Comprado por 3€ nuns maravilhosos saldos da FNAC em 2010, em que comprei três livros do Hemingway, eis-me finalmente a ler este court drama.
None of those other things makes a difference. Love is the strongest thing in the world, you know. Nothing can touch it. Nothing comes close. If we love each other we're safe from it all. Love is the biggest thing there is.
O livro começa em Dezembro de 1954, na ilha fictícia de San Piedro, no julgamento de Kabuo Miyamoto, um pescador nipo-americano (é assim que se diz?) que está a ser acusado do homicídio de Carl Heine, um outro pescador da ilha. O motivo para o crime são, aparentemente, sete acres de terra que Kabuo sente que foram roubados à sua família pelos Heines, na altura em que a família Miyamoto, assim como todos os outros japoneses da ilha, foi enviada para Manzanar durante a Segunda Guerra, após Pearl Harbour; Kabuo lutou pelos Estados Unidos na Europa.
Carl Heines foi encontrado morto nas redes do seu barco, e durante o julgamento (muitíssimo baseado num estereótipo: uma ferida na cabeça de Carl era semelhante a uma ferida típica de ataques de kendo) torna-se nítido que o que está em causa é mais do que a culpa de Kabuo Miyamoto: é a história e as memórias da ilha e dos seus habitantes antes da guerra, a guerra e os campos para os quais os japoneses foram exilados, memórias de um amor proibido, de contratos sobre terrenos, é um livro sobre amor proibido, lealdade, patriotismo e racismo.
No tribunal, vemos a história do ponto de vista de cada uma das testemunhas, de pessoas que sabiam da relação entre Carl e Kabuo, da história dos terrenos. Ao mesmo tempo, flashbacks da história da ilha revelam como se chegou àquela situação, como Pearl Harbour e os eventos seguintes definiram a vida de várias das personagens e causaram aquela situação.
Também no tribunal encontramos o repórter Ishmael, ferido de guerra com um braço amputado, que em novo era o namorado secreto de Hatsue, a esposa de Kabuo, e que ainda sofre por ela e pelo seu amor proibido, que a ama desde criança e que sempre teve a esperança de se vir a casar com ela. Temos, ao longo do livro, várias imagens do seu romance antigo:
Inside their cedar tree, for nearly four years, he and Hatsue had held one another with the dreamy contentedness of young lovers. With their coats spread against a cushion of moss they'd stayed as long as they could after dusk and on Saturday and Sunday afternoons. The tree produced a cedar perfume that permeated their skin and clothes. They would enter, breath deeply, then lie down and touch each other - the heat of it and the cedar smell, the privacy and the rain outside, the slippery softness of their lips and tongues inspired in them the temporary illusion that the rest of the world had disappeared...
E a visão de Hatsue sobre o romance, desde sempre mais fria:
How could they say that they truly loved each other? They had simply grown up together, been children together, and the proximity of it, the closeness of it, had produced in them love's illusion. And yet - on the other hand - what was love if it wasn't this instinct she felt...
E dentro da história, graças às descrições, a ilha é quase tanto uma personagem como as personagens em si:
Center Valley's strawberry fields lay under nine inches of powder and were as fuzzy through the snowfall as a landscape in a dream, with no discernible hard edges. On Scatter Springs Drive the trees had closed the road in so that the sky was little more than an indistinct, drab ribbon overhead, but down here the dramatic expanse of it was visible, chaotic and fierce. Looking out past the windshield wipers Ishmael saw billions of snowflakes falling in long tangents, driven southward, the sky shrouded and furious.
O conflito aumenta quando Ishmael descobre provas cruciais quanto à morte de Carl, e o dilema moral que sente na sua consciência entre o seu amor por Hatsue e fazer a coisa certa. O mistério é finalmente resolvido, nas últimas três páginas, de uma forma que traz uma conclusão ao livro - mas todo o drama do tribunal parece secundário ao lado da restante história, uma história de amor proibido, da capacidade humana para o preconceito e o ódio, uma história escrita de forma muito bonita.
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