Há já algum tempo que queria ler algo de Elizabeth Strout.
Lonely was the first flavor I had tasted in my life, and it was always there, hidden inside the crevices of my mouth, reminding me.
Calhou ser My Name is Lucy Barton, por estar disponível a um preço muito simpático no Awesome Books, mas ouvi falar melhor das histórias de Olive Kitteridge; sei que saíram, entretanto, dois "livros companheiros" de Lucy Barton, um deles muito recentemente.
Lucy Barton está num quarto de hospital, a recuperar lentamente daquilo que deveria ter sido uma apendicectomia simples, mas durante a qual ela terá contraído uma qualquer infecção hospitalar. É durante esta estadia de várias semanas que a mãe de Lucy a visita, durante cinco dias. Mas esta visita tem contornos específicos - havia anos que Lucy Barton e a sua mãe não se viam ou sequer falavam.
Esta visita inesperada leva Lucy a confrontar a tensão do afastamento e de tudo o que o motivou - embora nunca saibamos de um momento ou motivo concreto, é visível que Lucy sonhara toda a vida poder afastar-se das suas raizes, da infância de pobreza em Amgash, Illinois, da carência emocional, da solidão, do abuso e do medo. É normal querer escapar de uma infância assim, querer recomeçar de novo e deixar tudo para trás, e foi isso que Lucy fez, ao arranjar uma bolsa de estudos que a tirasse de casa, ao casar com William, ao mudar para NY e cortar relações com a família.
It interests me how we find ways to feel superior to another person, another group of people. It happens everywhere, and all the time. Whatever we call it, I think it’s the lowest part of who we are, this need to find someone else to put down.
Lucy encontrou um escape às privações da sua infância nos livros - primeiro, na leitura, mais tarde, na escrita. Mãe e filha falam de pessoas que têm em comum, do passado, de algumas pistas do presente. Lucy cresceu sensível e introspectiva, sendo capaz de reconhecer nos outros a solidão que sente, mas também a beleza nos outros, no médico que a trata com gentileza ou nos professores que não a deixam ser alvo de gozo. Da mesma forma, vê-se que procura proteger a mãe, que parece amar profundamente, de uma maneira talvez não tradicional (o que há de tradicional nas formas de amar?), não lhe dando a entender as feridas profundas que tem devido à sua infância.
Mais que isso, Lucy procurou sempre ser amada e querida. Muito de mau pode acontecer quando alguém se sente negligenciado e não amado.
Mas Lucy sabe quem é, sabe o que quer, o que vai fazer. Aceita quem é, de onde veio, o que o futuro lhe reserva, mesmo quando tem de perder alguém pelo caminho.
4/5
Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand, ou em português, também na wook ou na Bertrand
A Elizabeth Strout é a minha autora americana contemporânea preferida. Adoro a Olive! Nesta história da Lucy, que já li duas vezes, impressiona-me aquilo que não é dito, aquela estranheza entre mãe e filha, sem que haja confrontos e lavagem de roupa suja. Quero muito ler o novo dela, Oh William!
ResponderEliminarPaula
gostei muito precisamente disso - do que ficou subjacente, por dizer, na ponta da língua talvez mas sem ser dito. é uma arte! hei de ler mais dela.
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