Si tu passes la rivière, de Geneviève Damas, foi o primeiro livro que recebi com a La Kube e um dos meus favoritos de 2023 (não, não me enganei a escrever o ano).
Como poderão saber, o meu pedido na La Kube é de livros francófonos de leitura fácil. Este livro foi-me recomendado assim pela livreira que mo escolheu:
Bonjour Bárbara. J'ai choisi pour vous ce roman riche d'émotions et très bien écrit, dans lequel le narrateur raconte son enfance, son apprentissage, sa sensibilité étonnante et les secrets de sa famille. Un récit beau et lumineux qui, je l'espère, vous plaira :)
François Sorrente vive numa zona rural de França ou talvez da Bélgica (a autora é belga, o lugar é indefinido). Sabemos que é novo, é analfabeto, cuida dos porcos, vive com o pai e os irmãos na quinta onde cresceu e da qual raramente saiu e, desde sempre, desde que era uma criança muito pequena, o pai proibiu-o de atravessar o rio ao lado da quinta, em cuja outra margem há uma outra quinta, queimada e desabitada. François tem como confidentes os seus porcos, Oscar e Hyménée, e não consegue encontrar qualquer ligação, física ou emocional, aos seus quatro irmãos mais velhos.
François questiona-se o porquê da proibição-ameaça de atravessar o rio, o que aconteceu à mãe, da qual não guarda memórias, ao irmão Jean-Paul, e acima de tudo o que aconteceu à sua irmã (muito) mais velha Maryse, única figura maternal e apoio que teve na família, que decidiu atravessar o rio e deixá-lo sozinho.
Em busca de uma resposta para todas as perguntas que começam a pesar, e que surgem quase por acidente (excepto a ausência da irmã, que o assola desde sempre), e após alguns incidentes com um dos irmãos, conhece algumas pessoas da aldeia, da qual sempre vivera afastado, nomeadamente o padre, que o ensina a ler, levando-o a descobrir o poder das palavras e da palavra escrita.
François procura, assim, a sua identidade, entre a perda da mãe, de Maryse e do irmão Jean-Paul, e o leitor também vai descobrindo que François tem 16, 17 anos, não a tenra idade que aparenta ter devido à sua inocência e falta de questionamento do que o rodeia; no meio do isolamento e do analfabetismo, e por se crer idiota (algo que repete frequentemente), acaba por não ver qualquer maldade, por dar todo o seu afecto aos porcos, seus únicos amigos, mas é também nesta inocência e gentileza que o destaca da sua família.
Parte coming of age, parte drama familiar, este livro é de leitura simples, porque o próprio narrador, François, se descreve como sendo "simples", algo burro, equiparando-se aos porcos de que cuida. O próprio livro tem uma narrativa directa, que pode parecer banal, mas é esta simplicidade que acaba por dar força à história. É difícil falar desta obra sem revelar demais; infelizmente, não se encontra traduzida para português, mas talvez um dia.
5/5
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