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Restless

A FNAC ofereceu-me este livro no verão de 2009 na compra de uns quantos Pinguins. Ficção histórica e espionagem nunca me pareceram dos meus assuntos favoritos, mas quem diz não a livros grátis? Mesmo que demore quase cinco anos a pegar neles?


A história alterna entre o relato de Eva, espia durante a II Guerra Mundial, e a vida da sua filha, Ruth, nos anos 70 em Oxford, que até então desconhecia a verdade sobre a sua mãe, que afinal não se chama Sally e é russa e foi espia e todas essas coisas giras. A narrativa é construída tentando estabelecer paralelismos entre a vida de ambas - isto é feito de forma muito fraca, tentando meter radicalismo alemão e iraniano pelo meio.

Isto não funciona, primeiro porque me parece uma tentativa de reforçar a parte mais fraca do livro, e por não me fazer sentido que uma mulher leve o filho de praí seis anos a manifestações da SAVAK que se poderiam tornar violentas (se bem que o puto fala como se tivesse quarenta anos, portanto também há isso); segundo, porque o facto de a mãe relatar o seu passado à filha por fascículos escritos na terceira pessoa me parece pouco credível e se torna um bocado aborrecido, e se ela tinha assim tanta pressa ou necessidade, contava-lhe as coisas em vez de lhe escrever um livro lentamente.

Voltando à cena do radicalismo random, isso introduz toda uma série de personagens irrelevantes, como: o tio alemão do puto quarentão, que anda nu pela casa e entrou em filmes pornográficos e que a Ruth acolhe só porque não quer dizer que não; a tipa que se junta a eles e que parece que traficava droga; Hamid, o pretendente iraniano engenheiro da Ruth. Nenhuma destas personagens é relevante ou adiciona o que quer que seja à história.

E já agora, a Ruth é apresentada como super floquinho de neve especial mãe solteira super inteligente maravilhosa todos os homens a querem, desde o iraniano a quem ela dá aulas de inglês ao seu orientador da tese a sei lá, toda a gente. A mãe dela, Eva/Eve/já nem me lembro/acho que era Lucy/Sally também é descrita como irresistível e incrivelmente bem parecida. Vou destacar (e pela negativa) esta técnica de sedução incrível e infalível e que possivelmente já passou numa qualquer Cosmo:

She remembered something a woman in Paris had told her once. A woman in her forties, much married, elegant, a little world-weary. There is nothing easier in this world, this woman had claimed, than getting a man to kiss you. Oh really? Eva had said, so how do you do that? Just stand close to a man, the woman has said, very close, as close as you can without touching - he will kiss you in one minute or two. It's inevitable. For them it's like an instinct - they can't resist. Infaillible.

Heh.

E voltando à questão das suas várias identidades, ela troca de identidade como quem troca de cuecas, o que faz sentido, tendo em conta que vida de espia e manter identidades secretas e faz sentido! Mas o espião principal que a recrutou e que lidera toda a operação mantém a mesma identidade a vida toda, e é localizável numa lista telefónica e isso, quando, trinta anos depois, a Eva-Sally decide que é paranóica e que a vão matar e que precisa de o encontrar. Quão... útil.

3/5

Podem comprar esta edição aqui ou em português aqui.

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