Entrando no Shakespeare após anos de hiato, em mais um empréstimo do melhor companheiro de sempre.
Othello é um General norte-africano em Veneza, um herói de guerra, um ideal renascentista de confiança, honra, coragem e valentia, que se apaixonou por Desdemona, filha de um Senador, Brabantio, e com ela se casa em segredo; Brabantio não fica contente, pois Othello é, afinal, africano, e o nobre Roderigo seria um muito melhor par para a sua filha. No entanto, Desdemona apaixonara-se pelas histórias de bravura de Othello, e com ele fica. Brabantio despede-se com as seguintes palavras:
BRABANTIO
Look to her, Moor, if thou hast eyes to see:
She has deceived her father, and may thee.
Othello é o líder militar extremamente profissional, demasiado nobre para se deixar levar por emoções - unido por honra a soldados como Cassio e Iago, que trabalharam sempre com ele, do seu lado. Othello é um homem negro numa sociedade branca, o que possivelmente o leva, no fim, a interpretar mal a realidade.
Othello continua a fazer inimigos ao promover Cassio, um jovem soldado, a seu second in command em vez de Iago. Iago junta-se a Roderigo, tendo sido ele quem informou Brabantio inicialmente do casamento secreto e criando todo um plano para conseguir o lugar que desejava: convencer Othello de que Desdemona o trai com Cassio.
Iago estivera sempre, militarmente, ao lado de Othello, o que o leva a confiar nele, a crê-lo um homem honesto - e isto leva a uma ligação maior e mais forte entre Othello e Iago do que entre Othello e Desdemona, se não de amor, pelo menos de confiança. Talvez a lição desta peça seja a confiança mal depositada: Othello confia demasiado em Iago e não o suficiente em Desdemona. Porquê casar (ou estar) com alguém se não há confiança? Ao haver confiança, por que é que não houve diálogo?
Percebo que Othello desconfiasse de Desdemona pela citação acima - por ela já ter traído o seu pai, isto numa altura em que mulheres eram propriedade que passava de homem em homem, do pai para o marido, etc. São apresentadas as dualidades de dever e amor pai-filha, marido-mulher, general-oficial. Mas fico triste por ele ter desconfiado tão prontamente dela.
Tudo isto é, claro, exacerbado pelo facto de estarmos a falar de uma relação com um pesado estigma bi-racial, quase condenado à partida - mas não foi isto que os separou, foi a inveja e a sede de poder de uma personagem. A inveja é o ponto central da narrativa, uma força destruidora.
Embora o nome da peça seja Othello, acho que é Iago quem mais se destaca: não contei, mas acho que é ele quem tem mais linhas, e é sem dúvida, para mim, a personagem principal. Ele destrói a vida inteira de um homem simplesmente porque podia, por inveja e por pouco mais; e destrói toda a gente de uma forma praticamente limpa e precisa, com uma motivação clara e objectiva e que levanta poucas questões.
Othello continua a fazer inimigos ao promover Cassio, um jovem soldado, a seu second in command em vez de Iago. Iago junta-se a Roderigo, tendo sido ele quem informou Brabantio inicialmente do casamento secreto e criando todo um plano para conseguir o lugar que desejava: convencer Othello de que Desdemona o trai com Cassio.
Iago estivera sempre, militarmente, ao lado de Othello, o que o leva a confiar nele, a crê-lo um homem honesto - e isto leva a uma ligação maior e mais forte entre Othello e Iago do que entre Othello e Desdemona, se não de amor, pelo menos de confiança. Talvez a lição desta peça seja a confiança mal depositada: Othello confia demasiado em Iago e não o suficiente em Desdemona. Porquê casar (ou estar) com alguém se não há confiança? Ao haver confiança, por que é que não houve diálogo?
Percebo que Othello desconfiasse de Desdemona pela citação acima - por ela já ter traído o seu pai, isto numa altura em que mulheres eram propriedade que passava de homem em homem, do pai para o marido, etc. São apresentadas as dualidades de dever e amor pai-filha, marido-mulher, general-oficial. Mas fico triste por ele ter desconfiado tão prontamente dela.
Tudo isto é, claro, exacerbado pelo facto de estarmos a falar de uma relação com um pesado estigma bi-racial, quase condenado à partida - mas não foi isto que os separou, foi a inveja e a sede de poder de uma personagem. A inveja é o ponto central da narrativa, uma força destruidora.
Embora o nome da peça seja Othello, acho que é Iago quem mais se destaca: não contei, mas acho que é ele quem tem mais linhas, e é sem dúvida, para mim, a personagem principal. Ele destrói a vida inteira de um homem simplesmente porque podia, por inveja e por pouco mais; e destrói toda a gente de uma forma praticamente limpa e precisa, com uma motivação clara e objectiva e que levanta poucas questões.
A questão aqui é por que é que pessoas como Iago existem.
Iago embebeda Cassio para destruir a sua reputação e constrói todo um esquema para que Othello acredite que a sua amada está a ter um caso com Cassio. Mesmo Desdemona acredita na honestidade e pureza de espírito de Iago e lhe pede ajuda.
Sendo uma tragédia, esta peça acaba em morte - várias mortes, incluindo a de Desdemona pelas mãos de Othello, numa espécie de crime de honra. Antes de morrer, Desdemona diz-lhe que o ama, apesar de todas as acusações - apesar do homicídio.
5/5
Comentários
Enviar um comentário