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Heartbreak Hotel

Recebi Heartbreak Hotel, de Micol Arianna Beltramini e ilustrado por Agnese Innocente, neste Natal, e li de imediato.



Heartbreak Hotel pode começar por parecer uma história young adult comum, mais uma de muitas novelas gráficas com temáticas adolescentes e LGBT que têm (e bem!) surgido ultimamente, mas destacou-se rapidamente para mim - a história é muito mais complexa do que deixa entender ao início, sendo também adequada para leitores mais velhos (isto vindo de mim, que adoro literatura infantil e não costumo ler young adult).

Começamos por conhecer Maya, que era amiga de Laura desde pequena, e nutre por ela uma paixão secreta. Laura faz 16 anos, tem agora um namorado, e convida Maya para a festa. Maya declara-se a Laura, e é a última vez que a vê sorrir.

 

Maya acorda no Heartbreak Hotel, e tem um maneki neko (eu, na ausência de um, fotografei o livro com a Mimi), e percebe que há lá três outros hóspedes, todos eles com uma história de amor que lhes causou um amor partido - queer ou não. Vamos conhecendo os outros protagonistas das outras histórias de amor, e através destas quatro histórias, o leitor reflecte na raiva, nos traumas e, acima de tudo, na tristeza que muitas vezes daí vem. Todos eles estão hospedados no Heartbreak Hotel enquanto processam a sua dor, encontrando formas de lidar com a mesma, e chegou finalmente o momento de fazerem o luto e fazerem check-out. Depois de "curados", voltarão ao mundo real, sem que a sua ausência tenha sido percebida pelos demais.

A forma como os personagens se relacionam entre si leva-os a crescer e a melhor processar os seus sentimentos, abrindo-se e dando lugar às suas fragilidades. Acredito que muitos leitores, independentemente das suas experiências, conseguirão relacionar-se com alguma parte deste livro.

Mesmo os personagens sendo adolescentes, as suas emoções não são menos importantes, fortes ou reais. Há também muitas referências a Alice no País das Maravilhas (o coelho! Os naipes!), ao Lago dos Cisnes (não só pela presença de ballet mas a história da própria personagem), além das músicas de Billie Eilish (eu sou mais Sabrina Carpenter), e tenho a certeza que há imensas referências de cultura popular que me escaparam.


O final é muito satisfatório, mostrando como a dor é capaz de juntar as pessoas. Adoraria, em vários momentos da minha vida, ter podido parar o tempo para poder reflectir e trabalhar em mim mesma e nos meus sentimentos e emoções.

O estilo "fofinho" de Agnese Innocente, bem como as cores pastel, enganam um pouco, dando inicialmente a entender que o livro seria banal, mas é desenvolvido de forma profunda e tem momentos inesperados e comoventes. Acho que as ilustrações combinam muito bem com a narrativa, que trata o amor, a dor e o luto com delicadeza, e terei vontade de ler mais obras da dupla no futuro. 

Tradução de Luís Santos 

5/5

Podem comprar esta edição na wook.




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