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The Sketch Book of Geoffrey Crayon, Gent.

Uma falsa compilação de histórias.


Fui sem dúvida vítima de marketing no que respeita ao título deste livro: não pude resistir a um volume com as duas histórias mais famosas do autor (Rip Van Winkle e The Legend of Sleepy Hollow), mas será que resistiria ao Sketchbook of Geoffrey Crayon, Gent.?

Sketchbook” é um nome muito mais adequado do que “Stories”, pois nem todas as pequenas narrativas deste volume se podem classificar como tal: é uma colecção de peças descritivas, narrativas, históricas, entre outras, sobre a vida rural e urbana e tradições natalícias no Reino Unido (que o autor considera de extremo interesse para quem, como ele, é Norte-Americano), entre algumas histórias sobrenaturais. É um leque tão vasto de narrativas que é fácil encontrar algo que nos apele – mesmo que não seja o caso da maioria.

Não vou mentir – não retirei grande prazer desta leitura, talvez por muitas das peças serem de índole descritiva (algo que não faz o meu género), o que se torna repetitivo e mesmo aborrecido. Tendo em conta as histórias mais conhecidas do autor, esperava algo mais negro, mais folclore, mais fantástico (mais adequado ao Halloween, talvez), e não foi isso que encontrei.

Para mim, e quiçá para o leitor moderno, muitas das histórias serão desprovidas de interesse, mas é fascinante ver a paixão de Washington Irving pela natureza, pela comunidade, pela tradição e pelo folclore, a forma como ele usa as palavras e demonstra a sua capacidade de escrita e de expressar emoções.

Histórias como The Legend of Sleepy Hollow, no entanto, sobrevivem bem ao passar dos séculos e ainda são de leitura agradável, com temas como a mudança cultural – embora quiçá de narrativa demasiado lenta para quem quer apenas acompanhar o cavaleiro sem cabeça a perseguir o professor: temos o narrador a descrever a cidade de Sleepy Hollow, uma cidade pequena com ambiente de assombração e cuja população acredita piamente no cavaleiro sem cabeça. Ichabod Crane, o professor que chega de Connecticut, alto e desajeitado, que lê e canta e se mete com as mulheres da cidade e adora ouvir histórias de fantasmas.

All these, however, were mere terrors of the night, phantoms of the mind that walk in darkness; and though he had seen many spectres in his time, and been more than once beset by Satan in divers shapes, in his lonely pre-ambulations, yet daylight put an end to all these evils; and he would have passed a pleasent life of it, in despite of the devil and all his works, if his path had not been crossed by a being that causes more perplexity to mortal man than ghosts, goblins, and the whole race of witches put together, and that was - a woman.

Ichabod Crane, que conhece Katrina e se apaixona, Katrina noiva do bully local, Brom Van Brunt. Ichabod vai a uma festa na casa de Katrina, na esperança de um dia casar com ela, de a conquistar, e fica até tarde para a ouvir falar, após todas as histórias de fantasmas de toda a população – incluindo a história do cavaleiro sem cabeça.

Ichabod sai tarde da festa, vai sozinho no seu cavalo emprestado, e tem um encontro de terceiro grau com um cavaleiro sem cabeça, que o persegue. Terror segue-se e, na manhã seguinte, só se encontra o cavalo, o chapéu de Ichabod e uma abóbora esmagada. Toda a cidade aceita que foi o cavaleiro que matou Ichabod. Mas fica a dúvida: será que foi Brom a querer afastar a concorrência do coração de Katrina? Será que Ichabod sobreviveu e fugiu por ter sido rejeitado por esta e pelo susto?

Existirá mesmo um cavaleiro sem cabeça?

E esta história sobrevive por ser do mais próximo que a América do Norte tem de superstições e histórias tradicionais. Enquanto nação nova e recente, é uma lacuna cultural que, com The Legend of Sleepy Hollow e Rip Van Winkle, Washington Irving tentou colmatar.

E para reflexão, a seguinte citação:

Writers will write, printers will print, and the world will inevitably be overstocked with good books. It will soon be the employment of a lifetime merely to learn their names. Many a man of passable information, at the present day, reads scarcely anything but reviews; and before long a man of erudition will be little better than a mere walking catalogue.

3/5

Podem comprar esta edição aqui, ou em português aqui.

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