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The Secret Garden

Peguei neste porque ando com pouco tempo para ler, e pareceu-me que seria fácil, porque children's classics, e tal. 


Não estava errada - lê-se bem. Mary Lennox é uma miúda de dez anos que vive na Índia Colonial e cujos pais não a pareciam querer, e, como resultado ela era uma péssima criança, que dá chapadas às empregadas e diz coisas como “People never like me and I never like people” (I FEEL YOU HOMEGIRL). Há uma epidemia de cólera, os pais dela morrem, os escravos morrem ou fogem, ninguém se lembra dela, e ela vai para casa do tio que também não quer nada com ela - nem com ninguém, desde que a sua esposa faleceu, dez anos antes. Rapidamente, e enquanto a maioria das pessoas não quer saber dela e a acha incrivelmente desagradável e pouco bem-parecida, ela descobre que há um jardim trancado há dez anos.

Aqui começa um dos meus problemas - o facto de a maioria dos adultos do livro mencionarem frequentemente que a Mary era tão desinteressante, vá, banal, vá, feiinha, coitada, enquanto a mãe dela era lindíssima. Porquê a necessidade?

Mas adiante, a empregada da casa, Martha, tem um irmão chamado Dickon, que tem doze anos e adora animais e os animais adoram-no, o que se torna irritante por vezes. Ele é no entanto boa pessoa, mas acho que nem a Branca de Neve tinha tanto bicho atrás. Tanto ele como a sua mãe são personagens unidimensionais que toda a gente adora instintivamente (porque de resto não há grandes motivos, suponho). A Mary descobre a chave para o jardim secreto, descobre o jardim, pede ajuda ao Dickon para o trazer de volta. Inserir aqui longas descrições sobre jardins.

Depois, embora o livro comece como sendo a história da Mary, rapidamente se torna na história do Colin, o seu primo chatíssimo que se achava deficiente e fazia birras por tudo e por nada, porque queria, porque toda a gente o deixava fazer tudo (e o seu direito de mandar em toda a gente nunca é questionado) e porque o pai dele o negligenciava ainda mais que à miúda. E o Colin é uma seca do caraças, que se sente imediatamente melhor da primeira vez que sai de casa e vai para o jardim que era da sua mãe, e acha que está a ficar melhor porque MAGIC! SCIENTIFIC EXPERIMENTS! CHANTING! I SHALL BE A SCIENTIST! Pelo que o último terço do livro é estranho e desinteressante, mas até aí a história foi boa. Mas tipo, parem de me empurrar as vantagens de brincar ao ar livre. Já percebi, é saudável, traz alegria, correr pelos campos, natureza, animais, plantas, exercício, pensamentos positivos, MAGIC! YOU'LL BECOME BETTER LOOKING!

'I shall live forever and ever and ever' he cried grandly. 'I shall find out thousands and thousands of things. I shall find out about people and creatures and everything that grows - like Dickon - and I shall never stop making Magic. I'm well! I'm well!'

UGH.

A ideia do livro é que só é possível demonstrar amor e ser-se uma pessoa gostável se isso nos for demonstrado primeiro - a Mary passa de uma péssima e mimada criança para uma criança feliz e normal, idem para o Colin, e no fim o pai do Colin passa a querer saber dele, porque ele afinal é saudável e não apenas uma má e doente recordação da sua falecida, magia bla bla bla, mas quem é que quer saber da Mary?

É, apesar desta cínica review, um bom livro.

3.5/5

Podem comprar esta edição aqui e em português aqui.



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