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Festival Folio

Fui ver o Salman Rushdie.


Esta é a segunda vez que faço uma review de algo que não um livro. Essa não foi uma opinião positiva; quero explorar por aqui mais do mundo literário, que não apenas livros, e quero mudar esta tendência. Mas ainda não é desta vez.

Por um laivo de tontice ou outro que tal, o meu companheiro (que arrastei, é claro) e eu decidimos ir de comboio e não de carro. A viagem era longa mas supostamente o comboio ia ser uma animação literária. Supostamente também estavam assegurados transfers desde a estação de comboios fantasma da vila de Óbidos até ao festival.

Garanto que nenhum dos dois aconteceu.

No meio da confusão de uma boa dúzia de pessoas esperando um transfer que não chegava, no meio da solidariedade que surge quando estamos todos perdidos e todos a ir ao mesmo, tivemos a sorte de uma senhora ter boleia da sua irmã e ter lugar para duas pessoas. Não fiquei com o nome de nenhuma das duas, mas em gesto de agradecimento faço aqui publicidade ao seu negócio de agro-turismo, do qual me falou.

Sou uma pessoa que trabalha, e como todos os que trabalham sabem, tirar dias de férias pode ser um luxo; como tal só pude ir ao Festival no comboio que já lá chegava à noite. Depois dos já mencionados percalços, fui directamente para a tenda onde iria haver a conversa com o autor, fui anotando mentalmente algumas livrarias para ver depois do evento pelo qual realmente fui; encontrei um canto de street food e comprei uma sandes para ir comendo, que superou expectativas, e uma limonada, a melhor que bebi em muito tempo. E lá fui de comida na mão ver a conversa do Salman Rushdie.


Confesso desde já que nunca li nada do autor - só sobre a vida dele e as polémicas em que se encontrou envolvido. Sobre a conversa de Salman Rushdie com Clara Ferreira Alves há vários artigos nos media mais variados, pelo que não me irei alongar; a conversa valeu bastante, confirmei que é uma personagem fascinante, e, embora não concorde com tudo o que ele disse, despertou-me uma curiosidade ainda mais tremenda sobre a sua obra (estou com o rato ali meio no marcador do AwesomeBooks).

Quando saímos do evento, tentámos ir ver as tais livrarias e lojas pelas quais tínhamos passado. Num curto espaço de tempo, estava tudo fechado. Tudo. Percebo que já eram 22h30 - mas ao mesmo tempo, estamos a meio de um evento, evento esse literário - e o comboio de regresso a Lisboa era duas horas depois. DUAS.

O recinto, dentro das muralhas do castelo, era lindíssimo, e de certeza que quero regressar a Óbidos (de dia, de carro) para apreciar melhor. Mas quando o espaço é reduzido, tudo já está fechado e toda a gente já se foi embora, que resta para fazer num festival fantasma, onde nem um café aberto se encontrava? E quando não havia iluminação alguma à saída do festival e tínhamos de encontrar o caminho para a estação de comboios mais isolada de sempre?

Note to self, ir de carro para os sítios. Outra note to self, escrever um filme de terror baseado nesta noite.

Festival fantasma

Ter a oportunidade de ver e ouvir Salman Rushdie a falar é única, a qual realmente agradeço. Todo o resto do festival ficou muitíssimo aquém daquilo que esperava. E eu só esperava o mínimo básico - que as livrarias estivessem abertas no decorrer do festival, que houvesse coisas para fazer depois da conversa com o autor, para garantir a segurança e ocupação daqueles que tinham um comboio duas horas depois (e, acrescente-se, não tinham transfers). Havia um concerto, sim, mas para este havia bilhetes. Para quem não os tivesse adquirido, não havia absolutamente nada para fazer. E eu não só não o tinha feito como não estava interessada em pagar para assistir a uma banda desconhecida que se ouvia de fora da tenda.

Muito, muito a criticar na organização. Alguma fé restaurada na bondade das pessoas, muito pouca esperança na boa organização de eventos neste país.

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