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Fatale (vols 1-5)

Comecei Janeiro a ler esta série que prometia ser um portento.



Não tendo lido a sinopse, e por ter já lido alguma da obra da dupla Brubaker e Phillips, achei que esta série seria um "simples" crime noir. Estava profundamente enganada: Fatale entra no campo do noir e do crime, sim, mas também do horror, do paranormal, do mistério.


O início é aparentemente normal, para o género noir: o ano é 2012, e Nicholas Nash, no funeral do seu padrinho, Dominic, encontra uma mulher misteriosa e atraente, que nunca conhecera (não obstante a proximidade com o padrinho) e que rapidamente se apresenta como Josephine. Fatale deve-lhe o seu nome; Josephine é uma óbvia femme fatale (só que talvez mais literalmente doq ue gostaríamos). O papel de Josephine nesta história vem mostrar todas as piores tentações do Homem (e dos homens que a rodeiam), tornando-os obsessivos, cobiçosos, corruptos.


Josephine, do alto da sua beleza e juventude, fora amante do padrinho de Nick... nos anos 1950. A vontade de continuar a conhecer Josephine levou-me a pegar muito rapidamente no segundo volume (e nos outros), pelo que este post englobará toda a série. O que se torna aqui particularmente interessante é que os volumes oscilam entre um período no passado e o presente, como os 1970s ou os 1990s, à medida que revelam mais informações sobre Josephine e sobre o mistério que a rodeia. O primeiro volume levanta imensas questões: será Josephine imortal? Que culto Lovecraftiano a persegue, e porquê?


Enquanto Nicholas Nash tenta perceber o que raio se está a passar na sua vida, que claramente descambou (e continua a piorar) desde o momento em que conheceu Josephine, vemos Josephine ao longo dos tempos, com actores de filmes B em Hollywood, a infiltrar-se em cultos, a tentar manter-se distante do resto do mundo, a deixar atrás de si um trilho de destruição, do qual sabe ser culpada. Percebemos que ela também sofre.


E, ao mesmo tempo, por mais que saibamos sobre como esta mulher passou a sua vida, nunca percebemos a sua verdadeira identidade, o que lhe deu os poderes que possui, como é que tudo aconteceu e do que está, ao certo, a fugir. No fundo, sentimo-nos tão impotentes e confusos quanto Nicholas, e isso funciona. Quem é Josephine? O que é Josephine?


O terceiro volume acaba por pecar um pouco por fugir à história principal, mas, apesar da falta de avanço na narrativa, ganha por desvendar mais da mitologia deste mundo e prende precisamente por isso. Josephine não será a primeira mulher com estas capacidades - conhecemos Mathilda e Bonnie (ou será que estas também são todas Josephine? Nunca fica claro, mas não importa), ao mesmo tempo que não continuamos sem saber ao certo o que se passa, apenas que o mundo pode não ser aquilo que pensamos que é, e a verdade é algo mais difícil ainda de compreender.


Embora não costume adorar este tipo de volumes, que contêm narrativas não directamente relacionadas com a narrativa principal, gostei como Mathilda e Bonnie trouxeram uma nova perspectiva à série, mesmo levantando novas questões, pois o mistério adensa.


(esta é uma mescla de review da obra completa e dos vários volumes, mas achei que era esquisito fazer review sequencial dos volumes, um a um)


Nos 1990s, em Seattle e não na California, Josephine sofre de perda de memória e acaba por encontrar uma banda rock promissora mas sem sucesso e com vários outros problemas: um songwriter que já não escreve canções, um membro que decidiu focar-se na escola, uma casa que não conseguem pagar. E é claro que Josephine só vem tornar os problemas piores, mesmo quando não se recorda de tudo o que a atormenta. O ambiente de Seattle adequa-se maravilhosamente à história, e o quarto volume avança imenso em direcção ao final.


O último volume não nos traz flashbacks de tempos passados, e termina a história com Nash e Josephine finalmente reunidos, ele completamente encantado por ela, como seria de esperar, como tantos homens até então. E, como tal, aceita ajudá-la a pôr fim a tudo, incondicionalmente.


O final não é totalmente satisfatório: conclui com sucesso a história, mas não responde a todas as questões que se foram levantando ao longo da série e não explica exactamente todo o sucedido (apesar de dar alguma backstory do grande vilão). Talvez por, mais que um mistério noir, ser uma história de horror, seria impossível tudo ser totalmente explicado. Não completamente, ou não da maneira como eu gostaria.


Talvez os mistérios devam permanecer como tal, ou a sua resolução deva ficar ao critério do leitor. E talvez eu não atinja, porque novas questões surgiram com este final...


Fatale é uma leitura divertida, e prende, com vários pontos altos. Não tem um final feliz, que é precisamente o que fazia sentido, e Josephine, uma personagem altamente complexa, acaba por se responsabilizar pelas suas acções, apesar de ter usado vários homens que se envolveram com ela. Há mistério, horror, oculto, violência, sexo, e muito, muito entretenimento. Apesar de perturbador.


A arte de Brubaker: sempre, sempre. Os homicídios são horrendos e conseguem chocar, Josephine é tão bonita e realista qb que sobressai sempre, em todas as cenas, ao longo dos anos. As cidades são escuras, sujas, o horror é quase real.


4,5/5 à série inteira

Podem comprar esta edição directamente à editora.



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