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PASSATEMPO | Como Falar com Raparigas em Festas

Ah, raparigas. Esses seres de outro planeta.


Nunca tinha lido nada de Neil Gaiman. Conheço o nome mais como pertencendo a um autor de fantasia, e como poderão ter já percebido, leio muito pouco (ou quase nada) de fantasia. Este livro, em particular, trata-se de uma adaptação de um dos seus contos em Novela Gráfica, com ilustrações dos irmãos Gabriel Moon e Fábio Bá; conhecia o nome dos dois, mas não conhecia a sua obra, e foi também uma excelente descoberta de um autor que talvez, de outra forma, demoraria muitos mais anos até ler.

(acrescento já agora, desde já, que li o conto original, em inglês, após ler este livro - a adaptação é muito próxima! O conto original encontra-se no livro Fragile Things, uma colectânea de contos de Neil Gaiman - mas encontra-se na net com facilidade)

Anos 70, subúrbios de Londres. A ideia por trás do conto é simples: dois amigos de 15 anos, que estudam num colégio só de rapazes, vão a uma festa. Vic é popular com as raparigas; já Enn não é tão confiante como o seu amigo, porque não sabe como falar com elas, porque as acha estranhas, diferentes - alienígenas. As ilustrações mostram logo desde o início a diferença entre os dois rapazes: Enn vai sempre atrás de Vic, cabisbaixo, enquanto este fala descontraidamente.

Por isso, quando Vic sugere irem a uma festa com "Miúdas! Miúdas! Miúdas!", Enn fica relutante; e quando Vic diz que se esqueceu da morada em casa, Enn tem esperança que não encontrem a festa.

Mas para encontrar a festa, basta seguir o som da música.

Naturalmente, pelo seguimento da narrativa e como o título deixava já antever, o livro pega em algo absolutamente mundano e ao mesmo tempo aterrador: falar com membros do sexo oposto numa festa em casa de alguém. E não só pega no tema com mestria como o torna num evento bizarro, inexplicável e inesquecível.


Porque Enn e Vic não só não reconhecem a música, como não reconhecem nenhuma das raparigas; Vic envolve-se rapidamente com Stella, a mais bonita da festa, deixando Enn livre para andar pela festa e tentar compreender alguma das convidadas. As raparigas são lindíssimas - olhos grandes e brilhantes, beleza quase surreal. Mas o que elas dizem é ininteligível. E isto pode ser interpretado como uma representação bastante realista das conversas entre rapazes e raparigas adolescentes, mas também pode ser interpretado na sua vertente mais fantástica.

Triolé, uma das raparigas com quem Enn fala, é, na verdade, um poema. Ela diz-lhe que não se pode ouvir um poema sem que ele nos mude - e a verdade é que ela muda Enn. O discurso dela, sobre arte, poesia e vida é lindíssimo; ela recita um poema e Enn apercebe-se que "podemos ouvir o grego de Homero, sem entender uma palavra, mas sabemos que é poesia."

Não conhecia a linguagem, mas as palavras dela inundaram-me... perfeitas...

...e com o olho da mente vi torres de vidro e diamante...

...e pessoas com olhos do verde mais pálido.

E... imparável... sob todas as sílabas... podia sentir o avanço implacável do oceano.

O livro em si é lindíssimo - as ilustrações, as cores, a atmosfera que parece um sonho, um mundo de magia, o que encaixa perfeitamente com uma história na qual nada é o que parece. Tem também uma profunda nostalgia, com um narrador que recorda uma festa vários anos mais tarde - talvez a nostalgia se deva ao passar dos anos, ou talvez porque o mundo mudou.

O final é muito aberto a interpretações, porque não nos é dito exactamente o que aconteceu. Vemos Vic a fugir de uma Stella em fúria, e não sabemos o porquê. As raparigas são assustadoras - perturbadoras, se não forem mesmo perigosas. Serão menos humanas, ou será apenas a distância típica da idade?

O único ponto negativo nesta obra é a sua dimensão. Baseado num conto, o livro é curto, e fica a saber a pouco. É um livro que recomendo a fãs de Neil Gaiman e da arte de Moon e Bá (embora não conheça mais da obra de nenhum dos artistas - shame!), mas também a quem gosta do supernatural, do especulativo, dos finais em aberto e de pequenos mistérios da vida.

4/5

Podem comprar esta edição aqui.

PASSATEMPO

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Aberto para residentes em Portugal.


FILME

O filme saiu, entretanto, no fim de Maio, e fiquei muito curiosa - não só pela beleza do livro, mas pelo facto de se procurar adaptar um material de base tão curto.


Croydon, subúrbios de Londres, 1977, ano do jubileu de prata da rainha.

A Enn e Vic, junta-se John; após um concerto num bar, dos Dyschords, banda gerida por Boadicea (personagem de Nicole Kidman!), os três amigos em busca de uma after-party acabam numa mansão com gente muito estranha lá dentro - fazem ginástica e acrobacia estranha ao som de música estranha, têm roupa de latex colorida (cada grupo, ou colónia, se veste de uma cor). Aqui, os jovens da festa são, sem qualquer espaço para dúvidas, aliens.

Quem lhes abre a porta é Stella - e é com Stella que Vic sobe para um quarto. O filme responde à questão que fica em aberto no livro (temos um porquê da Stella enfurecida e da fuga de Vic) - mas a narrativa do livro acaba por volta de 25 minutos de filme. A partir daqui tudo é novo - e temos a personagem de Elle Fanning para nos trazer esta continuação.

Zan quer mais individualidade do que aquela que a colónia a que pertence, que quer que ela seja uma boa menina e se conforme, lhe pode dar; para isso, começa por cortar o seu vestido de latex amarelo ("now that's punk!", diz Enn, quando a vê). Zan e Enn são literal e figuradamente star-crossed lovers - ela é extraterrestre, ele é um adolescente humano. Não são dois mundos que colidem, são dois mundos que interagem: o conformismo que pedem dela (a sua colónia admira a individualidade, mas apenas dentro de certos moldes), e a liberdade do punk. Zan conquista Enn com o seu vestido amarelo, atitude bizarra e comentários pejorativos sobre os seus genitais.


Portanto, Zan escapa da sua colónia, mas tem um período limitado de tempo para voltar. Nessas poucas horas, tem várias experiências humanas. À medida que o filme avança, além de vários momentos em que Zan (que o grupo de amigos pensa ser americana, não extraterrestre) diz coisas extremamente bizarras, aprendemos que os extraterrestres têm rituais muito estranhos de dança, comunicação, procriação e, acima de tudo, relações parentais.

No fim, Zan tem de escolher entre Enn, que acabou de conhecer mas com quem tem uma ligação, e o seu povo e cultura, que estão a morrer.

Confesso que não fui ver o filme com grandes expectativas, porque vi várias opiniões menos boas e a classificação no IMDB não era promissora (vale o que vale, é claro); mas eu não sou purista da música, nem do punk, nem da anarquia (não obstante o trabalho de Teoria das Relações Internacionais que nunca mais acabo de fazer e que versa sobre o tema), e gosto de uma comédia romântica adolescente. Se algumas das referências de Boadicea a Vivienne Westwood e Ramones, etc, pareceram um namedropping exagerado, podemos por outro lado pensar que servem apenas para construir o ambiente do filme, um contexto cultural, ou para facilitar o desejo de independência e de mudança de Zan.

Eu gostei do filme - aleatório, sim, mas acima de tudo divertido. Mas reconheço que não será um filme para qualquer um; quiçá um bom candidato para cult classic.

Comentários

  1. Eu quero tentar a minha sorte. =P

    No facebook sigo com: https://www.facebook.com/olga.dovale
    No instagram sigo com: olmamova

    Obrigada pelo passatempo. :D

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  2. Eu sou a Pam Marques e sigo no Facebook.
    É preciso dizer que quero ganhar se não vou ficar deprimida?

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  3. Hello! Há muito tempo que quero ler isto por isso vou tentar a minha sorte...

    facebook: Joana Barroca - https://www.facebook.com/joana.barroca.3
    Instagram: joanabarroca - https://www.instagram.com/joanabarroca/

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  4. Não conhecia essa obra ainda, confesso que o enredo me pareceu um pouco confuso, talvez eu assista o filme e depois leia o livro

    www.estante450.blogspot.com.br

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    Respostas
    1. Cássia, acho que este é daqueles livros que se tem de ler para "compreender" - e ainda assim o fim fica em aberto :) o filme é apenas baseado no livro, mas acho que ambos valem a pena!

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  5. Vou participar 😊

    Instagram: rita.mg.araujo

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  6. Alô...
    Não tenho o hábito de participar em passatempos, mas gostei da tua opinião sobre o livro, por isso cá vai:
    Facebook - https://www.facebook.com/anaclaudia.rsilva
    Instagram - https://www.instagram.com/itsbookoclock/

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  7. Não fazia ideia que o Neil Gaiman tinha escrito isto.
    www.facebook.com/luciafonseca9
    www.instagram.com/luciaf88

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    1. Escreveu! :) eu também não conhecia, mas é de um livro de contos :) boa sorte!

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  8. A participar!
    Facebook: Ana Machado | Instagram: @anamachado135

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  9. A participar como Ana Vieira (no Facebook) e @anocas75 (no Instagram).

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  10. Participo :) Facebook: Alexandra Guimarães; Instagram: @alexaguimaraes

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  11. A participar.
    Facebook: Nélia Rosa
    Instagram: @neliarosa

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  12. Facebook: Helena Isabel Bracieira
    Instagram: @helenai91

    A participar! :D

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  13. Obrigado pela oportunidade!

    No facebook sigo com: Ana Marques (https://www.facebook.com/ana.hugo.marques)
    No instagram sigo com: @ana_marques_g

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  14. A participar, sou fã deste autor :)
    Seguidora facebook: Dália Antunes
    Seguidora instagram: @daliaantunes

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  15. Fernando Amorim: https://www.facebook.com/nandooamorim
    Instagram: https://www.instagram.com/cenouraman/
    A participar, e a piscar o olho a sorte para que seja amiga...

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  16. 'Por isso, quando Vic sugere irem a uma festa com "Miúdas! Miúdas! Miúdas!", Enn fica relutante; e quando Vic diz que se esqueceu da morada em casa, Enn tem esperança que não encontrem a festa.' achei piada a essa parte :p

    Triolé que não aparece no filme mas em compensação, ou não, temos o gordo :p

    'O livro em si é lindíssimo - as ilustrações, as cores' também achei

    'O único ponto negativo nesta obra é a sua dimensão. Baseado num conto, o livro é curto, e fica a saber a pouco.' sem dúvida, mas o filme como que compensou :p

    'Planeio anunciar o vencedor dia 14, quando o blog completa cinco anos (quem diria!).' quem corre por gosto não cansa! bué cliché xD mas é verdade até certo ponto

    'O filme responde à questão que fica em aberto no livro (temos um porquê da Stella enfurecida e da fuga de Vic) - mas a narrativa do livro acaba por volta de 25 minutos de filme. A partir daqui tudo é novo - e temos a personagem de Elle Fanning para nos trazer esta continuação.' fiquei logo curioso aí, sabendo que tinha todo um filme pela frente que seria novo em relação ao livro e foi bué bizarro mas gostei bastante

    'aprendemos que os extraterrestres têm rituais muito estranhos de dança, comunicação, procriação e, acima de tudo, relações parentais.' ahah o filme está muito bom

    'quiçá um bom candidato para cult classic.' concordo

    Gostei tanto do livro, como do filme, como do post :p

    Now that's punk!

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    1. Pobre Enn que teve de ir à festa com o Vic :p

      Não compensa exactamente, mas essa personagem é o rei da festa for sure :o

      Temos de ler mais livros dos ilustradores :ppp

      Eu não corrooooo :$$$

      Haha sim, o filme de certa forma responde, e definitivamente amplia a história :p acho bué piada porque adoraste mesmo o filme e isso é bué fixe :D

      Muito obrigadaaaa :$$

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  17. A participar
    Facebook: Rita Lopes
    Instagram: @ritacallopes

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  18. A participar (:
    Facebook: Cat Santos

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  19. A participar.
    Facebook: Manuela Colaço
    Gostei imenso de ler a sua opinião, muito assertiva. E fiquei curiosa com as ilustrações do livro. :)

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