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Les Liaisons Dangereuses

Este foi-me oferecido pela Sara, que espero que continue a ser uma das duas pessoas que ainda lêem este blog.


Li em inglês em Junho de 2010 e na altura gostei muito. O mais interessante em reler livros em francês tem sido ver se continuo a ter a mesma opinião sobre os mesmos, anos mais tarde. Na tradução do Candide perdia-se um bocado; o La Porte Étroite reafirmou a sua posição como um dos meus favoritos; Les Malheurs de Sophie é um livro que descobri que, uns 15 anos após a última vez que o tinha lido, eu ainda sabia de cor. O Jules et Jim é um hino ao amor e à vida.

Os livros não mudam – mas mais que a língua, muda o leitor que se depara com uma obra que irá reler.

Les Liaisons Dangereuses é uma obra sobre vinganças centradas em esquemas que se centram maioritariamente em procurar desonrar e desvirtuar mulheres, um livro censurado na altura em que saiu devido ao seu teor sexual e escandaloso, supostamente adorado por Marie Antoinette (quiçá para a tentar desvirtuar mais aos olhos do público).

Mudam os leitores, crescem. O livro continua a ser tão brilhante como era há cinco anos atrás – mas se agora me sensibilizei com os discursos da vilã, Marquise de Merteuil, sobre a falta de liberdade das mulheres nas suas aventuras amorosas, presas à virtude e à maledicência, na altura tocou-me mais o tema da vingança.

Oh! Que la haine est douloureuse! Comme elle corrode le coeur qui la distille!

Já não sou essa pessoa.

Com o tempo não só mudamos enquanto pessoas, mas certas coisas são colocadas em perspectiva. É com certa frequência que conto uma história que se passou há dez anos, quando me vinguei de uma colega do secundário por ter aproveitado a minha ausência para denegrir a minha imagem pela escola. Hoje, quero ser a pessoa que pode olhar para trás e se orgulhar do que vê. O que me incomodou na altura já foi há dez anos.

É interessante como perspectivas diferentes de vida nos trazem leituras diferentes de livros.

E é interessante a perspectiva diferente que um mesmo livro nos pode trazer em diferentes momentos. Há dois anos, uma amiga perguntou-me por que motivo eu gosto de ler. Pode-se ler com diferentes objectivos, por diferentes motivos, e há livros para os preencher e satisfazer a todos. Há quem leia por entretenimento, por aprendizagem. Há quem cite o Lolita como fonte de inspiração estética em blogs de moda (o que quer que queiram dizer com isso).

Ler não nos ensina apenas mais sobre o mundo, ensina-nos sobre nós mesmos.

4/5, ainda

Podem comprar uma outra edição aqui, em inglês aqui, e em português aqui.

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