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Poetics

Aquilo que não confessei no blog é que comprei uma série de peças clássicas e comprei este para as acompanhar. Andava-me a sentir inculta no que respeita às origens do cânone literário ocidental, e o BookDepository é um enabler que me manda descontos de 10% porque algo que eu nem me lembrava de ter na wishlist foi declarado out of print. Tenho andado com dificuldades em focar-me na leitura, e decidi ler o Poetics para ver se me reinspirava.


Primeiro: Nunca tinha lido Aristóteles (e tenho licenciatura em Ciência Política - retirem daqui o que quiserem sobre a qualidade do ensino), e fiquei surpreendida com o quão fácil de ler isto foi (embora não recomende totalmente enquanto leitura de autocarro).

Segundo: qualquer pessoa que goste de e/ou ambicione escrever devia ler isto, pois em 60 páginas (na minha edição), temos a explicação e a introdução das tragédias gregas (sendo poesia e drama considerados uma só categoria), uma listagem das suas componentes ideais e necessárias, estrutura, personagens, enredo, recursos linguísticos, etc.

A tragedy, then, to be perfect according to the rules of art should be of this construction. Hence they are in error who censure Euripides just because he follows this principle in his plays, many of which end unhappily. It is, as we have said, the right ending. The best proof is that on the stage and in dramatic competition, such plays, if well worked out, are the most tragic in effect; and Euripides, faulty though he may be in the general management of his subject, yet is felt to be the most tragic of the poets.

E não é só neste âmbito que o Poetics continua a ser relevante, não é uma obra fascinante só pela perspectiva histórica (e por colocar as tragédias em perspectiva).

Poetics começa com a afirmação de que pessoas adoram imitação. Que usamos o nosso raciocínio para reconhecer aquilo que vemos na arte, e que quão mais próxima da realidade a imitação for, mais proveito tiramos de tal reconhecimento. A isto, Aristóteles acrescenta a ideia de catarse: os heróis das tragédias, indivíduos bons a quem aconteciam desgraças que causavam o seu declínio. Isto causa uma reacção emocional à audiência: ao reconhecermos o enredo como plausível e realista, há empatia para com a personagem, e medo que nos possa acontecer algo semelhante.

Neste sentido, e pela estrutura que Aristóteles afirma que uma tragédia tem de ter para ter sucesso, senti finalmente explicado o motivo pelo qual vários autores trabalharam o mesmo tema (veja-se Electra):

This, then, is why a few families only, as has been already observed, furnish the subjects of tragedy. It was not art, but happy chance, that led the poets in search of subjects to impress the tragic quality upon their plots. They are compelled, therefore, to have recourse to those houses whose history contains moving incidents like these.

Comédias e épicos são também mencionados, embora não centrais ao longo destas 60 páginas. Ao longo do livro, algumas diferenças e semelhanças entre tragédias e épicos vão sendo estabelecidas. Gosto deste resumo da Odisseia (da qual não gostei), aquando da descrição de como construir um enredo:

Thus the story of the Odyssey can be stated briefly. A certain man is absent from home for many years; he is jealously watched by Poseidon, and left desolate. Meanwhile his home is in a wretched plight—suitors are wasting his substance and plotting against his son. At length, tempest-tost, he himself arrives; he makes certain persons acquainted with him; he attacks the suitors with his own hand, and is himself preserved while he destroys them. This is the essence of the plot; the rest is episode.

Para sempre relevante.

5/5

Podem comprar esta edição aqui.

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