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Hangsaman

Não sei muito bem o que dizer sobre Hangsaman, além de que foi o meu terceiro livro de Shirley Jackson e um que demorei imenso tempo a ler porque, simplesmente, não funcionou.



A premissa desta obra é interessante, e o seu início também: Natalie Waite, de 17 anos, vai finalmente sair do ninho familiar e vai para a faculdade. No início do livro, conhecemos Natalie e a sua família: o pai egocêntrico, déspota, que se julga um escritor brilhante e que quer sempre a atenção de Natalie, a mãe neurótica, quase nula, que claramente odeia o marido, e o irmão mais novo que simplesmente existe.

Natalie Waite, who was seventeen years old but who felt that she had been truly conscious only since she was about fifteen, lived in an odd corner of the world of sound and sight past the daily voices of her father and mother and their incomprehensible actions. For the past two years - since, in fact, she had turned around suddenly one bright morning and seen from the corner of her eye a person called Natalie, existing, charted, inescapably located on a sport of ground, favored with sense and feet and a bright-red sweater, and most obscurely alive - she had lived completely by herself, allowing not even her father access to the farther places of her mind. She visited strange countries, and the voices of their inhabitants were constantly in her ear; when her father spoke he was accompanied by a sound of distant laughter, unheard probably by anyone else except his daughter.

Portanto, podemos presumir que Natalie está entusiasmada com a ideia de poder, finalmente, fugir da família, ainda que seja para um mundo tão fechado como o campus de uma faculdade só para raparigas, escolhida, é claro, pelo pai, não por ela. No entanto, imediatamente antes da sua partida, o pai decide acolher mais uma cocktail party no jardim, obrigando-a, e à mãe, a trabalhar como escravas para a suposta perfeição da sua imagem, e Natalie pode ou não ter sido abusada por um dos convidados - esta parte não é clara, e não sabemos nunca o que aconteceu ao certo.

Certo é, porém, que Natalie sai desse evento uma pessoa diferente - e logo no momento em que ocorre uma mudança tão grande na sua vida. Natalie chega à faculdade e não se consegue integrar; na verdade, toda a sua vida consegue ficar pior, pois o ambiente é hostil, cheio de "grupos" e praxes, as outras raparigas acham-na assustadora, e ela apercebe-se, isolando-se, que não tem amigos. A certa altura, torna-se amiga da esposa de um dos professores (que, até recentemente, tinha também sido aluna), e parece que as coisas estão a melhorar, mas na verdade apenas se inseriu no seio de uma outra família disfuncional.

"Little Natalie, never rest until you have uncovered your essential self. Remember that. Somewhere, deep inside you, hidden by all sorts of fears and worries and petty little thoughts, is a clean pure being made of radiant colours."

Natalie fica cada vez mais desligada da realidade - e, talvez por isto, talvez seja intencional, não só o ritmo do livro é muito confuso e irregular, como a escrita parece confusa e irregular. A narrativa passa da primeira para a terceira pessoa, talvez algumas coisas sejam os pensamentos da Natalie; Natalie escreve cartas aos pais a explicar que está demasiado ocupada para ir a casa, vai apenas na Acção de Graças, o pai dela acha que está tudo bem e só a mãe percebe a sua solidão.

Natalie pode ou não estar a roubar as colegas, pode ou não ter conhecido uma rapariga chamada Tony, com a qual pode ou não estar a ter um caso - Tony, na verdade, pode ou não existir. Será apenas um fragmento da imaginação de Natalie? Será que a realidade está a fugir cada vez mais dela, será um breakdown advindo do trauma que nem sequer compreendemos totalmente?

"You see," said Tony, her voice still soft so as not to be overheard, but somehow fierce and angry, "it frightens me when people try to grab at us like that. I can't sit still and just let people watch me and talk to me and ask me questions. You see," she said again, as though trying to moderate her words and explain, "they want to pull us back, and start us all over again just like them and doing the things they want to do and acting the way they want to act and saying and thinking and wanting all the things they live with every day."

Será que tudo isto são apenas as dores de crescimento de alguém que passa de um ambiente opressivo para outro, dado que tudo é apenas mencionado de forma vaga, filtrado por uma voz interior excêntrica, que olha para si de fora, através dos olhos de terceiros que não existem?

Demorei mais tempo que o esperado a ler este livro, e deixou-me num certo reading slump.

3/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand, ou em português, na wook ou na Bertrand.


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