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I Know Why the Caged Bird Sings

A primeira de uma série de autobiografias de Maya Angelou, sobre a sua infância passada entre o Missouri, o Arkansas e a California.


Nesta autobiografia, Marguerite Johnson, melhor conhecida como Maya Angelou, descreve a sua vida desde os seus três anos até ao nascimento do seu filho, quando tinha 17 anos. É um pouco embaraçoso só estar a ler este livro agora, quando Maya Angelou foi uma pessoa tão inspiradora para tanta gente.

The Black female is assaulted in her tender years by all those common forces of nature at the same time that she is caught in the tripartite crossfire of masculine prejudice, white illogical hate and Black lack of power.

Com três anos, e no seguimento do divórcio dos pais, Marguerite foi enfiada num comboio sozinha com o seu irmão, Bailey, de quatro anos, para viverem com a avó paterna, "Momma", uma senhora de fortes convicções e valores religiosos, dona de uma loja em Stamps, Arkansas, que tentou fazer da vida o melhor que podia para os seus netos e para o seu filho, o tio Willie, deficiente.

Crescer no Arkansas (ou no Sul dos Estados Unidos) nos anos '30 e '40 sendo uma pessoa de cor claramente não era fácil, e nesse sentido I Know why the Caged Bird Sings serve como um documento histórico sobre os preconceitos e a opressão que uma criança negra sentia diariamente num estado do Sul, onde fazia parte dos "outros" desprezados pela restante sociedade, um contrapeso no facto fascinante de Momma ter conseguido ultrapassar a Grande Depressão com relativo conforto, tendo criado um sistema de crédito na sua loja.

E é incrível ver como a jovem Marguerite demonstrou força e coragem através de todas as dificuldades, sendo hoje em dia um modelo para quem passa por discriminação ou injustiças.

I was liked, and what a difference it made.

Quando Marguerite tinha oito anos e Bailey nove, o pai deles aparece para os levar para viver em St. Louis com a mãe, Vivian Baxter, uma mulher lindíssima a quem Bailey chamava "Mother Dear", e é aqui que acontece um dos momentos fulcrais da vida de Maya Angelou, quando é violada pelo namorado da mãe, Mr. Freeman. Este ameaça matar Bailey se ela contar a alguém, mas o crime é descoberto na mesma e Mr. Freeman, libertado num dia após o julgamento, é assassinado, supostamente pelos irmãos de Vivian.

Maya e Bailey regressam a Stamps, e Maya vive como um zombie com medo de falar durante anos, enquanto Bailey tem tantas saudades da mãe que é castigado após chegar tarde a casa por ter ficado a ver e rever um filme cuja estrela era parecida com Vivian.

Marguerite teve a sorte de estar, ao longo da sua vida, rodeada de mulheres independentes e inteligentes, como a sua avó, dona de um negócio e de terras, a sua mãe, também dona de um negócio, ambas com a confiança necessária para não depender de homens, e Bertha Flowers, uma professora, que anos mais tarde consegue devolver a voz e a confiança a Marguerite, inspirando-lhe também o amor pelas palavras e pela literatura:

I had read a Tale of Two Cities and found it up to my standards as a romantic novel. She opened the first page and I heard poetry for the first time in my life ... her voice slid in and curved down through and over the words. She was nearly singing. (...)
As I ate she began the first of what we later called "my lessons in living". She said that I must always be intolerant of ignorance but understanding of illiteracy. That some people, unable to go to school, were more educated and even more intelligent than college professors.

Aos 12 anos, Maya, que sempre fora trabalhadora e inteligente, tem a cerimónia de fim de curso na sua escola, Lafayette County Training School, e foi aqui que senti necessidade de parar e reler o que se estava a passar.

He told us of the wonderful changes we children in Stamps had in store. The Central School (naturally, the white school was Central) had already been granted improvements that would be in use in the fall. A well-known artist was coming from Little Rock to teach art to them. They were going to have the newest microscopes and chemistry equipment for their laboratory. Mr. Donleavy didn't leave us long in the dark over who made these improvements available to Central High. Nor were we to be ignored in the general betterment scheme he had in mind.
He said that he had pointed out to people at a very high level that one of the first-line football tacklers at Arkansas Agricultural and Mechanical College had graduated from good old Lafayette County Training School. Here fewer Amen's were heard. Those few that did break through lay dully in the air with the heaviness of habit.
He went on to praise us. He went on to say how he had bragged that “one of the best basketball players at Fisk sank his first ball right here at Lafayette County Training School.”
The white kids were going to have a chance to become Galileos and Madame Curies and Edisons and Gauguins, and our boys (the girls weren't even in on it) would try to be Jesse Owenses and Joe Louises.
Owens and the Brown Bomber were great heroes in our world, but what school official in the white-goddom of Little Rock had the right to decide that those two men must be our only heroes? Who decided that for Henry Reed to become a scientist he had to work like George Washington Carver, as a bootblack, to buy a lousy microscope? Bailey was obviously always going to be too small to be an athlete, so which concrete angel glued to what country seat had decided that if my brother wanted to become a lawyer he had to first pay penance for his skin by picking cotton and hoeing corn and studying correspondence books at night for twenty years?
The man's dead words fell like bricks around the auditorium and too many settled in my belly. Constrained by hard-learned manners I couldn't look behind me, but to my left and right the proud graduating class of 1940 had dropped their heads. Every girl in my row had found something new to do with her handkerchief. Some folded the tiny squares into love knots, some into triangles, but most were wadding them, then pressing them flat on their yellow laps.
On the dais, the ancient tragedy was being replayed. Professor Parsons sat, a sculptor's reject, rigid. His large, heavy body seemed devoid of will or willingness, and his eyes said he was no longer with us. The other teachers examined the flag (which was draped stage right) or their notes, or the windows which opened on our now-famous playing diamond.
Graduation, the hush-hush magic time of frills and gifts and congratulations and diplomas, was finished for me before my name was called. The accomplishment was nothing. The meticulous maps, drawn in three colors of ink, learning and spelling decasyllabic words, memorizing the whole of The Rape of Lucrece—it was for nothing. Donleavy had exposed us.
We were maids and farmers, handymen and washerwomen, and anything higher that we aspired to was farcical and presumptuous.

O resto do livro centra-se mais na relação de Marguerite com a sua mãe, após ir viver com ela na California aos 15 anos, e reaprender que os seus pais, que trabalhavam em cidades, viviam em mundos morais completamente separados de Stamps. Numa visita ao pai, no Sul da California, Marguerite atravessa a fronteira do México com ele, tem de conduzir de volta embora nunca o tivesse feito na vida, e é esfaqueada pela namorada ciumenta do pai, fugindo de casa do pai.

Após um mês a viver num ferro-velho, volta a viver com a mãe, que a apoia sempre: tanto quando Maya decide ser a primeira condutora de eléctricos negra (o emprego estava exclusivamente disponível para brancos) como quando é mãe adolescente, após um encontro casual com um rapaz somente para perceber se era heterossexual:

“See, you don't have to think about doing the right thing. If you're for the right thing, then you do it without thinking.”

Este livro seria muito mais difícil de ler se não fosse o tom casual utilizado, a honestidade, o sentido de humor, sem a força da autora. É autêntico, não há necessidade de parar para interpretar porque tudo nos é dito directamente. Somos todos humanos e somos todos iguais, mesmo não tendo passado pelas mesmas experiências, e é a essa humanidade que Maya Angelou se dirige: ela dirige-se a todos nós, dirige o seu sofrimento, confusão, raiva, solidão, orgulho, culpa e desespero, bem como a sua dor física e emocional, a todos nós, bem como os seus triunfos e vitórias.

E é da mesma condição de ser humano que este livro nos pode fazer sentir vergonha, por todas as acções desumanas e brutais das quais somos capazes.

Maya Angelou morreu há pouco mais de dois anos, após uma vida extremamente preenchida, desde as sete autobiografias que escreveu ao seu activismo junto de Martin Luther King, passando por uma carreira como dançarina e cantora exótica, tendo inspirado inúmeras pessoas.

Words mean more than what is set down on paper. It takes the human voice to infuse them with shades of deeper meaning.

5/5

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Comentários

  1. Olá!
    Fiquei muito interessada neste livro. Gostei muito da opinião.
    Beijinhos e boas leituras

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    Respostas
    1. muito obrigado Isaura! tenho bastante trabalho e cuidado nas opiniões que escrevo, é sempre bom ler essas palavras.
      o livro é muito inspirador, recomendo vivamente!
      boas leituras :)

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