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Carol

I feel I stand in a desert with my hands outstretched, and you are raining down upon me.



Carol, ou The Price of Salt, foi o primeiro livro de Patricia Highsmith que li, e espero que não o último (dois na estante aguardam a sua vez). Foi publicado pela primeira vez em 1952, sob um pseudónimo, pois a editora de Highsmith temia que os temas lésbicos assassinassem a sua carreira.

Therese é uma jovem de 19 anos desprovida de laços familiares, que vive sozinha e tem um namorado, Richard, e uma vida bastante livre mas banal em New York. Quando, no seu trabalho sazonal (é quase Natal, ela é lojista) conhece Carol, fica obcecada com ela. O livro capta muito bem os sentimentos iniciais e juvenis da paixão, as incertezas, as possibilidade, mais ainda num contexto desconhecido e que roça o proibido, com barreiras que, até então, Therese desconhecia.

Carol está no meio de um divórcio complicado e pretende ficar com a custódia da sua única filha. Em Janeiro, vendo-se sozinha, sem a filha, durante meses, Carol acaba por convidar Therese para uma roadtrip que leva a sua relação a intensificar-se. Mas Carol tem de escolher entre Therese e a sua filha.

A história é narrada maioritariamente pelo ponto de vista de Therese, algo inocente e jovem, com o lado da história de Carol por preencher excepto pelas assunções de Therese. A sua honestidade é refrescante e realista, especialmente na sua relação com Richard, na forma como lentamente compreende o que lhe falta nessa relação.

À medida que o livro avança, Therese "cresce" e perde alguma da sua inocência inicial, levando-nos a mudar de opinião sobre Carol e a tentar compreendê-la melhor, a tentar perceber se tinha sido a inexperiência de Therese a retratá-la como nos momentos iniciais. Talvez Carol tenha também mudado com os eventos do livro; talvez Therese tenha amadurecido e passado da fase do crush inicial.

Was it love or wasn't it that she felt for Carol? And how absurd it was that she didn't even know. She had heard about girls falling in love, and she knew what kind of people they were and what they looked like. Neither she nor Carol looked like that. Yet the way she felt about Carol passed all the tests for love and fitted all the descriptions.

Sei que Highsmith é mais conhecida pelos seus thrillers (Ripley, Strangers on a Train, etc), e embora este livro não o seja de modo tradicional, tem alguns aspectos do género. Por exemplo, a obsessão de Therese com Carol, ou a incerteza que temos sobre Carol, sobre os seus objectivos, sobre o controlo que ela tem na relação com Therese através da idade, experiência, dinheiro e personalidade. Os eventos fogem um pouco do controlo de Therese.

O livro está escrito de forma belíssima, crua, na forma como demonstra esta história de amor que, além de tabu, era proibida, perigosa. Há conflito que demora a resolver, tornando tudo mais realista. É interessante como Richard reage à rejeição de Therese, categorizando-a de doente mental, louca, sentindo posteriormente repulsa, dizendo-lhe que nunca será feliz ou terá uma vida completa - tudo reacções que possivelmente não teria se o tivesse rejeitado por outro homem.

It reminded her of conversations at tables, on sofas, with people whose words seemed to hover over dead, unstirrable things, who never touched a string that played. And when one tried to touch a live string, looked at one with faces as masked as ever, making a remark so perfect in its banality that one could not even believe it might be subterfuge.

4/5

Podem comprar em inglês na wook, ou em português, na wook.


Comentários

  1. Conheço-a sobretudo pelo lado dos seus thrillers com Ripley e dos contos policiais, mas sabia deste romance e da sua temática quase autobiográfica. Ela escreve muito bem.

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    Respostas
    1. Quero muito ler o primeiro livro do Mr Ripley! Mas este está belissimamente escrito e não desiludiu.

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