Escrevendo finalmente sobre o primeiro livro do Alexandre, que quero ler há já mais um ano, desde que foi publicado (podem ler mais sobre a minha motivação aqui).
O que traz a noite é uma obra que explora um mundo distópico no qual, uma manhã, o sol não nasce. É noite, simplesmente: fez-se noite e, de manhã, continua a ser noite. E dia após dia a situação mantém-se.
Como reagir quando algo que tomamos por garantido desaparece sem qualquer tipo de aviso ou antecipação?
E o que fazer quando esse algo é tão necessário quanto a luz do dia?
Ninguém sabia exactamente a que horas nascia o sol, se lhe era permitido atrasar-se ocasionalmente, como um trabalhador que também não é mecânico na chegada ao horário de trabalho.
É neste mundo que conhecemos as personagens, distintas, mas cujas vidas acabam por se cruzar: Gastão e a sua esposa com problemas de foro psiquiátrico, Maria; Joseph Fritz, um juiz de personalidade fria e metódica; Irene, chefe de uma casa de cuidados para cegos, e o seu empregado Orlando, com um passado trágico e macabro. São exploradas não só as alterações que a ausência do sol traz à vida destas personagens, mas também as acções governamentais para tentar acalmar o pânico.
Assim, como que numa normal conversa de café, o deputado disse, mas e quanto tempo vai durar, temos energia porque nos é fornecida pelo sol, se o sol desaparece os recursos estão limitados e vamos deixar de ter luz, especialmente estando ela acesa ininterruptamente em todo o mundo.
E os recursos que dependem do sol, como a comida e o calor, as temperaturas que ameaçam baixar?
As pessoas começam a enlouquecer, a querer fugir, não vão trabalhar; nas ruas vive-se subversão, assaltos e violência vários. Cria-se uma espécie de exército para separar os mortos dos vivos, os moribundos dos que têm potencial de sobrevivência. Pilhas de mortos. Na casa gerida por Irene, os cegos, para quem a luz do dia não era uma questão, estranham apenas quando ninguém vai ter com eles.
E a humanidade vai-se adaptando, no fundo.
Eram sete da manhã, mas os ponteiros tinham parado num denso bloco de gelo que ali se formara durante a noite. Como se nunca tivessem deixado de ser sete da manhã.
Não li muitas distopias ao longo da minha vida como leitora. Enquanto umas têm ideias mais originais que outras, é inegável que a ideia aqui é original: a extinção do sol, não na esperada exaustão do hidrogénio, mas num fenómeno inesperado e inexplicável, e as várias consequências na vida humana. E em apenas cinco personagens, temos imensas histórias e possibilidades e reacções, e entramos pela gestão da crise a nível não só pessoal, mas também político. Questões não só humanas, mas científicas.
E fico à espera de mais livros da autoria do Alexandre Costa.
4/5
Maratona Literária de Verão 2017: 128 pág.
Ninguém sabia exactamente a que horas nascia o sol, se lhe era permitido atrasar-se ocasionalmente, como um trabalhador que também não é mecânico na chegada ao horário de trabalho.
É neste mundo que conhecemos as personagens, distintas, mas cujas vidas acabam por se cruzar: Gastão e a sua esposa com problemas de foro psiquiátrico, Maria; Joseph Fritz, um juiz de personalidade fria e metódica; Irene, chefe de uma casa de cuidados para cegos, e o seu empregado Orlando, com um passado trágico e macabro. São exploradas não só as alterações que a ausência do sol traz à vida destas personagens, mas também as acções governamentais para tentar acalmar o pânico.
Assim, como que numa normal conversa de café, o deputado disse, mas e quanto tempo vai durar, temos energia porque nos é fornecida pelo sol, se o sol desaparece os recursos estão limitados e vamos deixar de ter luz, especialmente estando ela acesa ininterruptamente em todo o mundo.
E os recursos que dependem do sol, como a comida e o calor, as temperaturas que ameaçam baixar?
As pessoas começam a enlouquecer, a querer fugir, não vão trabalhar; nas ruas vive-se subversão, assaltos e violência vários. Cria-se uma espécie de exército para separar os mortos dos vivos, os moribundos dos que têm potencial de sobrevivência. Pilhas de mortos. Na casa gerida por Irene, os cegos, para quem a luz do dia não era uma questão, estranham apenas quando ninguém vai ter com eles.
E a humanidade vai-se adaptando, no fundo.
Eram sete da manhã, mas os ponteiros tinham parado num denso bloco de gelo que ali se formara durante a noite. Como se nunca tivessem deixado de ser sete da manhã.
Não li muitas distopias ao longo da minha vida como leitora. Enquanto umas têm ideias mais originais que outras, é inegável que a ideia aqui é original: a extinção do sol, não na esperada exaustão do hidrogénio, mas num fenómeno inesperado e inexplicável, e as várias consequências na vida humana. E em apenas cinco personagens, temos imensas histórias e possibilidades e reacções, e entramos pela gestão da crise a nível não só pessoal, mas também político. Questões não só humanas, mas científicas.
E fico à espera de mais livros da autoria do Alexandre Costa.
4/5
Maratona Literária de Verão 2017: 128 pág.
Isso cheira a Saramago por todos os lados 😉
ResponderEliminarConfesso que pensei um bocado isso ao transcrever aquela parte do deputado, mas aqui nenhuma frase ocupa três páginas :p
EliminarNa casa gerida por Irene, os cegos, para quem a luz do dia não era uma questão, estranham apenas quando ninguém vai ter com eles.
ResponderEliminarMuito bom
Muito boa a ideia do livro ou? :$
EliminarEssa frase em particular :p a ideia do livro também me parece boa!
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