Pax

Livros infanto-juvenis com animais merecerão sempre a minha atenção.

Pax, de Sara Pennypacker, com ilustrações do fabuloso Jon Klassen, é em parte sobre a amizade entre um rapaz e a sua raposa, mas vai muito além disto. É um livro sobre relações familiares, trauma geracional, sobre humanidade, que questiona o que é ser humano ou animal.

Peter criou Pax desde que era uma pequena raposa. Quando, cinco anos mais tarde, o pai de Peter, um soldado, anuncia que, devido à guerra, se vão mudar para a casa do avô, também o obriga a abandonar Pax à beira da estrada, longe de casa. Relutantemente, Peter obedece - e rapidamente se arrepende, pega numa mochila e num mapa e parte à procura do seu melhor amigo.

Porém, a missão não é fácil: há a guerra, há mau tempo, há uma floresta, e Peter lesiona-se. É ajudado por Vola, uma ex-soldado que vive isolada na floresta e que não tem muito contacto com outras pessoas. É Vola que explica a Peter o que é a guerra - e ambos descobrem que têm muitos fantasmas para enfrentar.

How many kids this week, he wondered, had woken up this week to find their worlds had changed...? Their parents gone off to war, maybe never coming home. That was the worst, of course. But what about the smaller loses? How many kids missed their older brothers or sisters for months at a time? How many friends had to say good-bye? How many kids went hungry? How many had to move? How many pets had they have to leave behind to fend for themselves? And why didn't anyone count those things? People should tell the truth about what war costs. Weren't those things the cost of war, too?

Entretanto, Pax - os capítulos alternam de ponto de vista entre ambos, rapaz e raposa - vai-se cada vez mais distanciando de Peter, e tornando-se "mais raposa", conhecendo outras raposas que lhe falam das suas experiências negativas com humanos. Porém, Pax não desiste de encontrar Peter.

Ambos fazem viagens físicas e espirituais, e percebem que não importa o que acontecer, estarão sempre juntos e encontrarão uma forma de se reunir.

Os pontos de vista de Pax trazem diálogos entre vários animais, e pedem reflexão sobre a nossa relação com a natureza. Até que ponto os animais se apercebem do que os rodeia? Neste cenário de guerra, num local e tempo indefinidos, os animais vêem o seu habitat passar de acolhedor a inóspito, a ser destruído por uma onda ("doença") de ódio que não compreendem.

Porém, Jon Klassen dá-nos apenas imagens idílicas do mundo selvagem imperturbado, ou apenas com elementos pouco perturbadores, como tendas, casas de madeira. As suas ilustrações são, como nas suas próprias obras, expressivas e enganadoramente detalhadas na sua simplicidade. Funcionam muito bem com o texto.

Vi que o livro tem uma sequela, mas não julgo que seja necessária. Talvez um dia.

5/5

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