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Cem Anos de Solidão

O meu segundo (!!) García Márquez, e espero que o último numa tradução portuguesa.


Este é um livro sobre uma pequena cidade, Macondo, fundada pelos Buendías, uma família que acompanhamos ao longo de várias gerações, através de nascimentos, mortes, casamentos, guerras, ciganos, bananas, dilúvios, e na qual toda a gente tem o mesmo nome:

Por seu lado, Úrsula não conseguiu disfarçar um vago sentimento de contrariedade. Na longa história da família, a obstinada repetição dos nomes tinha-lhe permitido tirar conclusões que lhe pareciam determinantes. Os Aurelianos eram retraídos mas de mente lúcida, ao passo que os Josés Arcadios eram impulsivos e empreendedores, mas marcados por um signo trágico.

É que nem os russos são tão confusos.

O livro conta com vários acontecimentos e comportamentos bizarros: José Arcadio Buendia faz longas investigações científicas incitadas por Melquíades, cigano itinerante que a certa altura ressuscita, e acaba atado a um castanheiro; a sua esposa vive bastante além dos 100 anos; José Arcadio, filho de ambos, foge com ciganos; Rebeca, uma suposta prima, aparece do nada e gosta de comer terra e lamber paredes; há uma epidemia de insónias por toda a cidade; a segunda Remedios da família ascende ao céu enquanto estende a roupa, e é tão bonita que homens morrem por ela; o Coronel Aureliano Buendía tem 17 filhos de mulheres diferentes, que decidem aparecer todos no mesmo dia; irmãos gémeos podem ou não ter trocado de identidade; chuva que não cessa durante anos; há um mecânico que tem borboletas amarelas sempre atrás dele... Tudo isto é normal - ou ninguém repara que há coisas um bocado estranhas, ou reparam, mas aceitam como parte do quotidiano. Estas coisas simplesmente acontecem.

Há aqui cinco Josés Arcadios e mais de 20 Aurelianos, muitos dos quais não sabem ao certo a sua filiação, num livro onde várias personagens têm vidas que parecem eternas e homónimos coabitam. E o mais fascinante aí é que os próprios nomes ajudam a enfatizar a ideia de que o tempo é um círculo, um ciclo vicioso, que leva à repetição de eventos, destinada pelo nome que lhes foi atribuído (tentativas de dar outros nomes às crianças são sempre falhadas), dos erros dos seus antepassados: incesto, adultério, trinta e duas guerras perdidas e, acima de tudo, o que permanece geração após geração, a solidão.

- Que se há de fazer? - murmurou. - O tempo passa.
- Assim é - disse Úrsula -, mas não tanto.

4/5

Podem comprar outra edição em português aqui, ou em espanhol aqui.

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