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A Tree Grows in Brooklyn

Esta foi a leitura escolhida pela pessoa mais importante da minha vida, com o argumento (entre outros, claro está) que Brooklyn é no ghetto. Se isso não vos parece uma razão legítima, há algo decididamente errado nas vossas vidas.


Este livro é sobre Francie Nolan e a sua família, no Brooklyn do início do século XX. Francie é uma rapariga inteligente e solitária que tenta encontrar beleza nos pequenos momentos da sua vida de pobre (confirmando portanto a parte ghetto do livro); o seu pai, Johnny, é óptima pessoa mas está demasiado preso no seu alcoolismo para conseguir sustentar a família; a mãe, Katie, é descrita como sendo lindíssima, adora a sua família, mas é forçada a sustentá-los e é frequentemente dura (Francie’s mother is small and pretty but steely and tough but her father is warm and charming and, above all, a prisoner of his need for drink.); Neeley, o irmão, é o favorito da mãe; uma das tias, Sissy, é das melhores pessoas do livro, mas gosta demasiado de homens.

O título da obra refere-se a uma árvore que insiste em crescer no bairro deles, apesar de ser frequentemente cortada e a sua presença contestada - servindo assim de metáfora para a vida da protagonista. Francie cresce desde uma inocente criança que gosta de ler a uma jovem que encontra o amor, o emprego, entre outras coisas da vida. Ao longo do livro, Francie recusa-se a conformar-se com a sua pobreza, desistindo de alguns sonhos ao longo do caminho - mas mantendo-se fiel a si mesma.

“I want to live for something. I don't want to live to get charity food to give me enough strength to go back to get more charity food."

A maioria do livro é composta por pequenos capítulos que relatam episódios aparentemente mundanos da vida dos Nolan, especialmente de Francie, de modo a demonstrar a vida deles e as suas personalidades: a força de Katie, o amor de Sissy, a curiosidade de Francie pela vida.

"Everything struggles to live. Look at that tree growing up there out of that grating. It gets no sun, and water only when it rains. It’s growing out of sour earth. And it’s strong because its hard struggle to live is making it strong. My children will be strong that way."

Francie é inocente e impressionável, e deixa frequentemente que tirem proveito dela, mas a sua curiosidade pela vida e vontade de aprender são incríveis. Ela tem uma força imensa, aparentemente herdada da mãe, e uma vontade enorme de subir na vida, de sair da miséria em que foi criada, algo que já a sua avó tentara fazer com as suas filhas. Todas elas acreditam na educação como o caminho para o futuro, para o sonho americano, e, dessa maneira, Francie anseia pela escola - mas descobre que nem tudo é tão bom como parecia.

"They think this is so good," she thought. "They think it’s good - the tree they got for nothing and their father playing up to them and the singing and the way the neighbors are happy. They think they’re mighty lucky that they’re living and that it’s Christmas again. They can’t see that we live on a dirty street in a dirty house among people who aren’t much good. Johnny and the children can’t see how pitiful it is that our neighbors have to make happiness out of this filth and dirt. My children must get out of this. They must come to more than Johnny or me or all these people around us."

A escola é um lugar duro, onde os professores claramente favorecem as crianças mais privilegiadas. Ela aprende a ler, uma paixão que a acompanha ao longo da sua vida, e sonha em tornar-se escritora, decidindo-se por fim por escrever peças. Mas o "sonho americano" de fugir ao ciclo da pobreza não é o que parecia, e, quando uma desgraça cai na família dos Nolan e Francie começa a escrever sobre assuntos menos agradáveis, é confrontada pela professora, Miss Garnder.

“But poverty, starvation and drunkenness are ugly subjects to choose. We all admit these things exist. But one doesn’t write about them.”
“What does one write about?” Unconsciously, Francie picked up the teacher’s phraseology.
“One delves into the imagination and finds beauty there. The writer, like the artist, must strive for beauty always.”
“What is beauty?” asked the child.
“I can think of no better definition than Keats’: ‘Beauty is truth, truth beauty.’”
Francie took her courage into her two hands and said, “Those stories are the truth.”

E Francie abandona os seus sonhos, não chega a ir para a escola secundária, e vai trabalhar para fábricas, para escritórios, para o outro lado da Brooklyn Bridge, que lhe parecia mais fascinante do lado "de cá".

Se por um lado esta é a história de uma rapariga a crescer e a perder a sua inocência num ghetto em Brooklyn, é também uma história de comentário social sobre a vida nessa mesma zona, sobre as coisas sobre as quais Francie foi aconselhada a não escrever pela professora, é uma história sobre como o sonho americano falha para com aqueles que tanto dependem dele. É a história de uma família a passar dificuldades e a forma como lidam com elas, como tentam sobreviver contra todas as probabilidades, sobre desistir de sonhos em prol de um bem maior.

É a história do que significava, há cem anos atrás, ser uma jovem mulher nos Estados Unidos.

“Dear God," she prayed, "let me be something every minute of every hour of my life. Let me be gay; let me be sad. Let me be cold; let me be warm. Let me be hungry... have too much to eat. Let me be ragged or well dressed. Let me be sincere - be deceitful. Let me be truthful; let me be a liar. Let me be honorable and let me sin. Only let me be something every blessed minute. And when I sleep, let me dream all the time so that not one little piece of living is ever lost.” 

No final, Francie Nolan diz adeus à sua infância, à sua juventude. É triste, e é bonito, e é um livro que recomendo a toda a gente.

5/5

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