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Marie Antoinette

Qu'ils mangent de la brioche!


A famosa frase que Marie Antoinette nunca disse.

Não sabia muito sobre esta mulher cujo nome ficou para sempre na história antes de ler esta biografia; porém, a personagem sempre me intrigou - última rainha de França, o nome apontado como causa da Revolução Francesa, supostamente excêntrica e dada a excessos.

Num clássico, apesar da curiosidade, nunca vi o filme da Sofia Coppola, supostamente fortemente baseado neste livro. Não sei muito de história, pelo que me é difícil apurar a rigidez histórica do livro - dá para perceber que a autora queria favorecer a imagem da rainha, mas é difícil perceber o quanto. Porém, não ser um livro objectivo ajuda a que seja mais fácil ler a história desta mulher que foi a mais odiada de França, considerada como uma espia sexualmente leviana que estava a levar o país à falência.

Maria Antonia nasceu na Áustria, 15ª filha da Imperatriz Maria Teresa da Áustria. Como 15ª filha, não recebeu muita atenção, e foi criada para ser submissa e servir de peão político em casamento com uma outra família real. Aos 14 anos, devido à morte de uma irmã, e para selar uma aliança entre França e a Áustria, Maria Antonia é enviada para França para se casar com o Dauphin, futuro Louis XVI, e ter um filho (não uma filha).

A rainha que nos é apresentada por Fraser é uma personagem que gera imensa simpatia. Não fora criada para um trono tão alto, não tinha educação e não era uma personalidade política. O seu casamento ficou por consumar por mais de sete anos, até o seu irmão intervir. Marie Antoinette entretém-se com decoração de interiores, com a manutenção da imagem a que Versailles a ocupava (apesar de ela parecer preferir a simplicidade campestre do Petit Trianon), com festas e jogos de apostas e de cartas, enquanto é responsabilizada por tudo o que de mau acontece no país. Marie Antoinette aparentemente odiava cor de laranja - mas os outros rumores levantados sobre ela parecem ser falsos.

Mais que um rei e uma rainha, este casal - que tinha verdadeiro afecto um pelo outro, algo que parece raro neste tipo de casamento - é composto por dois miúdos que não tinham sido preparados ou educados para a posição em que se encontravam. Mesmo Louis XVI só chegou àquela posição pela morte do pai (que não chegara a reinar) e do irmão mais velho. Marie Antoinette só acorda para a política quando se vê no meio da Revolução, mas todas as decisões políticas tomadas por ambos (sendo que Marie Antoinette tinha muito pouca influência) acabam por ser erradas.

As descrições das atrocidades da Revolução são horríveis. Perceber como os eventos levaram à decapitação do rei e da rainha de França é uma história interessante e triste, muito triste: a forma como através de propaganda e rumores tentaram tirar a humanidade a uma mulher que só queria o melhor para a sua família, que só fez o que era esperado dela.

Marie Antoinette é pintada de forma muito cor de rosa neste livro, mas ainda assim dá para ler nas entrelinhas que ela tinha defeitos que contribuíram para a destruição da sua imagem pública. Ela podia ser uma boa pessoa e generosa, mas os seus gastos, a sua frivolidade, a proximidade das suas relações pessoais (que levou a acusações de promiscuidade sexual não só com homens, mas com mulheres, e o próprio filho), foram aproveitados para formar acusações contra ela. Numa parte que achei particularmente atroz, é descrito como assassinaram uma das suas amigas (Princesse de Lamballe) e meteram a sua cabeça num espeto, que passearam em torno da torre na qual Marie Antoinette e a sua família se encontravam presos, de modo a que a antiga rainha a pudesse beijar. Posteriormente, a cabeça foi levada à Madame Tussaud para que pudesse fazer um modelo. Porquê?

Este livro mostra muito deste período da história, das dinâmicas da monarquia e da corte em França, numa altura em que nada era um acto privado (nem o vestir, nem o deitar, muito menos dar à luz uma criança). Marie Antoinette foi rainha de um país que esperava que ela agisse de certa forma, mas que a condenou por o fazer.

4.5/5

Podem comprar esta edição aqui, e em português aqui.

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