e alcoolismo do Henry são totalmente ignorados, dado que a Clare não quer saber porque a vida dela se define pelo seu amor pelo Henry, pelo seu casamento, e pela sua carreira artística. São personagens egoístas e pretensiosas, e passam metade do livro ou na cama ou a fazer café, o que faz a relação deles parecer menos romântica e desesperadamente star-crossed lovers e mais in it for the sex.

Clare é a definição suprema de poor little rich girl, bem como todas as personagens do livro. São todos de classe média alta ou acima, dão-se bem na vida, têm empregados de cor.

Há coisas que podiam ter sido mais desenvolvidas: o Henry mantém um emprego numa biblioteca mesmo desaparecendo do nada e reaparecendo nu frequentemente. Não percebemos como o Henry passa de desastre total a um bom marido com maturidade suficiente, e não percebemos a transformação do pai do Henry. Enquanto que o livro faz um óptimo trabalho a "saltar" no tempo e a mostrar os cruzamentos do passado da Clare com o futuro do Henry e o presente de ambos, e a evolução da sua relação, há coisas que podiam ter sido cortadas e coisas que podiam ter sido mais exploradas.

Por fim, o Gomez é praí a pior personagem de sempre.

Não desgostei do livro, embora lhe tivesse encontrado umas quantas falhas - mas acho que o teria apreciado mais se fosse mais nova.

"Don't you think it's better to be extremely happy for a short while, even if you lose it, than to be just okay for your whole life?"

3.5/5

Podem comprar esta edição aqui, ou em português aqui.

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