Avançar para o conteúdo principal

Le Fantôme de l'Opéra

Lido em conjunto com a pessoa mais especial da minha vida, em preparação para a nossa viagem a Paris.


Li esta obra em inglês há já alguns anos, mas o tempo passado e as leituras feitas no entretanto trazem sempre novas perspectivas. A minha opinião sobre o livro não mudou - no entanto, desta vez achei comparável a personagem principal (ou pelo menos que dá o título ao livro nas duas línguas em que o li) a Heathcliff, o anti-herói de Wuthering Heights, vilões complexos odiados desde pequeninos por motivos que não causaram, movidos por enormes paixões.

Não visitei muito do mundo, mas sem dúvida que Paris é uma cidade incrível, fascinante e inspiradora. Baseadas na sua arquitectura temos obras como esta e, antes ainda, Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo. Nada disso me surpreende. Esta história passa-se na Opéra Garnier, em Paris, que é possivelmente dos edifícios mais bonitos e majestosos que tive a oportunidade de não só contemplar mas visitar:

A foto obrigatória (com a t-shirt de RUN DMC obrigatória?)

Antes de mais: eu adoro este livro. É uma espécie de adaptação da Bela e o Monstro, com uma protagonista menos letrada que a da Disney, e talvez não seja exactamente correcto chamar "história de amor" ao que se passa aqui. 

De certa forma, este livro é um policial, baseado na investigação de um escândalo que abalou Paris: o desaparecimento da famosa cantora Christine Daaé durante uma ópera, o desaparecimento do seu noivo, Vicomte de Chagny, a morte suspeita do seu irmão, e a sombra do Fantôme de l'Ópera por cima de tudo isto.

Christine perdeu o seu pai, também músico, bastante nova, e este passara grande parte da sua vida a contar-lhe histórias do Anjo da Música. Um dia, ela ouve este anjo a cantar e aprende com ele a cantar, tornando-se numa cantora aclamada e reconhecida. Eventualmente, curiosa, segue-o por uma passagem secreta para o seu império subterrâneo, onde conhece Erik, cuja voz a fascinava, mas cuja cara a enche de terror.

Entretanto, Christine reencontra a sua paixão de juventude, Raoul Chagny, e a chama da paixão reacende-se em ambos. No entanto, Christine sabe ao que se submeteu - sabe o perigo que ambos correm e tenta afastar Raoul daquilo em que se meteu, sem sucesso.

Erik tem uma voz lindíssima, é um génio musical (a compor o seu Don Juan Triomphant), e apaixona-se por Christine, esperando encontrar nela o amor e redenção que sempre procurara. É-lhe totalmente leal e faz dela o centro do seu universo; porém, debaixo da sua máscara tem um aspecto monstruoso, e o seu passado levou-o não só ao desespero e à mágoa, mas a ser cruel (e um dos maiores assassinos da Pérsia). Erik foi rejeitado pela própria mãe, que nunca o beijara, que lhe dera em pequeno uma máscara para evitar olhar para a sua cara disforme ("Ma mère, daroga, ma pauvre misérable mère n'a jamais voulu que je l'embrasse ... Elle se sauvait ... en me jetant mon masque!...").

Erik manipula e aterroriza várias pessoas de modo a elevar a carreira da sua amada na Ópera Garnier. Christine é uma personagem pela qual se sente pouca empatia - e embora em momentos seja difícil não sentir essa mesma empatia por Erik, ele é um assassino psicopata. Porque é o seu amor não correspondido, o seu desespero que o tornam humano. Ninguém quer que eles fiquem juntos. Portanto no que é que ficamos?

(...) Tu pleures! Tu as peur de moi! Je ne suis pourtant pas méchant au fond! Aime-moi et tu verras! Il ne m'a manqué que d'être aimé pour être bon! Si tu m'aimais, je serais doux comme un agneau et tu ferais de moi tout ce que tu voudrais. 

O grande problema deste livro, para mim (que ainda assim adoro, mas cujas falhas reconheço) é que as personagens são fraquitas. O Raoul passa metade do tempo desgostoso de paixão, a chorar (ou de medo ou porque a Christine o rejeita), a desmaiar, a tremer pelos cantos; a Christine é mais forte que ele, mas é um bocado sonsa e desinteressante.

O Persa, que seguira e controlava o Erik há anos, é das personagens mais interessantes e misteriosas do livro, a par do próprio Erik. 

Este é um livro sobre amor, mas não é uma história de amor. O amor que Erik pudesse sentir por Christine não apaga as suas intenções, os seus feitos; mesmo com ela ele era cruel. No entanto, ninguém merece tal destino traçado pelas suas feições, pelo seu aspecto físico: Erik deixara que o mundo o declarasse um monstro e lhe roubasse a sua humanidade.

O final do livro é muito bonito.

Ils avaient pris un jour un train à la gare du Nord du Monde...

5/5

Podem comprar esta edição aqui, em inglês aqui, e em português aqui.

Comentários