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A Farewell to Arms

Mais Hemingway:


E, surpreendentemente, um Hemingway do qual gostei mais que do Fiesta.

A Farewell to Arms é um olhar cínico, semi auto-biográfico, para a Primeira Guerra Mundial, um evento que marcou e definiu não só a geração de Hemingway, como a história da Europa e do Mundo. Estive a pensar em quantos livros que abordem esta guerra já li - este é o primeiro. Parece-me uma guerra pouco popular em termos de literatura, especialmente quando comparada com a Segunda Guerra Mundial, prolífica tanto em termos de memórias como de ficção, mesmo em tempos recentes.

Adiante, o livro relata a história do Lt. Frederic Henry, um jovem americano que se voluntariou enquanto condutor de ambulâncias no exército italiano numa altura em que os Estados Unidos não tinham ainda entrado na guerra. Frederic Henry passa por coisas como quase perder as pernas, escapar a uma execução e desertar o exército e ir para a Suíça de barco a remos com uma apatia invejável - algo que muitos dos personagens principais do Hemingway parecem ter. Explodir pontes? Fácil. Touradas? Fácil. Quase perder as pernas? Fácil também. Especialmente quando constantemente alcoolizado.

The war seemed as far away as the football games of some one else's college.

E a guerra parece longe durante grande parte deste livro, excepto quando há bombardeamentos, ou pessoas a esvair-se em sangue no beliche de cima, ou execuções de desertores, eventos que ainda assim não são descritos de forma incrivelmente dramática.

Há toda uma história de amor neste livro, entre Frederic Henry e Catherine Barkley, uma enfermeira inglesa. E é nisto que me vou focar, não nas descrições da guerra (para isso é melhor o For Whom the Bells Toll), porque este não é um livro que glorifica a guerra, parecendo mesmo em partes ridicularizá-la indirectamente.

God knows I had not wanted to fall in love with her. I had not wanted to fall in love with any one. But God knows I had and I lay on the bed in the room of the hospital in Milan and all sorts of things went through my head but I felt wonderful and finally Miss Gage came in. 

Catherine é o argumento principal para a visão do Hemingway misógino, e consigo ver porquê. Mas vou defendê-la. Catherine viajou para um país estrangeiro para tomar conta de feridos, trabalha exaustivamente ao longo do livro e ainda rema o barco grávida, e sobrevive e faz a sua vida num país estrangeiro sem o Frederic ao lado, não vai abaixo na sua ausência. Ela é inteligente e idependente, embora possa parecer incrivelmente submissa, pode dizer a toda a hora que quer agradar ao Frederic, que quer ser ele - ela quer amor quando tudo o que vê à sua volta é a desgraça e a devastação da guerra e quase enlouquece. Suponho que quando tudo à nossa volta se está a destruir, o amor pareça mais urgente.

"We won't think about that until you go. You see I'm happy, darling, and we have a lovely time. I haven't been happy for a long time and when I met you perhaps I was nearly crazy. Perhaps I was crazy. But now we're happy and we love each other. Do let's please just be happy. (...)"

Mas esta não é exactamente uma história de amor. Catherine e Frederic precisam um do outro, do amor um do outro naquele cenário, perguntam constante e repetitivamente um ao outro se não estão a ter a lovely time; são personagens desesperadas numa situação desesperada, e mesmo quando Frederic declara o seu amor e lhe fala como a sua vida será incrível, Catherine resiste e duvida e fala sempre em como vê a tragédia à sua frente, embora lhe seja constantemente devota.

"All right. I'm afraid of the rain because sometimes I see me dead in it." 
"No." 
"And sometimes I see you dead in it." 
"That's more likely." 
"No it's not, darling. Because I can keep you safe. I know I can. But nobody can help themselves." 

São personagens emocionalmente destruídas pela guerra, ou apenas emocionalmente vazias, o que faz da história deles incrivelmente triste. Convencem-se do seu amor porque só se têm um ao outro, porque são a esperança um do outro num cenário de guerra e morte e solidão.

"I'm a very simple girl," Catherine said. 
"I didn't think so at first. I thought you were a crazy girl." 
"I was a little crazy. But I wasn't crazy in any complicated manner. I didn't confuse you did I, darling?"

Não acho que este fosse daqueles romances que devem ser apoiados pelo leitor - era uma forma de escapismo. O seu romance apaixonado é uma forma de suportar a dor - Catherine tinha perdido um noivo na guerra pouco antes, Frederic tinha não só quase perdido as pernas como estava também visivelmente mentalmente afectado e adormecido. Frederic joga às cartas, joga bilhar, e "joga" ao amor para se distrair da sua própria dor.

E Catherine faz o mesmo.

"I just woke up thinking about how I was nearly crazy when I first met you. Do you remember?" 
"You were just a little crazy." 
"I'm never that way any more. I'm grand now. You say grand so sweetly. Say grand." 
"Grand." 
"Oh, you're sweet. And I'm not crazy now. I'm just very, very, very happy." 

A vida intervém sempre. O Lt. Frederic Henry observa todos os eventos, toda a sua vida, de forma apática, estóica, um mero espectador da sua vida, sem levantar questões, aceitando simplesmente tudo o que acontece. O final do livro é trágico e devastador.

We were never lonely and never afraid when we were together. I know that the night is not the same as the day: that all things are different, that the things of the night cannot be explained in the day, because they do not then exist, and the night can be a dreadful time for lonely people once their loneliness has started. But with Catherine there was almost no difference in the night except that it was an even better time. If people bring so much courage to this world the world has to kill them to break them, so of course it kills them. The world breaks every one and afterward many are strong at the broken places. But those that will not break it kills. It kills the very good and the very gentle and the very brave impartially. If you are none of these you can be sure it will kill you too but there will be no special hurry.

5/5

Podem comprar esta edição aqui, ou em português aqui.

Comentários

  1. Vou seguir a tua recomendação. Parece-me interessante:)

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    1. Edite, a par do "The Sun also Rises", este é o meu favorito. Recomendo mesmo muito!

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