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L'amant

Très vite dans ma vie il a été trop tard.





Ressuscitemos este blog, sim?


Apesar da minha imensa curiosidade, que durava já anos, nunca tinha lido Duras. Foi sobre L'amant, um livro curto, de narrativa não-linear, possivelmente o seu mais conhecido, que recaiu a escolha da minha primeira leitura.


A ideia base do livro será talvez conhecida do público geral: nesta obra de auto-ficção, uma rapariga de 15 anos e meio (Duras), de origem francesa mas a viver na Indochina (actual Vietname, mais ou menos), tem uma relação ilícita com um homem chinês, com cerca do dobro da idade dela, muito rico. Pela diferença de idades, de classe, de etnia, por ser o ano de 1929, a relação, mais que ilícita, é tabu, e um segredo aberto. A narradora, a quem nunca é atribuido um nome, órfã de pai, sai da escola todas as tardes para se encontrar com ele numa espécie de motel; por vezes, o amante leva-a, à mãe dela e aos seus dois irmãos, a jantar. Os irmãos jantam e nunca lhe dirigem a palavra. A relação, claro está, não tem futuro.


Je n'ai jamais écrit, croyant le faire, je n'ai jamais aimé, croyant aimer, je n'ai jamais rien fait qu'attendre devant la porte fermée.


O incrível aqui, mais que a narrativa, mais que o relato do romance proibido, é o quanto um livro tão pequeno, de prosa tão sintética, é capaz de transmitir, explorando várias temáticas sem nunca aprofundar nenhuma - o colonialismo e o racismo que lhe é inerente, o amor, a família, o poder do dinheiro (apesar de serem uma família branca, são pobres, pelo que são mal vistos por terceiros).


Mais fascinante ainda é como Marguerite Duras transmite tudo isto com pouco sentimento, apesar da linguagem elegante e das emoções complexas que subjazem a toda a história. Talvez para acrescentar a este distanciamento, a esta negação, Duras muda frequentemente da primeira pessoa para a terceira (passando do "eu" para ideias como "a rapariga", "a rapariga branca", "a rapariga com o chapéu de homem", "a rapariga prostituída"...), muda de espaço (a casa de férias em SaĐéc, a escola em Saigão, a França natal), de tempo (o regresso à escola no ferry, quando usa um chapéu de homem, a morte do irmão, a morte da mãe, todos eles vivos aquando do romance). Tudo nos é relatado através dos olhos da perda da inocência de quem envelhece precocemente, através dos olhos de quem já não tem familiares vivos, de quem já mal tem fotografias desses tempos, de quem sabe que a Indochina já não existe.


É um retrato de solidão, não de escândalo; de irmãos que roubam, não perdendo a honra, de uma adolescência há muito passada, 


L'histoire de ma vie n'existe pas. Ça n'existe pas. Il n'y a jamais de centre. Pas de chemin, pas de ligne. Il y a de vastes endroits où l'on fait croire qu'il y avait quelqu'un, ce n'est pas vrai il n'y avait personne. 


5/5


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Comentários

  1. Gostaste mesmo! Espere que te inspire a continuar.
    O último que li dela, em Janeiro, foi Moderato Cantabile, muito bom também. O problema que tenho com ela é que tenho uma data de livros e estou sempre a deparar-me com mais nos alfarrabista. Nunca vou terminar de lê-la! O que pode ser bom, claro.
    Paula

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    Respostas
    1. gostei, sim :) embora seja um livro do qual é muito difícil falar. quero ler o ravissement de lol v stein!

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