Fã incondicional de Alice Vieira em pequena, decidi dar uma chance à sua poesia.
Em parte, esta chance deve-se também a este post da Alexandra; por outro lado, estava sentada numa poltrona na Biblioteca Municipal de Belém e vislumbrei este livro na estante ao lado, pelo que o retirei imediatamente.
Primeiro, a edição: trata-se de uma colecção da Caminho chamada "Frente e Verso", que combina a prosa e poesia de autores que escrevem ambos os géneros. Do lado da prosa, encontra-se Às Dez a Porta Fecha, livro que li na minha infância e que por esse motivo não reli nesta ocasião; mas posso fazê-lo, se vos aprouver, repescando a minha edição da estante.
tínhamos então a idade
de tudo o que nos acontecia pela primeira vez
protegidos pela sobra dos castanheiros de maio
e ainda que por breve tempo chegámos a acreditar
que um dia nos iríamos de novo amar ali
exactamente ali
entre o rio as pontes as estátuas
a praia que roubávamos ao asfalto
onde os dias pareciam sem desvio
tínhamos então a idade
de tudo o que nos acontecia pela primeira vez
protegidos pela sobra dos castanheiros de maio
e ainda que por breve tempo chegámos a acreditar
que um dia nos iríamos de novo amar ali
exactamente ali
entre o rio as pontes as estátuas
a praia que roubávamos ao asfalto
onde os dias pareciam sem desvio
Anotei páginas e mais páginas deste livro. Divide-se em cinco partes: Cinco Breves Momentos de Maio, Dois Corpos Tombando na Água, Pelas Mãos e Pelos Olhos eu Juro, Devagar no Centro do Fogo, e Amor e Outros Crimes em Vias de Perdão. Todas elas falam de amor.
muito possivelmente nem te lembras
que livro foi esse que então lemos juntos
e sublinhámos e soubemos de cor e se calhar
é bem melhor assim nunca
se deve regressar aos livros onde fomos felizes
esta é como deves saber uma regra a não quebrar
em caso algum
muito possivelmente nem te lembras
que livro foi esse que então lemos juntos
e sublinhámos e soubemos de cor e se calhar
é bem melhor assim nunca
se deve regressar aos livros onde fomos felizes
esta é como deves saber uma regra a não quebrar
em caso algum
É um amor total, imenso, mas que parece condenado, que se extinguirá a si próprio. Há desejo e paixão, há perda, há sentimentos profundos.
o que verdadeiramente me dói são os silêncios
que nunca habitámos do mesmo lado
porque o silêncio só pode ser partilhado
com aqueles que amamos até à loucura
só ele é a dádiva perfeita que não pede mais nada
a não ser um mesmo lugar para deitar a cabeça
e esperar que a madrugada lentamente desfaça
todos os segredos e nada mais seja preciso
para voltarmos a ter vinte anos mesmo que
os vinte anos tenham morrido para sempre
na cidade em chamas
o que verdadeiramente me dói são os silêncios
que nunca habitámos do mesmo lado
porque o silêncio só pode ser partilhado
com aqueles que amamos até à loucura
só ele é a dádiva perfeita que não pede mais nada
a não ser um mesmo lugar para deitar a cabeça
e esperar que a madrugada lentamente desfaça
todos os segredos e nada mais seja preciso
para voltarmos a ter vinte anos mesmo que
os vinte anos tenham morrido para sempre
na cidade em chamas
Há a enorme beleza do amor tornado recordação, a força da ausência.
talvez um dia quem sabe eu volte
a faltar às aulas para esperar por ti
talvez um dia quem sabe eu volte
a faltar às aulas para esperar por ti
Alice Vieira é tão válida para crianças como para adultos. Que (re)descoberta maravilhosa!
5/5
5/5
Podem comprar uma outra edição (sem prosa) aqui.
Eu não li Alice Vieira em miúda. Percebo agora que a minha anglofilia já se manifestava desde cedo e que não li nada de portugueses até à adolescência! E até esse post da Alexandra os únicos livros dela a entrar cá em casa tinham sido os com cheiro, por causa das pessoas pequeninas que cá vivem. Mas este livrinho vale muito a pena. É muito nostálgico, mas esse dos vinte anos é realmente o que me toca mais. Mais um que teve de ser meu depois de vir da biblioteca! Não tenho emenda. ;-)
ResponderEliminarPaula
Já eu lia, além de todos os Uma Aventura (como já relatei), os livros da Condessa de Ségur e vários Tios Patinhas, que adorava :) Alice Vieira foi um acaso na minha vida: uma senhora amiga da minha mãe tinha por casa o "Úrsula, a maior!" e deu-mo. Gostei muito e os livros lá apareciam no Círculo de Leitores, portanto a minha mãe comprou alguns... depois na biblioteca da escola no 5º e 6º ano (tinha eu 9-11 anos), havia uns outros :) há alguns livros que guardo com bastante carinho - nomeadamente o "Se perguntarem por mim, digam que voei". Tenta lê-lo!
EliminarEste livro vale imenso a pena sim! Também está na minha lista de compras, mesmo já tendo lido da biblioteca... oops :)
Fizeste bem em dar essa chance, sempre me falaste tão bem da Alice Vieira
ResponderEliminar'mas posso fazê-lo, se vos aprouver' ahah tão fofinha
Gostei muito dos excertos que referiste, parece muito especial o livro, este é daqueles que um dia irei querer ler sem dúvida
Obrigado pelo teu blogue
Se aprouver eu releio! :$
EliminarTambém gostei muito da poesia dela, não conhecia a sua obra para adultos! Hei de procurar este livro e outros na Feira do Livro no ano que vem :p
Obrigada por visitares :$
Que bom que gostaste! Tenho de ler mais poesia dela em breve :)
EliminarFoi muito por tua influência que o li, Alexandra! Também espero ler mais poesia dela :)
EliminarQue vergonha. Não lhe conheço a poesia, mas este textinho fez-me querer colmatar essa falha.
ResponderEliminarHá alguns exemplares desse livro no Winkinbooks, para quem quiser aproveitar a onda. Já pedi um para mim.
Confesso que desconheço o Winkingbooks, fui explorar mas sou demasiado hoarder de livros para aderir :) já tenho este na mira, de qualquer maneira!
EliminarE fico lisonjeada, Cristina, por levar a essa leitura :)