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Normal People

Normal People, de Sally Rooney, foi o primeiro livro do FOMO Challenge 2025, um desafio de leitura trazido até vós por mim, e partilhado em podcast com o John (companheiro de podcasts anteriores).



A decisão que tomei foi de publicar a opinião no mesmo dia em que sairá o episódio, e os episódios sairão sempre dia 1. Este mês tive sorte, porque calhou Sábado!

Foi-me dito que este livro era uma óptima primeira escolha para o clube, por alguém que confessou ter lido o livro precisamente por peer pressure. Esta não foi a minha primeira experiência a ler Sally Rooney - podem encontrar aqui a minha opinião de Mr Salary, e li há uns meses Conversations with Friends, cuja opinião prometo publicar eventualmente, dado que ainda tenho muito blog por actualizar.

Normal People é sobre Marianne e Connell, que andam na mesma escola mas são de mundos bastante diferentes: a mãe de Connell limpa a casa da família de Marianne. Ele é de classe baixa mas popular, ela de classe alta mas ninguém na escola fala com ela. Após uma breve troca de palavras num dos vários dias em que Connell vai buscar a mãe à casa de Marianne, começam uma relação sexualmente muito intensa, porém secreta - em público, ele não admite sequer que a conhece fora da escola, porque é gajo e ela não é fixe, suponho, mas enquanto pessoa que, com 13 anos, tinha colegas que só falavam comigo fora da escola, acho que compreendo.

Marianne had the sense that her real life was happening somewhere very far away, happening without her, and she didn't know if she would ever find out where it was or become part of it.

A relação secreta parece funcionar para ambos, até que ele nem sequer considera a hipótese de a convidar para o Debs (baile de finalistas) e convida outra. Face a isto, Marianne desiste da escola (!!) mas acabam ambos por ir para Trinity, faculdade para onde ela sempre planeara ir e onde o influenciara a candidatar-se. Aqui, os papéis revertem-se, ela é fixe, ele não se dá com ninguém.

Idealmente, a história tomaria um novo rumo - eram putos, aquilo passa-lhes, mas não, descobrem que se amam perdidamente e voltam a ter uma relação pouco sólida e sem sentido, a dormir juntos mas sem comunicar ou se respeitarem mutuamente.

Os anos passam, a Marianne envolve-se com psicopatas a quem diz que gosta de BDSM possivelmente porque procura uma personalidade (ou porque o público-alvo deste livro é o mesmo do 50 Shades), e o Connell decide, do nada, que a popularidade dele na escola foi sempre uma fachada e torna-se depressivo.

Inicialmente, sentia alguma empatia pelos personagens, mas perdi-a rapidamente; supostamente o livro toca em como a passagem do tempo afectaria Marianne e Connell, e a sua relação, mas eles não crescem nem mudam, pelo que não em parece um ponto bem conseguido. E o pior é que Sally Rooney tenta activamente convencer o leitor de que esta relação, ou a ligação entre ambos, pelo menos, seria especial:

Most people go through their whole lives, without ever really feeling that close with anyone.

O livro tem a seu favor o facto de ser de simples leitura, mas o estilo de escrita irritou-me - não tanto a falta de pontuação adequada nos diálogos (que me relembra um pouco do estilo tumblr pelo qual a autora, também ela millenial, terá passado), mas os saltos temporais desorganizadíssimos, do género "Junho. Na Páscoa...": por que não narrar Abril?

O livro será, supostamente, sobre pessoas normais, mas mesmo após Conversations with Friends, não esperava que fosse sobre pessoas tão aborrecidas. Mesmo quando é tão hipersexualizado (era suposto isso ser interessante, presumo).

Há imensas narrativas que não o chegam a ser - a violência doméstica aleatória, a procura da identidade por cumprir, a questão de classe que não parece ter particular relevância para o desenrolar dos eventos (mas Sally Rooney é marxista), a péssima comunicação que supostamente mudaria o rumo da vida deles, mas não se afastam um do outro portanto não muda nada. Eles dizem frequentemente um ao outro que se amam, têm sexo frequente, e não passa disto. A relação deles nunca me convenceu a nenhum nível.

It's funny the decisions you make because you like someone, he says, and then your whole life is different. I think we're at that weird age where life can change a lot from small decisions.

Os personagens secundários são igualmente desinteressantes, e a Peggy está mais investida nos namorados da Marianne que a própria Marianne, o que me assusta um pouco. Talvez lesse um livro sobre Peggy, mas o filme Single White Female deve cumprir a parte.

Não entendo se Normal People é um chick-lit com melhor marketing ou assim, com a rapariga pouco popular a ter um romance (ainda que secreto) com o rapaz popular e bonito da escola, a posteriormente tornar-se popular e bonita e desejável e alegadamente interessante (e ele peaked in highschool mas ainda gosta dela, claro).

Por que é que o irmão de Marianne a odiava? Não sei, mas também não consegui gostar dela em todo o livro.

Podem ouvir a minha conversa com o John no Spotify:


3/5

Podem comprar esta edição na wook, ou em português, na wook.


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