O Château onde pode ter nascido o absolutismo de Louis XIV.
Este post pode parecer um pouco rebuscado, mas dois motivos fizeram com que decidisse publicá-lo: as ligações que se podem estabelecer entre este lugar e a literatura e, bem, o blog ser meu e eu fazer o que quiser.
Já tendo ido duas vezes ao Château de Versailles, achei que era a altura de diversificar os meus destinos e comecei a minha tour de palácios ao visitar o Château de Vaux-le-Vicomte. Este palácio fica um bocado no meio do nada: tem de se apanhar um comboio na Gare de l'Est (o transilien linha P em direcção a Provins) e, posteriormente, apanhar o ChâteauBus, um shuttle que está combinado com as horas do comboio. Ou seja: é preciso planear, mas é fácil.
Sente-se a magnificência do espaço logo que se vê o portão: mesmo não sendo visível o palácio (coberto por outros edifícios), sente-se a grandiosidade e tudo o que foi investido na sua construção e planeamento. E aqui se começa a perceber um pouco dos acontecimentos históricos: este Château foi concebido como residência de Nicolas Fouquet.
E importa perceber quem foi Nicolas Fouquet.
Ministro das finanças de Louix XIV, Nicolas Fouquet é retratado como tendo sido um homem ambicioso. Quando o Cardeal Mazarin (sucessor de Richelieu) faleceu, Fouquet ambicionava ser ministro de Estado. O seu Château era um lugar de festas, arte e literatura: peças de Molière eram encenadas e estreadas, e La Fontaine era amigo próximo de Fouquet. A 17 de Agosto de 1661, Fouquet deu uma festa em honra do Rei, na qual estreou a peça Les Fâcheux, de Molière.
La Fontaine escreveu posteriormente sobre esta festa que ficou para a história, no seu poema Élegie aux Nymphes de Vaux:
Inspirez à Louis cette même douceur:
La plus belle victoire est de vaincre son coeur.
Oronte est à présent un objet de clémence;
S'il a cru les conseils d'une aveugle puissance,
Il est assez puni par son sort rigoureux;
Et c'est être innocent que d'être malheureux.
A festa foi sumptuosa; e Jean-Baptiste Colbert convenceu o rei que algo estava errado: como é que o ministro das finanças podia ter um palácio tão grandioso? Só podia estar a desviar dinheiro... Louis XIV contratou André Le Nôtre, o arquitecto paisagista de Vaux-le-Vicomte, para recuperar e planear os terrenos da sua casa de férias/caça (o conhecido Château de Versailles). Ou seja: os jardins de Versailles são inspirados nestes.
E, meus amigos, a inveja é lixada. Nicolas Fouquet foi condenado ao exílio à pala de mandar construir uma casa, mas Louis XIV condenou-o à prisão perpétua porque achou que o exílio seria pouco (e foi Colbert quem sucedeu a Mazarin e a Fouquet).
Portanto, temos Nicolas Fouquet, amigo de La Fontaine - mas também temos Nicolas Fouquet, a personagem associada ao Homem da Máscara de Ferro, cuja identidade foi alvo de suposições por escritores como Voltaire, Marcel Pagnol e Alexandre Dumas. O filme de 1998 baseado na obra de Alexandre Dumas, aliás, foi filmado aqui. Neste livro, que nunca li (acabei praticamente agora, aliás, de ler Les Trois Mousquetaires - e este o Homem da Máscara de Ferro é o terceiro da trilogia de D'Artagnan), segundo percebo, Fouquet conspirava para colocar o misterioso indivíduo, alegado irmão gémeo de Louis XIV, no poder; na vida real, Eustache Dauger (a identidade recentemente atribuída ao Homem da Máscara de Ferro), tendo estado preso, como Fouquet, em Pinerol, serviu como seu lacaio.
Tendo uma vaga noção destes factos, confesso que entrei na loja com vontade de comprar o último volume da trilogia D'Artagnan; podia sempre comprar o Ving Ans Aprés num outro local, certo? No entanto, o único livro disponível do autor era aquele que eu já tinha lido - e havia várias edições das Fábulas de La Fontaine, em capa dura, mole, ilustradas, sem ilustrações... optei por trazer esta, por financiar um projecto de literacia e de amor pela leitura. Amor esse que é, afinal, um bocado o que está por trás deste blog.
Este post pode parecer um pouco rebuscado, mas dois motivos fizeram com que decidisse publicá-lo: as ligações que se podem estabelecer entre este lugar e a literatura e, bem, o blog ser meu e eu fazer o que quiser.
Já tendo ido duas vezes ao Château de Versailles, achei que era a altura de diversificar os meus destinos e comecei a minha tour de palácios ao visitar o Château de Vaux-le-Vicomte. Este palácio fica um bocado no meio do nada: tem de se apanhar um comboio na Gare de l'Est (o transilien linha P em direcção a Provins) e, posteriormente, apanhar o ChâteauBus, um shuttle que está combinado com as horas do comboio. Ou seja: é preciso planear, mas é fácil.
Sente-se a magnificência do espaço logo que se vê o portão: mesmo não sendo visível o palácio (coberto por outros edifícios), sente-se a grandiosidade e tudo o que foi investido na sua construção e planeamento. E aqui se começa a perceber um pouco dos acontecimentos históricos: este Château foi concebido como residência de Nicolas Fouquet.
E importa perceber quem foi Nicolas Fouquet.
Le 17 août, à 6 heures du soir, Fouquet était le roi de France; à 2 heures du matin, il n’était plus rien.
-- Voltaire
Ministro das finanças de Louix XIV, Nicolas Fouquet é retratado como tendo sido um homem ambicioso. Quando o Cardeal Mazarin (sucessor de Richelieu) faleceu, Fouquet ambicionava ser ministro de Estado. O seu Château era um lugar de festas, arte e literatura: peças de Molière eram encenadas e estreadas, e La Fontaine era amigo próximo de Fouquet. A 17 de Agosto de 1661, Fouquet deu uma festa em honra do Rei, na qual estreou a peça Les Fâcheux, de Molière.
La Fontaine escreveu posteriormente sobre esta festa que ficou para a história, no seu poema Élegie aux Nymphes de Vaux:
Inspirez à Louis cette même douceur:
La plus belle victoire est de vaincre son coeur.
Oronte est à présent un objet de clémence;
S'il a cru les conseils d'une aveugle puissance,
Il est assez puni par son sort rigoureux;
Et c'est être innocent que d'être malheureux.
-- La Fontaine
A festa foi sumptuosa; e Jean-Baptiste Colbert convenceu o rei que algo estava errado: como é que o ministro das finanças podia ter um palácio tão grandioso? Só podia estar a desviar dinheiro... Louis XIV contratou André Le Nôtre, o arquitecto paisagista de Vaux-le-Vicomte, para recuperar e planear os terrenos da sua casa de férias/caça (o conhecido Château de Versailles). Ou seja: os jardins de Versailles são inspirados nestes.
E, meus amigos, a inveja é lixada. Nicolas Fouquet foi condenado ao exílio à pala de mandar construir uma casa, mas Louis XIV condenou-o à prisão perpétua porque achou que o exílio seria pouco (e foi Colbert quem sucedeu a Mazarin e a Fouquet).
Portanto, temos Nicolas Fouquet, amigo de La Fontaine - mas também temos Nicolas Fouquet, a personagem associada ao Homem da Máscara de Ferro, cuja identidade foi alvo de suposições por escritores como Voltaire, Marcel Pagnol e Alexandre Dumas. O filme de 1998 baseado na obra de Alexandre Dumas, aliás, foi filmado aqui. Neste livro, que nunca li (acabei praticamente agora, aliás, de ler Les Trois Mousquetaires - e este o Homem da Máscara de Ferro é o terceiro da trilogia de D'Artagnan), segundo percebo, Fouquet conspirava para colocar o misterioso indivíduo, alegado irmão gémeo de Louis XIV, no poder; na vida real, Eustache Dauger (a identidade recentemente atribuída ao Homem da Máscara de Ferro), tendo estado preso, como Fouquet, em Pinerol, serviu como seu lacaio.
Tendo uma vaga noção destes factos, confesso que entrei na loja com vontade de comprar o último volume da trilogia D'Artagnan; podia sempre comprar o Ving Ans Aprés num outro local, certo? No entanto, o único livro disponível do autor era aquele que eu já tinha lido - e havia várias edições das Fábulas de La Fontaine, em capa dura, mole, ilustradas, sem ilustrações... optei por trazer esta, por financiar um projecto de literacia e de amor pela leitura. Amor esse que é, afinal, um bocado o que está por trás deste blog.
[no advento do photofukkit, Nicholas Fouquet.]
ResponderEliminarInteressante!, não conhecia.
hahaha photofukkit! ganda flashback que me deu, etc
Eliminarinteressante sim! recomendo. sítio que destruiu a vida de um tipo, porque o exmo. Rei Louis XIV teve dor de cotovelo.
Excelente excelente post :p muito interessante, c'est magnifique
ResponderEliminarObrigado pelo Vingt ans après :p estou ansioso por o ler e depois o Homem da Máscara de Ferro :p
EliminarBelas fotos, parece ser um sítio bastante bonito mesmo, só podia tendo em conta a sua história
Muito muito obrigada :$ de nada, meu leitor :p temos de lá ir um dia, é muito bonito sim! não é enorme, mas vale imenso a pena a visita, especialmente pela história!
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