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A Little Princess

Livro perfeito para quem quiser uma leitura de conforto, um livro infantil fofinho.


Sara Crewe não é uma princesa - Sara é a filha do Captain Crewe, um jovem viúvo, que a adora e a mima e, um dia, a leva da Índia para estudar em Londres, como todas as meninas de família, para quem a Índia não seria o lugar mais adequado ou saudável onde crescer. O Captain Crewe não se quer separar da sua pequena Sara, mas sabe que é para o bem dela. Miss Minchin, a professora da escola onde Sara é acolhida, não gosta dela, desde o início; mas, por ter apreço pelo dinheiro dos Crewe, aceita os luxos que o Captain Crewe deseja para a sua filha: as bonecas, as roupas excessivas, o conforto.

Sara não é a menina mimada que poderia ser - Sara é gentil, generosa, calma, madura para a sua idade. Toda a gente gosta dela, e toda a gente gosta das histórias que Sara conta, da sua imaginação incrível. Sara trata toda a gente bem: desde as suas colegas mais mimadas e crianças, à empregada-quase-escrava da escola, Becky. E, por tudo isso, Sara é uma menina admirável, inesquecível para quem a conhece: é uma princesa.

"Whatever comes," she said, "cannot alter one thing. If I am a princess in rags and tatters, I can be a princess inside. It would be easy to be a princess if I were dressed in cloth of gold, but it is a great deal more of a triumph to be one all the time when no one knows it."

No dia em que Sara faz 11 anos, chega a notícia de que o seu pai morrera, enganado por um amigo com quem entrara num negócio de diamantes, deixando Sara sem qualquer herança. Miss Minchin sente-se enganada - era ela quem estava a cobrir os gastos de Sara nos últimos meses - e decide que é a altura de se vingar. Deixa-a apenas ficar com um vestido preto, já velho, que lhe estava apertado e curto, e torna-a numa empregada da escola, quase escrava, com direito a um pequeno quarto no sótão, ao lado de Becky. 

E nem assim Sara se deixa ir abaixo - Sara faz o seu trabalho com um sorriso na cara, faz tudo o que os outros empregados não querem fazer, passa frio, passa fome (e, quando encontra uma moeda, dá o pão que compra com ela a uma criança mais pobre do que ela). Sara finge que é um soldado numa longa marcha, finge que é uma prisioneira na Bastilha, finge que os seus móveis são decoração de luxo, faz de um ratinho do sótão seu amigo, a quem dá migalhas. Porque uma princesa não se queixa - uma princesa ajuda e dá aos outros.

If nature has made you for a giver, your hands are born open, and so is your heart. And though there may be times when your hands are empty, your heart is always full, and you can give things out of that - warm things, kind things, sweet things - help and comfort and laughter - and sometimes gay, kind laughter is the best help of all.

Um dia, um senhor muito rico mas doente muda-se para a casa ao lado, e Sara está curiosa quanto à identidade do senhor (e cria histórias sobre ele para se esquecer da sua fome). E, um dia, conhece Ram Dass, o criado indiano do dito senhor, e o macaquinho de estimação da casa.

A Índia lembra-lhe de casa - e o facto de Sara falar indiano aquece o coração de Ram Dass, que fala na menina ao seu patrão, que também a quer ajudar - o vizinho rico, na verdade, andava desesperadamente à procura de uma menina, filha de um antigo amigo seu que tinha morrido. O resto da história entra por caminhos um pouco previsíveis, mas a história é mágica de qualquer maneira, e eu recomendo o livro a qualquer pessoa, independentemente da idade.

Somehow, something always happens just before things get to the very worst. It is as if Magic did it. If I could only just remember that always. The worse thing never quite comes.

Sara é, de várias maneiras, perfeita e privilegiada, e essa perfeição não faz dela uma personagem horrível, porque tem noção do seu lugar na sociedade e porque associa à ideia de "princesa" não uma altivez, mas bondade, inteligência e preocupação com os outros, especialmente com quem está pior do que ela, por pior que ela se possa sentir. É uma personagem forte, que aguenta o que a vida lhe traz apesar de todo o seu sofrimento. E se Sara Crewe aguenta tudo isto com classe e bondade, independentemente do que tiver vestido ou comido - porque a vida e o presente são mais importantes que tudo o resto - não podemos aguentar também? 

Claro que há uma elevada carga moral no livro, mas não é empurrada no leitor - apenas nos faz querer ser melhores pessoas, no fundo. Mesmo quando Sara parece demasiado boa para ser verdade. Ou talvez isso tenha sido propositado, para acrescer ao toque de conto de fadas, de fantasia - a mesma fantasia que sustentou Sara durante os anos de privação.

É impossível não mencionar o problema indiano, de fetichismo colonial, o orientalismo britânico típico da altura; mesmo na simpatia de Sara com Ram Dass há o toque classista e imperial. Também The Secret Garden começa na Índia, onde Mary Lennox fica órfã, e também neste livro o background indiano permeia a narrativa - mas é necessário contextualizar a obra na altura em que foi escrita. 

5/5

Podem comprar uma outra edição em inglês aqui, ou em português aqui.

Comentários

  1. Gostei muito do post, parece um bom livrinho Ba
    Lembra-te da Sara Crewe também quando sentires saudades de Lisboa :$

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  2. Mais um livro com que me deixaste com vontade de ler :)

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